A população de Bangladesh de 1950 a 2100
A população de Bangladesh de 1950 a 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
Bangladesh, assim como vários outros países, tem dois grandes desafios: um social e outro ecológico. O país precisa elevar o padrão de vida da população, mas não pode deixar de lado os desafios ambientais
Bangladesh (etimologicamente quer dizer a nação Bengali) é um país do sul asiático, rodeado quase completamente pela Índia, exceto uma pequena fronteira terrestre com Myanmar e, ao sul, é banhado pelas águas do golfo de Bengala, no oceano Índico. Bangladesh fazia parte, junto com o Paquistão, da grande civilização da Índia. Em 1950 a população dos 3 países era de 434 milhões de habitantes. Em 2022, Bangladesh com 171,2 milhões, Paquistão com 235,8 milhões e a Índia com 1,42 bilhão, tinham em conjunto 1,82 bilhão de habitantes, um múltiplo de 4,2 vezes em relação à 1950.
A separação ocorreu em 14 de agosto de 1947, quando a Índia conseguiu sua independência do domínio britânico, sendo que as zonas de maioria muçulmana se separam para formar um novo país com duas áreas separadas, o Paquistão Ocidental e Oriental. De 1947 a 1971 Bangladesh (parte oriental) e Paquistão (parte ocidental) faziam parte de um só país. Em 1971, depois de uma guerra civil de nove meses, Bangladesh se tornou um país independente. O país tem uma área de 148,5 mil km2, é a 8ª nação mais populosa do mundo e tem, em 2022, uma densidade demográfica extremamente elevada, de 1.315 habitantes por km2.
A população de Bangladesh era de 40 milhões de habitantes em 1950, chegou a 100 milhões em 1987, saltou para 171 milhões em 2022 e deve atingir o pico populacional em 2061, com 207 milhões. No restante do século deve apresentar decrescimento demográfico e, na hipótese média, deve atingir 176 milhões de habitantes em 2100. Na hipótese mais alta da projeção a população bangladense pode chegar a 290 milhões e na hipótese baixa pode ficar em 100 milhões de habitantes em 2100 (conforme mostra o gráfico abaixo, no painel da esquerda). A população de Bangladesh em idade ativa, de 15-59 anos, deu um salto de 20 milhões em meados do século passado para pouco mais de 120 milhões de pessoas atualmente e deve cair para 85 milhões de pessoas em 2100 (gráfico do painel da direita).
Os gráficos abaixo mostram a evolução das taxas de fecundidade e a expectativa de vida. Bangladesh tinha uma fecundidade média acima de 6 filhos por mulher em meados do século passado. Mas a taxa de fecundidade começou a cair rapidamente na década de 1980 e já está abaixo do nível de reposição atualmente e vai se manter abaixo de 2 filhos por mulher no restante do século XXI. (Gráfico abaixo do painel da esquerda).
A expectativa de vida ao nascer, que estava em torno de 40 anos em 1950, teve uma grande queda no início dos anos 1970 (durante a guerra pela independência), mas em seguida, chegou a mais de 70 anos em 2019, diminuiu ligeiramente durante a pandemia da covid-19, mas deve chegar a 85 anos em 2100 (como mostra o gráfico acima, painel da direita).
O aprofundamento da transição demográfica resulta na transformação da estrutura etária. Assim, a população de 0-14 anos já está caindo desde a primeira década do atual século e deve diminuir de 50 milhões para 25 milhões em 2100, como mostra o gráfico abaixo (painel da esquerda). Já o número de idosos (gráfico da direita) tem crescido e deve chegar em torno de 70 milhões em 2100.
A mudança da estrutura etária fica evidente nas pirâmides etárias de Bangladesh, conforme mostrado nos gráficos abaixo. A pirâmide etária de 1950 tinha o modelo clássico de estrutura rejuvenescida, mas já apresentou uma redução da base em 2022. A manutenção de uma taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição vai manter a tendência de estreitamento da base e de alargamento do topo da pirâmide etária. As áreas verdes e amarelas da pirâmide de 2100 correspondem aos valores das projeções acima e abaixo da hipótese média.
