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Algumas maneiras de ensinar as crianças sobre a preservação dos oceanos e mares

 

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Foto: UNEP/EBC

Algumas maneiras de ensinar as crianças sobre a preservação dos oceanos e mares, artigo de Rosângela Trajano

Uma educação para proteção dos mares e oceanos pode começar mostrando às crianças a sujeira que alguns adultos costumam deixar nas praias depois de um dia de lazer

A poeta portuguesa Sophia de Mello Bryner Andresen amava o mar. Em seus poemas é belo o amor que encontramos pelo mar. Ela fala de uma forma tão carinhosa que chega a doer, a gritar, a imprimir na gente o quanto os nossos oceanos estão sofrendo por nossa causa. Sim, somos os responsáveis pelos seus sofrimentos e nada fazemos para sarar as suas dores e os seus pedidos de ajuda. Acho que perdemos os sentidos no que diz respeito ao meio ambiente. É como se não escutássemos, não ouvíssemos, não sentíssemos e não tocássemos nas águas ou nas árvores e deles não fizéssemos uso para nada. Claro que isso é mentira porque necessitamos do meio ambiente para continuarmos vivendo.

Sem os oceanos e mares teria sido bem difícil descobrir novos mundos, como fizeram os navegadores que não temeram as lendas e mitos sobre a imensidão dos oceanos e os seus poderes sobrenaturais, nem ouviram as palavras de anciãos que temiam o desbravar dos oceanos como podemos ver na figura do Velho do Restelo contada no poema dos “Lusíadas” do poeta Luiz Vaz de Camões. Peçamos a Poseidon, deus dos mares e oceanos, proteção para que possamos sempre cuidar das nossas águas salgadas como se cuida de algo que se ama muito e que nunca a sua ira se volte contra nós. Que com o seu tridente ele possa fazer brotar oceanos e mares nos corações das crianças e assim possam mergulhar nas suas águas límpidas e afáveis.

Para não causar confusão de compreensão vou explicar a diferença entre mares e oceanos. Os oceanos são os maiores elementos de água salgado do mundo. Enquanto os mares, são porções menores também de água salgada. Espero que fique claro que ao falar de mares e oceanos refiro-me a água salgada do nosso planeta Terra. E é dessa água salgada que quero falar ao longo do meu ensaio, ora falando da grandiosidade dos oceanos ora falando dos mares que são porções menores, mas nem por isso deixam de ter importância para todos nós.

Os oceanos ocupam setenta por cento da superfície do planeta. Algumas crianças ainda não os conhecem, mas não custarão a conhecê-los. São importantes para a nossa sobrevivência como também para a vida marinha. O menino ou menina que tem seu primeiro contato com a água do mar fica deslumbrado com aquela imensidão, aquelas ondas que vão e vêm, aquele azul que se movimenta num belo bailado e nos proporciona momentos de lazer maravilhosos à beira-mar, pois as pessoas que vivem nas cidades litorâneas desfrutam dos oceanos para se divertirem ao seu redor.

Lembro-me bem da minha infância de quando passava os meus domingos de frente para o mar deitada na areia da praia, escutando o canto das ondas e desfrutando de um sol quente. Tomar banho de mar era a coisa mais gostosa do mundo para uma menina de oito anos de idade que tinha como distração gratuita apenas o mar. As águas do oceano da minha cidade são as mais belas que já vi em toda a minha vida. Elas parecem nos acariciar quando as tocamos, parecem nos abraçar e nos embalar em seus seios feitas mães cuidadosas. São águas afáveis e amantes de uma gente que não sabe mais valorizá-las, ou seja, tornamo-nos carrascos das águas dos oceanos castigando-as e fazendo-as sofrer as mais diversas dores e perigos que imaginarmos.

