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A que ponto nos levará a crise de biodiversidade no Brasil e no mundo?

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Foto: Heiko Behn em Pixabay

A que ponto nos levará a crise de biodiversidade no Brasil e no mundo? artigo de Elissandro Santana

Diante do cenário de degradação vivido e em curso, é preciso falar, com urgência, sobre biodiversidade em diversos espaços, passando pela escola, pelo trabalho e em casa

Inicialmente, cabe destacar que este texto é a retomada do artigo “Atravessamos a maior das crises, a de destruição da biodiversidade”, publicado, em 2021, no  Portal Desacato. Como o tema é bastante relevante, resolvi retomar a discussão, ampliando-a e repensando-a para mais reflexões acerca da crise da biodiversidade no Brasil e no mundo.

Frente à importância do tema, é importante refletir sobre o fato de que de todas as crises pelas quais o mundo atravessa, de fato, a crise de biodiversidade é, sem dúvida, a maior delas, haja vista que esta desencadeia ou desencadeará muitas outras.

Em se tratando do Brasil, a crise de biodiversidade se dá em decorrência da agenda política de destruição voltada para os interesses dos mecanismos da economia clássica e para tentar entender os rumos que tomamos, é importante refletir historicamente. Nesse sentido, é importante trazer que ao longo de nossa existência como nação, nos tornamos escravos das mentalidades coloniais da época da invasão e absorvemos os imaginários do colonizador, por isso, cada vez mais, precisamos entender a raiz da mentalidade econômica, política e colonial moderna da desesperança no país.

Quando afirmo que a crise de biodiversidade é  a maior de nossas crises, no Brasil e em todo o Planeta, parto do pressuposto de que a exploração de recursos de forma insustentável gera impactos ambientais profundos, com efeitos que são ou serão sentidos em cadeia, haja vista que tudo está interligado na Biosfera. No que se refere às questões climáticas, o Brasil começou a sentir, nos últimos anos, os impactos da degradação, e essa crise se agrava ainda mais com a intensificação dos desmatamentos, das queimadas nos biomas de todo o país e pela fragmentação de diversos habitats, fator que acelera velozmente a perda de espécies.

Diante do cenário de degradação vivido e em curso, é preciso falar, com urgência, sobre biodiversidade em diversos espaços, passando pela escola, pelo trabalho e em casa. A crise na qual estamos mergulhados exige de nós o intercâmbio de saberes socioambientais para que, desta forma, a sociedade entenda parte da dinâmica da natureza e compreenda que na conservação e na preservação estão os alicerces para a continuidade de nossa existência. Toda essa rede de diálogos propiciará um despertar coletivo, e a partir desse ponto perceberemos que nossas escolhas políticas interferem diretamente em nosso futuro comum.

Diante do quadro atual, a educação ambiental adquire, mais do que nunca, um papel importantíssimo, mas ela sozinha não dará conta de todos os problemas, pois, como já mencionado, tudo está em rede. No momento, em muitas áreas do conhecimento, dentro e fora da academia, se fala sobre biodiversidade, mas pouco se aprofunda com os/as atores/atrizes sociais não acadêmicos sobre o que seria de fato isso, por isso, é urgente dialogar mais, de forma simples, a partir da educação ambiental, acerca desse fenômeno, seja em perspectiva conceitual ou exemplificativo-prática.

Por Biodiversidade, é necessário entender que esta se refere, diretamente, à variedade de seres vivos, considerando, sem exclusão, todas as formas e interações, porque tudo o que existe merece existir, partindo-se de uma concepção de Leonardo Boff e outros autores alicerçados em uma bioética. A biodiversidade é o caldeirão de misturas ecológicas que possibilita a continuidade da vida. É um fenômeno tão rico com características tão complexas que, por isso mesmo, demanda análises e estudos multidisciplinares para se chegar à completa montagem do quebra-cabeça. E aqui chegamos a uma noção didática muito importante, à de biodiversidade como um grande quebra-cabeça, em que cada peça se junta a outra peça para a formação de uma imagem do todo.

Para ampliar essa noção sobre biodiversidade, caro/a leitor/a, atentei-me a três pilares que são discutidos em profundidade pela Ecologia e pela Biologia da Conservação: diversidade genética, diversidade de espécies e diversidade de ecossistemas. Nesse sentido, é importante salientar que esses três pilares se conectam diretamente e o Brasil, claramente, tem interferido nessas três linhas, basta acompanhar por meio da mídia a destruição em Biomas como o Pantanal, o Amazônico, o Cerrado, a Caatinga e a Mata Atlântica.

Em meio a tudo isso, urge compreender que, ao se destruir a diversidade de ecossistemas, mexe-se, automaticamente, nos outros dois níveis, na diversidade de espécies e, consequentemente, na diversidade genética. A cada árvore derrubada, a cada área queimada, a cada lançamento de dejetos, sejam líquidos ou sólidos, a cada animal que morre nos incêndios país adentro, e a cada aceno para a política da destruição do meio ambiente, do qual também somos parte, morremos um pouco e, muitas vezes, alienados, nem nos damos conta, ou nos damos e seguimos fingindo que está tudo bem.

Por fim, podemos chegar a outro patamar da discussão, à ideia de que a biodiversidade ultrapassa os limites dos três pilares mencionados, da diversidade genética, da diversidade de espécies e da diversidade de ecossistemas. A biodiversidade, por ser um fenômeno complexo, como mencionado, se relaciona com todos os elementos que possibilitam a vida e pode ser discutida à luz da Sociologia, das Ciências Políticas, das Linguagens e todas as áreas do conhecimento. Nesse ínterim, vale a pena trazer a metáfora das peças de dominó ou do grande tabuleiro de xadrez, para a compreensão de que para a biodiversidade cada peça importa, da política, à economia, à cultura e fica fácil entender isso quando se percebe que a política interfere diretamente no meio ambiente e que esta se atrela aos interesses das elites dominantes.

É por isso que, de forma simples, todos precisamos perceber que um voto sem compromisso com a vida pode representar a destruição ambiental e que somente a partir de uma consciência sócio-político-econômico-ambiental será possível arrancar esperança no futuro e conservar a vida!

Nosso futuro depende de nossa mudança de mentalidade e, consequentemente, de uma postura crítica em relação a todas as insustentabilidades político-cultural-economicamente que estão postas e que foram construídas historicamente pelos donos do poder. Caso não mudemos e, com isso, não desviemos da rota atual, condenaremos, de uma vez por todas, o nosso futuro!

Elissandro Santana é Professor da faculdade Nossa Senhora de Lourdes, membro do Grupo de Estudos da Teoria da Dependência – GETD, coordenado pela Professora Doutora Luisa Maria Nunes de Moura e Silva, revisor da Revista Latinoamérica, colunista da área socioambiental, latino-americanicista e tradutor do Portal Desacato.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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