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Artigo

Alta do preço dos alimentos no mundo em 2025

 

A combinação entre crise climática, conflitos armados, atraso na transição demográfica e retração da ajuda internacional representa um sério obstáculo à ambiciosa meta da ONU de erradicar a fome até 2030

Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O Índice de Preços de Alimentos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) atingiu a média de 130,1 pontos em agosto de 2025, praticamente inalterado em relação ao nível revisado de julho de 130,0 pontos. As quedas nos índices de preços de cereais e laticínios foram compensadas por aumentos nos índices de carne, açúcar e óleos vegetais.

No geral, o IPFA ficou 8,4 pontos (6,9%) acima do registrado em agosto de 2024, mas permaneceu 30,1 pontos (18,8%) abaixo do pico atingido em março de 2022 (gráfico abaixo painel da esquerda).

O gráfico do painel da direita mostra a evolução do preço real dos alimentos da FAO entre 1961 e 2025. A média dos preços reais dos alimentos na década de 1960 foi de 104,7 pontos e subiu para 110,2 pontos na década de 1970. O recorde de preços de 1974, de 137,4 pontos, ocorreu em decorrência da Guerra do Yom Kippur e do consequente aumento do preço dos combustíveis fósseis.

Na década de 1980 a média decenal de preços caiu para 80,7 pontos (abaixo da média de 2014-16 = 100). Com o fim da Guerra Fria e o avanço dos acordos internacionais da governança global, o preço dos alimentos atingiu a média decenal de 77 pontos na década de 1990, o menor valor da série histórica.

Contudo, o preço dos alimentos voltou a aumentar no século XXI. A média decenal do preço real dos alimentos foi de 86,4 pontos na primeira década dos anos 2000 e subiu ainda mais para 102,9 pontos na segunda década do atual século. Até 2020, o recorde inconteste do preço dos alimentos permanecia na década de 1970.

No entanto, a combinação dos efeitos da disrupção das cadeias produtivas ocorridas com o espalhamento da pandemia da covid-19 e com a invasão da Ucrânia pela Rússia fez o preço dos alimentos bater todos os recordes dos últimos 100 anos e atingiu 141,4 pontos em 2021. Na média quinquenal (2021-25) o índice de preços ficou em 122 pontos, bem acima do valor médio da década de 1970. Batendo todos os recordes históricos.

FAO Food Price Index

A meta 2 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) trata da “Fome Zero e Agricultura Sustentável” e propõe: “Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável”. Todavia, existe uma pedra no meio do caminho, pois há cerca de 733 milhões de pessoas que passaram fome em 2023, o equivalente a uma em cada 11 pessoas no mundo e uma em cada cinco na África, de acordo com o relatório o Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo (SOFI) divulgado por cinco agências especializadas das Nações Unidas em 2024.

O relatório mostra que o mundo retrocedeu 15 anos, apresentando níveis de desnutrição comparáveis ​​aos de 2008-2009. Em 2023, cerca de 2,33 bilhões de indivíduos no mundo enfrentaram insegurança alimentar moderada ou grave, um número que não mudou significativamente desde o aumento brusco em 2020, em meio à pandemia da Covid-19. A população mundial deve aumentar em cerca de 1 bilhão de habitantes até 2040, enquanto os desastres ambientais devem se agravar.

O Relatório Global sobre Crises Alimentares, divulgado dia 16 de maio de 2025 por diversas agências da ONU, mostra que a crise alimentar atual piorou pelo sexto ano seguido em 53 países e territórios frágeis. Apenas em 2024, 295 milhões de pessoas, em 53 países e territórios analisados, enfrentaram fome aguda, quase 14 milhões a mais em comparação com 2023.

Infelizmente, a crise alimentar deve se agravar em 2025. A fome na Faixa de Gaza é um evento dramático que tem alarmado o mundo. Mas a fome não se restringe ao território de Gaza, pois dezenas de milhares de famílias que se alimentavam com o apoio de ajuda internacional, encontram-se agora em situação de abandono.

O desmonte de agências especializadas da ONU promovido pelo governo Donald Trump, nos Estados Unidos, somado ao corte de 90% nos contratos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e à redução de US$ 60 bilhões na assistência global norte-americana, tem provocado efeitos devastadores em diversos países da África Subsaariana. A região também sofreu os impactos da diminuição de recursos por parte da França e do Reino Unido, especialmente em suas ex-colônias.

Nesse contexto, a combinação entre crise climática, conflitos armados, atraso na transição demográfica e retração da ajuda internacional representa um sério obstáculo à ambiciosa meta da ONU de erradicar a fome até 2030. As perspectivas atuais são pouco animadoras, particularmente para os países de baixa renda. Um mundo livre da fome continua uma utopia distante.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. O Índice de Preço dos Alimentos bate recorde histórico em fevereiro de 2022, Ecodebate, 07/03/2022 https://www.ecodebate.com.br/2022/03/07/indice-de-preco-dos-alimentos-bate-recorde-historico-em-fevereiro-de-2022/

ALVES, JED. O Preço dos Alimentos voltou ao nível pré Guerra da Ucrânia, mas continua alto, Ecodebate, 07/03/2022 https://www.ecodebate.com.br/2022/09/05/o-preco-dos-alimentos-voltou-ao-nivel-pre-guerra-da-ucrania-mas-continua-alto/

ALVES, A temporária queda do preço dos alimentos no mundo. Ecodebate, 08/05/2015

http://www.ecodebate.com.br/2015/05/08/a-temporaria-queda-do-preco-dos-alimentos-no-mundo-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

ALVES, JED. Novas ameaças à segurança alimentar e os rios que não chegam no mar, Ecodebate, 28/12/2011 http://www.ecodebate.com.br/2011/12/28/novas-ameacas-a-seguranca-alimentar-e-os-rios-que-nao-chegam-no-mar-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

 

Citação
EcoDebate, . (2025). Alta do preço dos alimentos no mundo em 2025. EcoDebate. https://www.ecodebate.com.br/2025/09/08/alta-do-preco-dos-alimentos-no-mundo-em-2025/ (Acessado em setembro 8, 2025 at 16:06)

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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