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Artigo

A concentração de CO2 na atmosfera continua aumentando

 

A concentração de CO2 na atmosfera continua aumentando, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

A concentração de CO2 na atmosfera continua aumentando, a despeito de todo o blá-blá-blá das COPs e da governança global.

A cada dia aumenta a consciência das pessoas e das instituições nacionais e internacionais sobre a gravidade da crise climática. Porém, as soluções apontadas e os acordos assinados não são capazes de frear e reverter as emissões de gases de efeito estufa.

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (ou Conferência de Estocolmo) foi realizada na capital da Suécia entre 5 e 16 de junho de 1972. Naquela ocasião, há 50 anos, a concentração de CO2 na atmosfera estava em 330 partes por milhão (ppm) e a população mundial era de 3,85 bilhões de habitantes.

O mundo tomou conhecimento que o número de 280 ppm que era o máximo que havia prevalecido antes da Revolução Industrial e Energética, durante todo o Holoceno (últimos 12 mil anos). Entre os princípios acordados em Estocolmo estava o reconhecimento de que os recursos naturais necessitavam de gestão adequada para não serem esgotados e a necessidade do controle da poluição.

Porém, a concentração de CO2 continuou subindo como mostra o gráfico abaixo. Em 1988, o climatologista James Hansen fez um depoimento no Congresso Americano mostrando como o aquecimento global estava acelerando. Naquele ano a concentração de CO2 estava em 354 ppm e a população mundial tinha passado para cerca de 5 bilhões de habitantes.

curva de keeling

 

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Eco-92 ou Cúpula da Terra, aconteceu na cidade do Rio de Janeiro de 3 a 14 de junho de 1992, com o objetivo foi debater os problemas ambientais globais. Naquela ocasião a concentração de CO2 tinha passado para 360 ppm.

A 1ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (a COP1) aconteceu na cidade de Berlim em 1995. Dois anos depois, em 1997, aconteceu a COP3, quando foi assinado o Protocolo de Kyoto, no Japão. Naquele ano a concentração de CO2 estava em 367 ppm e a população mundial tinha passado para quase 6 bilhões de habitantes.

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida também como Rio+20, foi realizada entre os dias 13 e 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro. Naquele ano a concentração de CO2 estava em 396 ppm e a população mundial tinha ultrapassado 7 bilhões de habitantes.

Nos 70 anos da ONU, foi realizado a COP21, quando foi assinado o Acordo de Paris que é um tratado ocorrido no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC). O acordo foi negociado na capital da França e aprovado em 12 de dezembro de 2015. Entre as principais medidas estão a redução das emissões de gases estufa, a fim de conter o aquecimento global abaixo de 2º C e, preferencialmente, abaixo de 1,5º C, e garantir a perspectiva do desenvolvimento sustentável. Naquele ano a concentração de CO2 estava em 404 ppm.

No final de 2021 foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, na cidade de Glasgow, na Escócia. A tarefa mais urgente da COP26 foi traçar metas mais ambiciosas de redução de gases de efeito estufa para evitar um aquecimento global acima de 1,5º C. No ano passado a concentração de CO2 estava em 419 ppm e a população mundial estava chegando a 8 bilhões de habitantes. Portanto, a curva de Keeling continua a aumentar a despeito de todo o blá-blá-blá da governança global, pois o crescimento demoeconômico do mundo continua em sua marcha incessante e desregrada.

De fato, as emissões globais de CO2 estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram 36 bilhões de toneladas entre 2019 e 2021. Em consequência do efeito estufa, as temperaturas do Planeta estão subindo e acelerando as mudanças climáticas e seus efeitos danosos sobre a vida na Terra.

No passado foram os países desenvolvidos que mais emitiram CO2 em função da queima de combustíveis fósseis. Mas no século XXI os países fora da OCDE emitem mais do que os países da OCDE e a soma da China + Índia emite muito mais do que a Europa + EUA, conforme mostra o gráfico abaixo de artigo do climatologista James Hansen.

emissões de china e Índia x eua

 

Sob o Acordo de Paris adotado em 2015, praticamente todas as nações do mundo se comprometeram a limitar o aquecimento global a um patamar “bem abaixo” de 2º C (em relação aos níveis pré-industriais) e também, se possível, “buscar” esforços para limitar o aquecimento a 1,5C. Contudo, no momento, o mundo não está nem perto do caminho necessário para atingir essas metas e a concentração de CO2 deve atingir 422 ppm em maio de 2022.

Segundo análise do Carbon Brief, os cenários para os próximos anos são os seguintes:
• O mundo provavelmente excederá 1,5º C entre 2026 e 2042 em cenários onde as emissões não são reduzidas rapidamente, com uma estimativa central em 2031;
• O limite 2º C provavelmente será excedido entre 2034 e 2052 no cenário de emissões mais altas, com um ano mediano de 2043;
• Em um cenário de mitigação modesta – onde as emissões permanecem próximas aos níveis atuais – o limite 2º C seria excedido entre 2038 e 2072, com uma mediana em 2052.

A crise climática significa clima instável e com variações extremas, provocando mais furacões, mais secas, mais inundações, mais incêndios e queimadas, além de mais mortes relacionadas ao calor e mais prejuízos econômicos. Maiores temperaturas significam maior degelo. O nível do mar aumentará alguns metros à medida que as prateleiras de gelo dos polos derreterem. Milhões de pessoas serão forçadas a mudar de área ou país. A agricultura terá perda de produtividade e a insegurança alimentar deve aumentar.

Só existe um caminho para evitar os piores cenários e este caminho passa pelo fim das emissões de gases de efeito estufa e pela reversão da curva de Keeling. O crescimento precisa virar decrescimento. O mundo registrou uma concentração de CO2 de 321 ppm em maio de 1962 e 360 ppm em maio de 1992 (um aumento de 39 ppm nos 30 anos anteriores à Cúpula da Terra no Rio de Janeiro). Em maio de 2022 deve atingir 422 ppm (um aumento de 62 ppm nos 30 anos posteriores à Cúpula do Rio). Ou seja, o aumento da curva de Keeling se acelerou nos últimos 30 anos a despeito de todas as Conferências, Tratados e Acordos da governança global.

Portanto, é urgente interromper a emissão de gases de efeito estufa e voltar o mais rápido possível ao patamar de 360 ppm, considerando o nível seguro para evitar um aquecimento global catastrófico.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:
ALVES, JED. Aula 11 AM088: Decrescimento demoeconômico e capacidade de carga do Planeta, IFGW, 11/04/21
https://www.youtube.com/watch?v=QVWun2bJry0&list=PL_1__0Jp-8rhsqxcfNUI8oTRO1wBr86fh&index=9

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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