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Artigo

Planejamento urbano, uma negligência histórica

 

Enchente em Porto Alegre
Foto: Mauricio Tonetto / Secom / EBC

As inundações no Rio Grande do Sul causam impactos duradouros na economia e na infraestrutura, exigindo medidas de planejamento e investimento em saneamento básico, redes de esgoto, bombas e sistemas de drenagem para evitar futuras tragédias.

 

Artigo de Montserrat Martins

Por mais cruéis que tenham sido as perdas sofridas, elas não terminam quando baixarem as águas. Porque além das famílias desabrigadas também as empresas e os empregos foram atingidos e vamos sofrer uma recessão econômica, ou seja, a sensação de estarmos vivendo “como se fosse numa guerra” vai durar mais tempo. E para piorar, as previsões de novo risco de novos temporais em setembro, cuja dimensão ainda não temos como prever.

O que não costumamos pensar é que há países que vivem regularmente em condições adversas e aprenderam a conviver com isso, no Canadá por exemplo as temperaturas abaixo de zero durante boa parte do ano, a Holanda é chamada de “Países Baixos” porque grande parte de suas terras estão abaixo do nível do mar e metade do território do país fica a menos de um metro acima do nível do mar. Para enfrentar essa situação, muito planejamento e tecnologia foram desenvolvidos nesses países.

O Brasil até agora vinha sendo “o paraíso na Terra” com uma natureza generosa, propiciando grandes safras agrícolas, com matas e rios que não nos deixavam faltar nada. Até o ano 2000 praticamente não havia fenômenos climáticos extremos, foi quando surgiram os primeiros ciclones no litoral, depois aumentaram as ocorrências alternadas entre secas e enchentes em várias parte do país – nehuma tão violenta como essa do RS, agora em 2024, mas que infelizmente nada indica que será a última.

Seremos obrigados a mudar nossos hábitos, pois até então a palavra “planejamento”, no Brasil, parecia uma chatice. Nunca alguém ganhou uma eleição prometendo saneamento básico, rede de esgotos em dia, máquinas de bombear água ou barreiras eficazes contra enchentes. Em Porto Alegre, na gestão anterior, chegou a ser extinto o Departamento de Esgotos Pluviais (o DEP) e colocado, depois, como um “penduricalho” do DMAE, a companhia de águas e esgotos da capital, que vem sendo sucateada faz muitos anos, com seus engenheiros e técnicos relatando que seus pedidos de manutenção e reposição de equipamentos não são atendidos.

Agora, de uma hora para outra, em Porto Alegre se descobre a importância do DMAE, das bombas, da manutenção do sistema de escoamentos das águas. Até então só se investia na Orla, na “decoração”, e nada na bacia do Guaíba. Há duas décadas foi abandonado o Programa Pró-Guaíba, que tratava da despoluição (e portanto também do desassoreamento) da bacia do Guaíba. Tudo que foi negligenciado, no passado, terá de ser revisto agora. Pela primeira vez, esgotos, água e prevenção de enchentes serão visíveis.

Montserrat Martins é Psiquiatra.

 

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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