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Carnaval, artigo de Montserrat Martins

Não existe “o carnaval”, existem mil carnavais diferentes, dependendo do que isso representa para cada pessoa.

Gente solteira querendo pegação, gente casada lembrando do passado, tem quem goste de samba enredo, de ver as fantasias e coreografias, o carnaval como um show na TV – e tem quem veja o carnaval só como um grande feriadão.

Nas redes sociais tem gente questionando prefeituras que apoiam o carnaval, visto por elas como uma futilidade, tem quem diga que essas verbas deviam ir para educação e cultura, por exemplo. Essa é uma questão interessante, pois afinal toda essa preparação de músicas, danças, fantasias e alegorias, não seria considerada uma forma de cultura? Quem não gosta de desfiles de carnaval não vê o lado profissional e cultural, que mobiliza tanta gente não só nessa época, mas o ano inteiro.

Entrevistei uma passista de escola de samba (quando estava escrevendo o livro “Em busca da Alma do Brasil”) e ela descreveu verdadeiras “torturas” a que eram submetidas o ano inteiro, para serem aprovadas para o desfile oficial no Rio de Janeiro. As exigências em todos os detalhes, as exigências desde manter a forma até o desempenho rigorosamente perfeito nas danças. Para quem é ou sonha em ser uma estrela nessa festa, o caminho é longo e complicado. A competição interna também é estressante, como ouvi em relatos de rainha de carnaval, nessa mesma época.

O mundo do carnaval profissional, enfim, é um mundo próprio, tão específico em seus conhecimentos quanto o dos “nerds da T.I.” ou o dos fãs do “Star Wars” que tem festas próprias, ou dos fãs de animes japoneses, ou dos encontros de jogadores de videogames. E qualquer um desses assuntos, por mais que estejam ligados a formas de lazer, também são formas próprias de cultura.

Quando a gente diz que algo é fútil, o que a gente está dizendo na verdade é que não gosta daquilo, não se identifica. Ou então que a gente não considera cultura o que envolver alguma forma de lazer. Mas alguém conseguiria passar o ano inteiro só trabalhando, sem relaxar nunca, sem ter momentos de lazer? Para a própria saúde, física e mental, lazer também é um assunto sério.

De todos exemplos citados, o carnaval é o que sofre os maiores preconceitos. Uma possível causa disso é sua origem popular, muitas das pessoas envolvidas moram nas periferias, em condições mais humildes. Luiz Fernando Veríssimo escreveu uma crônica ironizando isso, no qual uma patroa pedia para a empregada uma chance de desfilar na escola dela. O Carnaval é um mundo à parte.

Montserrat Martins é Psiquiatra.

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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