Os oceanos têm recebido ameaças à sua sobrevivência com o aumento da poluição, pesca predatória e mudanças climáticas. A vida marinha está em perigo: mamíferos e corais correm o risco de desaparecerem do planeta. Quem são os culpados? Quem? Um grande NÓS em letras cursivas para chamar atenção e conscientizar cada um de vocês da importância dos oceanos e mares para o planeta. Nos oceanos, encontramos diversos ecossistemas que estão sofrendo, principalmente, com a poluição desenfreada porque somos robotizados a descartar tudo o que não serve mais para nós pelas janelas dos nossos caríssimos automóveis ou descartamos em locais impróprios. Com isso, as águas das chuvas levam todo o lixo encontrado nesses locais para os oceanos e mares.

Estudos apontam que corremos o risco de perder mais da metade da vida marinha até 2100. Isso é um fato preocupante, pois os oceanos fazem parte da ecologia da Terra e quando coisas assim acontecem causam impacto indireto em outros aspectos do nosso planeta. Mudanças ambientais significativas prejudicam a saúde dos ecossistemas dos oceanos, por isso quanto mais diminuirmos as agressões ao meio ambiente estaremos contribuindo para a sua preservação. É cuidando, amando e dando importância que construiremos um mundo melhor para vivermos e não o agredindo. Esse cuidado que não vemos mais nem dentro das nossas casas porque não temos mais tempo para cuidar dos nossos familiares é o mesmo que estamos fazendo com o meio ambiente. Sinceramente eu não sei o que faz uma pessoa jogar uma garrafa de plástico no meio da rua e não colocá-la na mochila e descartá-la num lugar apropriado. Tem pessoas que são tão agressivas ao meio ambiente que fazem questão de sujar as praias e mares com os seus famosos piqueniques, quando vão embora deixam para trás um rastro de sujeira grande como se quisesse dizer eu estive aqui, quanto orgulho, né?

Um estudo da NASA recente, 2019, mostrou como o aumento da temperatura das águas dos oceanos está ligado a eventos climáticos extremos, assim como desastres. Precisamos parar com essas agressões aos oceanos e mares. Devemos nos educar para salvarmos o meio ambiente de uma forma consciente e cuidadosa. Educar as nossas crianças desde a tenra idade para que aprendam bem cedo a protegerem o meio ambiente de forma que na vida adulta tenham um lugar melhor onde se viver. Este é o nosso lugar de vida. Se não cuidarmos dele tenderemos a viver de forma precária e difícil. Faz-se necessário mostrar as nossas crianças a importância da conservação dos oceanos e mares. As crianças são abertas a coisas novas, são curiosas e gostam de investigar tudo o que contamos para elas. São boas na aprendizagem.

Os mares recebem esgotos não tratados que correm para os oceanos poluindo suas águas. Na minha cidade, podemos ver um esgoto enorme a céu aberto derramar sujeiras nas águas do mar de uma das suas mais belas praias. Uma água escura, suja, fétida e extremamente poluente. O despejo inadequado de esgotos nas águas dos mares provoca um fenômeno chamado eutrofização. A eutrofização provoca uma coloração turva nas águas ficando com níveis baixíssimos de oxigênio. Isso provoca a morte de diversas espécies animais e vegetais, e tem um grande impacto para os ecossistemas marinhos.

As crianças tomam banho nessas águas poluídas sem se darem conta dos perigos das doenças da pele e até mesmo outras que podem vir a ser causadas. É triste ver isso. O poder público nada faz para parar com essa poluição. Outros poluentes dos mares e oceanos são alguns materiais que poderiam ir para o lixo: garrafas, sacolas, canudos, copos plásticos. Devíamos ter uma lei que proibisse o uso de plásticos em alguns restaurantes e que nas cidades litorâneas eles não pudessem ser usados. É comum vermos tartarugas, golfinhos e outros animais marinhos mortos envolvidos em sacolas de plásticos.

Também temos a pesca predatória que tem destruído cada vez mais com a vida marinha. Essa atividade pesqueira executada de forma desenfreada, ou seja, é a pesca excessiva e insustentável praticada pela ação humana. Das espécies marinhas mais ameaçadas pela pesca predatória no Brasil, temos: os peixes, os caranguejos e as lagostas. A infinidade de pescadores que pescam lagostas novinhas e pequenas, caranguejos fêmeos e em período de reprodução é enorme. O peixe atum é um dos mais ameaçados por esse tipo de pesca. Sabemos da necessidade que o pescador tem para trazer o alimento para a sua família do mar, mas se ele continuar a fazer esse tipo de pesca chegará um dia que não terá mais o que comer nem em terra nem no mar. A comida desaparecerá por completo porque ele mesmo destruiu tudo.

