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Meninas brincam de rosa, meninos brincam de azul: representações sociais do brincar e do brinquedo na publicidade

 

Cenas de dois comerciais de brinquedo - um de boneca, voltado para meninas, e um de armas, direcionados para meninos

Meninas brincam de rosa, meninos brincam de azul: representações sociais do brincar e do brinquedo na publicidade, artigo de Ricardo Santos David

Ponto relevante a ser discutido é que, na lógica de uma sociedade capitalista, a criança cresce sob a influência de um contexto que está preocupado com o desenvolvimento de suas funções enquanto consumidora

MENINAS BRINCAM DE ROSA, MENINOS BRINCAM DE AZUL: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO BRINCAR E DO BRINQUEDO NA PUBLICIDADE

Ricardo Santos David

Brincar é muito do que as crianças fazem de mais sério. A afirmação do autor Manuel Sarmento (2004), dedicado ao estudo das culturas infantis, evidencia o papel crucial dessa atividade para a infância tanto em termos desenvolvimentais como também uma das principais formas de mediação da criança com a realidade social (LINN, 2006;SALES;LADIM, 2014). São nos momentos aparentemente despretensiosos destinados às brincadeiras que as crianças apreendem valores, projetam-se nas atividades adultas, ensaiam futuros papeis, desenvolvem motivações, habilidades e atitudes e constroem suas próprias interpretações a respeito da macrocultura (LINN, 2006; PEREIRA; PEDROSA, 2016).

Em estreita relação com o brincar, encontra-se o brinquedo. Entendido como um dos suportes para a brincadeira, o brinquedo transmite mensagens às crianças que dizem muito a respeito dos valores, representações e ideologias de uma determinada sociedade (KROPESNICKI; PERURENA, 2017). Portanto, no contexto contemporâneo, as significativas transformações que vem ocorrendo tanto na estruturação do tempo como nos relacionamentos dentro da família, da escola e no espaço público como um todo, impactam de muitas maneiras em nossas concepções acerca do brincar e do brinquedo (SARMENTO,2004).

Uma dessas mudanças sociais está na forma como se configura a infância. Qual o “lugar” da infância hoje? Ao pensar em crianças e, especialmente em suas brincadeiras e brinquedos, parece cada vez mais distante que venha à mente as praças, as ruas ou as quadras de futebol. A urbanização, os crescentes índices de violência e a falta de segurança são alguns dos fatores que ajudam a explicar porque esse lugar da infância tem se deslocado cada vez mais para o espaço interno das casas, dos shoppings centers ou dos ambientes institucionalizados de ocupação do tempo (BUCKINGHAM, 2007). Uma importante consequência desse processo é a forte presença da mídia no cotidiano infantil; crianças que nasceram em meio à tablets, celulares, TVs, notebooks, computadores etc., que acabam por assumir um papel importante na construção das suas representações de mundo e de seus valores (SAMPAIO, 2012).

Outro ponto relevante a ser discutido é que, na lógica de uma sociedade capitalista, a criança cresce sob a influência de um contexto que está preocupado com o desenvolvimento de suas funções enquanto consumidora (VELOSO et al.,2010).

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Ricardo Santos David – Pós-doutorado pela Universidade de São Paulo, doutorado em Tradução, pela universidade de São Paulo, mestrado em Linguística e Semiótica, mestrado em Estudos linguísticos e literários pela universidade de São Paulo, especialização em linguística aplicada, docência do ensino superior, graduação em Letras: ênfase em linguística, graduação em Pedagogia, pela Universidade de São Paulo

Nota da Redação: Para acessar o artigo Meninas brincam de rosa, meninos brincam de azul: representações sociais do brincar e do brinquedo na publicidade, artigo de Ricardo Santos David, no formato PDF, clique no link Representações sociais do brincar e do brinquedo na publicidade1

Referências

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/05/2022

 

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