Bangladesh tem uma razão de dependência parecida com a do Brasil, pois atualmente já atingiu o menor valor e vai apresentar alta nas décadas seguintes, como mostra o gráfico abaixo. Existiam cerca de 100 pessoas consideradas dependentes até o final da década de 1980 para cada 100 pessoas em idade produtiva. Mas a razão caiu para quase 50 e vai subir no restante do século e voltar para o patamar de 100. O país ainda tem algum tempo para aproveitar o 1º bônus demográfico e buscar avançar na meta de redução da pobreza e no avanço do bem-estar da população.
Bangladesh tem apresentado um crescimento econômico acima da média mundial. O país tinha cerca de 0,3% do PIB global em 1980 e chegou a 0,8%, conforme mostra o gráfico abaixo (lado esquerdo). Como a população bangladense é cerca de 2,2% da população global, isto significa que a renda per capita é menor que a média mundial. A renda per capita de Bangladesh (em preços correntes em poder de paridade de compra) era de apenas US$ 511 em 1980 e nas décadas seguintes a renda cresceu e chegou a US$ 6,6 mil em 2022, conforme mostra o gráfico abaixo (lado direito). Bangladesh é um país de baixa renda e tem dificuldades para superar a “armadilha da pobreza”.
Bangladesh possui um déficit ambiental de longo prazo. Segundo o Instituto Global Footprint Network o país tinha, em 1971, uma Pegada Ecológica per capita de 0,49 hectares globais (gha) e uma Biocapacidade per capita de 0,33 gha. Portanto, o sinal já era vermelho 50 anos atrás. Adicionalmente, com o crescimento econômico a Pegada Ecológica per capita passou para 0,90 gha e a Biocapacidade per capita ficou em 0,41 gha em 2018. Assim, o déficit ecológico per capita passou para 0,49 gha, o que representa um déficit relativo de 120%, conforme mostra a figura abaixo.
Bangladesh, assim como vários outros países, tem dois grandes desafios: um social e outro ecológico. O país precisa elevar o padrão de vida da população, mas não pode deixar de lado os desafios ambientais e a necessidade de restauração ecológica. A maioria dos habitantes de Bangladesh está concentrada em uma parte do território pouco acima do nível do mar e as áreas agricultáveis mais férteis estão localizadas na planície formada pelo delta dos rios Ganges, Brahmaputra e Meghna, região que tem sido inundada pelas águas salgadas que avançam em decorrência da elevação do nível dos oceanos.
A capital Daca, que concentra em sua região metropolitana cerca de 20 milhões de habitantes, tem áreas com menos de 1 metro acima do nível do mar, embora esteja relativamente distante do litoral. Matéria da AP News (17/08/2022) mostra como a elevação do nível do mar está provocando a inundação de áreas de produção de alimentos em Bangladesh e forçando a migração dos habitantes.
Bangladesh é um país superpovoado (com 1.315 habitantes por km2) e enfrenta a ameaça de naufrágio das suas áreas costeiras e a salinização dos terrenos destinados à produção agrícola. Além disto o país assiste ao agravamento dos tufões e das inundações das áreas urbanas. Resolver os problemas sociais e ambientais é o desafio premente não só de Bangladesh, mas também de seus vizinhos do golfo de Bengala.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382
Referências:
ALVES, JED. A população de Bangladesh em 2100, Ecodebate, 14/09/2012
http://www.ecodebate.com.br/2012/09/14/a-populacao-de-bangladesh-em-2100-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. O naufrágio dos deltas devido às atividades humanas, Ecodebate, 21/05/2014
http://www.ecodebate.com.br/2014/05/21/o-naufragio-dos-deltas-devido-as-atividades-humanas-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
AL-EMRUN GARJON and JULHAS ALAM. Climate Migration: Flooding forces Bangladesh family to flee, AP News, 17/08/2022 https://apnews.com/article/floods-bangladesh-dhaka-jewel-420620595a7e5229ef539f6e27ea085f
in EcoDebate, ISSN 2446-9394
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