Só quem já mergulhou nas águas profundas dos oceanos sabe da imensidão da sua beleza ao ver os seus corais coloridos, os golfinhos que vêm brincar conosco e as algas marinhas. Levar as crianças para fazerem pequenos mergulhos nos mares próximos das suas casas é um passeio educativo para mostrar a importância da preservação e do cuidado. E por falar em educação vou citar mais algumas maneiras além dessa para educar as crianças na proteção dos mares e oceanos, pois elas são curiosas e sinceras nos seus sentimentos e muitas vezes sabem cuidar das coisas muito melhor do que certos adultos, principalmente, aquelas mais observadoras e atentas a tudo ao seu redor.

Uma educação para proteção dos mares e oceanos pode começar mostrando às crianças a sujeira que alguns adultos costumam deixar nas praias depois de um dia de lazer. Levar a criança com um depósito ecológico para colher o lixo das praias dizendo para ela quanto tempo leva uma garrafa plástica para se decompor é importante. Para quem não sabe uma garrafa plástica leva em média 450 a 500 anos para desaparecer do planeta depois de descartada, por isso que é importante a reciclagem. Depois da coleta de todo o lixo separar aquele que pode ser reciclado e vendido para uma empresa de reciclagem que o transformará em um objeto de bom uso.

Também podemos convidar as crianças para assistirem documentários sobre os oceanos conosco ao sabor de uma boa pipoca e de um suco de frutas delicioso. Há muitos documentários na Internet falando sobre a importância dos oceanos e mares, seus diversos ecossistemas e as suas belezas naturais. Pedir para que as crianças pesquisem também na Internet vídeos que mostrem o impacto da poluição nos oceanos e mares e discutir com elas o motivo pelo qual devemos ter cuidado com o nosso lixo também pode ser uma boa alternativa. Não basta colocar a criança para ver o documentário ou vídeo. É preciso um diálogo sincero onde fique claro que a preservação dos oceanos é de responsabilidade de todos nós: adultos e crianças.

Outra maneira interessante de conscientizar as crianças sobre a preservação dos oceanos e mares é na hora da contação de histórias tanto na escola quanto em casa, ler para elas livros que abordem os cuidados que devemos ter para com as nossas águas salgadas. A poeta citada no início deste ensaio tem alguns livros para crianças maravilhosos e dentre eles cito “A menina do mar”. Um livro lindo para todas as idades. Em “A menina do mar” a escritora e poeta Sophia de Mello Bryner Andresen conta uma história para crianças de todas as idades sobre o desejo de mergulhar nas águas profundas do mar, de unir a terra e a água fazendo delas uma só coisa. É uma história que ensina sobre o amor, a saudade e o cuidado com o mar e a vida marinha. Vale a pena ler com os pequenos e discutir com eles cada detalhe que a escritora colocou na história chamando sempre a atenção para a preservação desses oceanos e mares.

Além da contação de histórias também podemos ler com as crianças poemas sobre os mares, oceanos, peixes, caranguejos e outras vidas marinhas. As crianças também podem aprender a cantar a musiquinha linda intitulada “Peixinhos do mar”. É uma música curta, mas vale a pena trazê-la para o ensino-aprendizagem da criança. A poesia ainda tão pouco explorada na sala de aula pode ser uma importante fonte de ensino-aprendizagem às crianças, pois as suas rimas e metáforas facilitam o mesmo. Sem contar que através dos poemas as crianças podem viajar outros mundos com as metáforas criadas pelos poetas.

