Estudo revela a tragédia humanitária da mineração ilegal na Amazônia brasileira

Pesquisa da REPAM-Brasil em parceria com o Instituto Conviva expõe o impacto devastador da mineração ilegal na Amazônia. Entre 2022 e 2024, foram identificados 309 casos de tráfico humano, sendo 57% mulheres migrantes e 78% brasileiras. O estudo também revela exploração sexual, trabalho análogo ao escravo e violência contra povos indígenas.
Por Camila Del Nero
Um retrato perturbador da devastação causada pela mineração ilegal na Amazônia acaba de ser revelado no estudo “Impactos da Mineração Ilegal na Amazônia”, desenvolvido pela REPAM-Brasil em parceria com o Instituto Conviva.
A pesquisa mostra que o garimpo ilegal vai muito além da destruição ambiental: ele está no centro de uma cadeia de violações de direitos humanos, exploração sexual, tráfico de pessoas, trabalho análogo ao escravo e violência sistemática contra povos indígenas e trabalhadores migrantes.
O estudo parte de um marco trágico da história recente brasileira: o massacre de Haximu, reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal como crime de genocídio contra o povo Yanomami. O caso, ocorrido em 1993, resultou na morte brutal de pelo menos 16 pessoas, mas sobreviventes afirmam que o número pode chegar a 70, evidenciando a gravidade da violência contra povos originários.
Com base em dados coletados entre 2022 e 2024 por meio de entrevistas, grupos focais e análises institucionais, a pesquisa identificou 309 casos de pessoas em situação de tráfico humano, sendo 57% mulheres migrantes e 78% de brasileiras. O tráfico de mulheres para fins de exploração sexual se revela uma das faces mais cruéis dessa realidade, sustentando um mercado altamente lucrativo em meio à ausência do Estado.
A pesquisa também revela o cotidiano dos “proletários da lama” — trabalhadores do garimpo em condições precárias, descartáveis, sem direitos trabalhistas e frequentemente submetidos a jornadas exaustivas, riscos de morte e doenças graves. Em muitos casos, seus corpos sequer retornam às famílias, sendo abandonados à margem das estradas ou ocultados em rios e clareiras da floresta.
Além do impacto humano, o estudo detalha o uso de helicópteros, dragas e outros meios para manter uma economia subterrânea e violenta, movida pela ganância e pela impunidade. Em períodos mais intensos, o custo para entrar em áreas de garimpo podia ultrapassar R$ 8 mil por pessoa, revelando uma estrutura logística sofisticada que se sustenta à margem da lei.
A REPAM-Brasil destaca que os danos da mineração ilegal afetam não só os povos da floresta, mas toda a sociedade. A contaminação por mercúrio e outros metais pesados, a degradação dos rios e a violência nos territórios refletem diretamente na qualidade do ar, da água e da vida nas cidades.
“Não estamos diante apenas de uma questão ambiental. A mineração ilegal na Amazônia é um problema civilizatório, que coloca em risco os direitos fundamentais de milhares de pessoas e compromete o futuro da maior floresta tropical do mundo”, afirma professora Márcia Oliveira, da REPAM-Brasil.
O estudo completo está disponível para download no site da REPAM-Brasil. A organização espera que os dados sensibilizem autoridades e sociedade civil para a urgência de políticas públicas que protejam os territórios, as vidas e a dignidade das populações amazônicas.
Confira o estudo aqui: http://repam.org.br/wp-content/uploads/2025/06/Livro-Mapeamento-dos-impactos-mineracao-ilegal-na-Amazonia-FINAL-DIGITAL-.pdf
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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