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Pesquisadores tentam preservar e livrar toninhas da extinção

 

Pesquisadores tentam preservar e livrar toninhas da extinção

Captura acidental pela pesca, poluição e perda do habitat pode levar ao desaparecimento da toninha. Alerta é que corremos o risco de vê-la extinta já na nossa geração

toninha com filhote
Foto: Renan Conceição

Por Giovanna Leopoldi

Tímida, a toninha é uma espécie de golfinho pouco conhecida do público em geral. Encontrada apenas na Argentina, no Uruguai e em parte do litoral brasileiro, entre o Espírito Santo e o Rio Grande do Sul, está classificada como criticamente ameaçada pela Lista Oficial das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção e considerada categoria vulnerável pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). A captura pela pesca acidental é o maior risco a este cetáceo, que sofre ainda com a poluição das águas e perda de habitat.

Na luta pela preservação do golfinho, a elaboração de estratégias de manejo sustentável para as áreas prioritárias está entre as principais medidas a serem adotadas. Para isso, as pesquisas precisam avançar na compreensão das causas da mortalidade e da relação da espécie com as atividades pesqueiras.

Esse tem sido o trabalho do Projeto Conservação da Toninha, liderado pela bióloga Camila Domit, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Iniciado em dezembro de 2018 pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), numa coalizão que reúne 12 entidades, atua na região que compreende os estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, onde a ocorrência da espécie sobrepõe áreas de intensa atividade humana.

“A preservação da toninha demanda um esforço coletivo porque, infelizmente, corremos o risco de vê-la extinta já na nossa geração”, alerta Camila. “Por isso, atuamos para engajar pesquisadores, pescadores, gestores, consultores, monitores e demais indivíduos cuja atuação tenha impacto neste processo.”

Camila conta que uma das ações mais marcantes do projeto foram as conversas com pescadores e outras pessoas envolvidas com a atividade pesqueira em 55 municípios, ainda antes da pandemia, em 2019. A iniciativa foi fundamental para compreensão sobre a legislação de pesca e seus conflitos; questões sociais, econômicas e familiares; indicadores escolares, de acesso à saúde e outros serviços públicos.

Como a toninha não tem valor comercial, as pesquisas demonstram que a pesca do pequeno golfinho é, realmente, acidental, sensibilizando inclusive os pescadores. “Eles têm preocupação com a toninha, ficam tristes quando capturam uma delas em suas redes, mas não podemos ignorar a demanda social e econômica relacionada à sobrevivência das comunidades pesqueiras”, pondera.

A pesquisadora pontua que a extinção de uma espécie é sempre uma perda inestimável para o planeta e mesmo para a manutenção dos serviços ecossistêmicos, que o ambiente presta ao mundo. “Estamos diante da perda de uma das espécies mais antigas de golfinho que conhecemos, e isso terá graves consequências para a regulação da cadeia alimentar. As toninhas exercem papel importante na corregulação da oferta de peixes com os animais que são topo de cadeia na região costeira”, esclarece.

A toninha é uma espécie de sentinela ambiental, um animal que demonstra a qualidade do ecossistema. “Conhecer a saúde dela é saber da nossa saúde. E mais do que isso, por ser um predador de peixes e lulas, seu desaparecimento pode desestruturar a cadeia alimentar”, explica. “Se sumir a toninha, ela não vai sumir sozinha”, enfatiza.

Vidas ameaçadas

Conhecida fora do Brasil como franciscana, a toninha tem peso médio de 30 quilos, cerca de 1,5 metro de comprimento e vive aproximadamente 23 anos. Em 2016, a International Whaling Commission (IWC) (a Comissão Baleeira Internacional) adotou um plano de conservação e manejo para a espécie, contando com a adesão dos governos dos três países onde as toninhas são encontradas. Estima-se que restam menos de 50 mil indivíduos da espécie atualmente no mundo. As mortes anuais não têm estimativas confiáveis, mas para a região de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, onde a população é estimada em menos de 10 mil, mais de 600 animais são encontrados mortos encalhados na praia por ano, número que demonstra a gravidade da situação.

É muito raro observá-la viva, tanto por causa de seu comportamento tímido quanto por sua coloração amarelada. Vivem em grupos pequenos, de 2 a 30 animais, em profundidade de até 30 metros, sempre próximas da costa, ocorrendo no máximo entre 45 e 55 quilômetros das praias.

Após a conclusão dos estudos e mapeamento sobre os hábitos e localização dos animais, podem surgir novas recomendações sobre o uso de redes específicas e novas tecnologias que reduzam os riscos de captura acidental. “Pesquisas como essa trazem dados importantes para que sejam desenvolvidas ações e políticas públicas efetivas, que contribuam com a conservação da espécie e também levem em conta a realidade socioeconômica de populações locais”, afirma Leide Takahashi, também membro da RECN e gerente de Conservação da Natureza da Fundação Grupo Boticário, instituição representante da sociedade civil na Década do Oceano no Brasil.

“Não queremos acabar com a pesca e nem deixar a toninha morrer sem fazer nada. Então, como vamos construir esse meio termo? Queremos elaborar soluções junto com a comunidade, levando em consideração aspectos sociais, econômicos e ambientais”, explica Camila, ressaltando que a ameaça aos golfinhos é reflexo de um problema maior, que pode comprometer todo o ecossistema marinho. “Conseguimos identificar alterações provocadas por produtos agrícolas e industriais que chegam no mar através dos rios. A ameaça às toninhas é um sinal de como precisamos cuidar melhor dos recursos pesqueiros e da saúde humana”, pondera.

A coordenadora do projeto acrescenta que olhar para a sobrevivência da toninha é direcionar esforços para a manutenção de um oceano limpo, saudável, resiliente e explorado de maneira sustentável. Estes desafios estão elencados para a Década do Oceano (2021 – 2030).

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/03/2021

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