Também podemos pedir para as crianças desenharem ou pintarem animais marinhos. Elas adoram desenhar peixinhos e tartarugas! O desenho fortalece a ligação afetiva da criança com o objeto desenhado. Naquele tempo que ela levou para desenhar ou pintar o bichinho foi colocado afeto e cuidado que fica no seu espírito e pode ser acordado na vida adulta. O importante é que ao longo da sua vida, a criança tenha um ensino-aprendizagem de valorização e preservação dos oceanos e mares de forma que possa se tornar consciente e responsável, evitando a poluição do meio ambiente.

Uma maneira bem divertida para um passeio de fim de semana é levar as crianças para visitarem um aquário. Lá elas terão contato com animais marinhos que nunca viram antes e ficarão cheias de curiosidades e alegres. No caminho para o aquário canções sobre o mar e os seus animais podem ser cantadas, poemas podem ser declamados e pode-se até abrir um debate sobre o que as crianças esperam encontrar no aquário. Os professores devem sempre usar do lúdico e da brincadeira para incentivarem a aprendizagem das crianças.

Uma outra coisa importante é ensinar as crianças a reduzirem o uso dos plásticos. Substituir as sacolas plásticos de supermercados por sacolas de tecidos que podem ser reutilizáveis é uma boa opção. Sempre mostrando e falando para a criança o motivo pelo qual está se fazendo aquilo. A poluição por plásticos nos mares e oceanos acaba criando um desequilíbrio com as mortes de várias espécies de animais marinhos. Faça a sua própria sacola de tecido junto com a sua criança. Costure-a, pinte-a e deixe-a bem bonita para quando forem ao supermercado ou à feira. A criança vai gostar muito da ideia.

E por último, envolva as crianças no assunto, procurando sempre nas reuniões familiares ou nas conversas à mesa falar sobre a importância da preservação dos oceanos e mares. Leia jornais e revistas para elas. Tire uma horinha no dia para ensinar sobre a importância do meio ambiente e a sua preservação. Não deixe apenas para a escola essa tarefa. Cuidar dos oceanos e mares é tarefa de todos nós. Os professores devem sempre estar atentos a todos os assuntos sobre os oceanos e mares para atualizarem as crianças.

Algo que lembrei agora e seria interessante às crianças seria que todas elas tivessem em suas casas e na escola um brinquedo que representasse um animal marinho. As crianças adoram bichinhos de pelúcia e podem passar horas brincando com eles. Gostam de inventar diálogos com esses fazendo do bichinho muitas vezes um herói dos seus medos e angústias. Até mesmo o professor ou professora pode adotar um bichinho de pelúcia marinho na sala de aula e sempre que possível brincar com as crianças contando a história dos hábitos e costumes de cada animal, explorando a forma como se alimentam e se reproduzem. Também é uma ideia bem divertida e lúdica.

Ensinar as crianças que as ondas do mar não fazem barulho, mas que cantam dos seus jeitos também é uma forma de respeito e ensino. Nas cidades litorâneas levar as crianças para um passeio diante do mar será maravilhoso para molharem os pezinhos e ouvirem o canto das ondas ao tocar nas pedras. E nas cidades sem mar tentar mostrar através de vídeos, filmes e documentários o quanto o canto das ondas do mar é bonito e tranquilizador. Muitos poetas e escritores preferem morar de frente para o mar, pois dizem terem mais inspiração com o canto das suas ondas. Acho um privilégio para poucos morar perto do mar. Eu moro e sei bem o quanto é maravilhoso. Não há nada mais bonito no mundo do que acordar com o canto das ondas do mar a acariciar os coqueiros.

Que os nossos governantes criem leis mais fortes para proteção dos oceanos e mares e que possamos contribuir do nosso jeito para que as suas águas continuem sempre azuis e belas. E que seja possível uma tartaruga vir depositar os seus ovos na areia da praia e voltar para o mar, tranquila assim como viver por longos anos. Eu não sei você, leitor, mas eu sou feita do mar. Tenho em mim as mais belas ondas que um surfista possa imaginar e as mais belas praias onde um poeta pode morar. O mar sou eu!

Rosângela Trajano, Poeta, escritora, filósofa e ativista ambiental

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

 

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