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Desastres naturais afetam cada vez mais os sistemas agroalimentares

 

Desastres naturais afetam cada vez mais os sistemas agroalimentares

Em nenhum outro momento da história os sistemas agroalimentares foram confrontados com tamanha variedade de novas ameaças e sem precedentes, incluindo mega incêndios, clima extremo, grandes enxames de gafanhotos do deserto e ameaças biológicas emergentes como a pandemia da COVID-19

ONU Brasil

 

  • A agricultura absorve a maior parte das perdas e danos financeiros causados por desastres que aumentaram em frequência, intensidade e complexidade, afirmou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em um novo relatório divulgado nesta quinta-feira (18).
  • Em nenhum outro momento da história os sistemas agroalimentares foram confrontados com tamanha variedade de novas ameaças e sem precedentes, incluindo mega incêndios, clima extremo, grandes enxames de gafanhotos do deserto e ameaças biológicas emergentes como a pandemia da COVID-19. Esses perigos não apenas ceifam vidas, mas também devastam os meios de subsistência agrícolas e infligem uma cascata de consequências econômicas negativas em nível doméstico, comunitário, nacional e regional que podem perdurar por gerações, diz o relatório.
Novo relatório da FAO constata que as perdas agrícolas causadas por desastres naturais continuam a aumentar, infligindo danos econômicos e prejudicando a nutrição.
Novo relatório da FAO constata que as perdas agrícolas causadas por desastres naturais continuam a aumentar, infligindo danos econômicos e prejudicando a nutrição. Foto | FAO

A agricultura absorve a maior parte das perdas e danos financeiros causados por desastres que aumentaram em frequência, intensidade e complexidade, afirmou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em um novo relatório divulgado nesta quinta-feira (18).

Em nenhum outro momento da história os sistemas agroalimentares foram confrontados com tamanha variedade de novas ameaças e sem precedentes, incluindo mega incêndios, clima extremo, grandes enxames de gafanhotos do deserto e ameaças biológicas emergentes como a pandemia da COVID-19. Esses perigos não apenas ceifam vidas, mas também devastam os meios de subsistência agrícolas e infligem uma cascata de consequências econômicas negativas em nível doméstico, comunitário, nacional e regional que podem perdurar por gerações, diz o relatório.

De acordo com o relatório, a ocorrência anual de desastres é agora mais de três vezes maior do que nas décadas de 1970 e 1980. Em relação à agricultura, indústria, comércio e turismo como um todo, a agricultura absorve sozinha uma parcela desproporcional de 63% do impacto dos desastres, com os países menos desenvolvidos (LDCs) e os países de baixa e média renda (LMICs) suportando o maior impacto desses flagelos.

Assim, entre 2008 e 2018, os impactos dos desastres naturais custaram aos setores agrícolas das economias dos países em desenvolvimento, mais de US$ 108 bilhões em perdas ou danos na produção agrícola e pecuária. Esses danos podem ser particularmente prejudiciais para a subsistência de pequenos proprietários e agricultores de subsistência, pastores e pescadores.

Durante o período analisado, a Ásia foi a região mais afetada, com perdas econômicas globais somando assombrosos US$ 49 bilhões, seguida pela África com US$ 30 bilhões e América Latina e Caribe com US$ 29 bilhões.

“A revolta iniciada pela COVID-19 pode levar ainda mais famílias e comunidades a um sofrimento ainda maior”, disse o diretor geral da FAO, QU Dongyu, no prefácio do relatório. “O impacto do desastre é generalizado e requer esforços imediatos para melhor avaliar e compreender sua dinâmica, para que possa ser reduzido e gerenciado de forma integrada e inovadora. A urgência e a importância de fazê-lo nunca foram tão grandes”.

Grandes ameaças

O relatório identifica a seca como o único grande culpado pela perda de produção agrícola, seguida por enchentes, tempestades, pragas e doenças e incêndios florestais. Mais de 34% da perda de produção agrícola e pecuária nos países menos desenvolvidos (LDCs) e os países de baixa e média renda (LMICs) é atribuída à seca, que custou ao setor US$ 37 bilhões no total. A seca afeta a agricultura quase exclusivamente. O setor sustenta 82% de todo o impacto da seca, em comparação com 18% em todos os outros setores.

Pragas agrícolas e do gado, doenças e infestações também se tornaram um importante fator de estresse para o setor. Esses desastres biológicos causaram 9% de todas as perdas de produção agrícola e pecuária no período de 2008 a 2018. A ameaça potencial de desastres desta categoria tornou-se evidente em 2020, quando enormes enxames de gafanhotos do deserto devastaram o Grande Chifre da África, a Península Árabe e o sudoeste da Ásia, destruindo plantações e colocando em risco a segurança alimentar.

Enquanto isso, a pandemia da COVID-19 está colocando um fardo adicional nos sistemas agroalimentares, exacerbando os riscos sistêmicos existentes com efeitos em cascata sobre vidas, meios de subsistência e economias em todo o mundo.

Impactos de desastres na segurança alimentar e nutricional

Os desastres vão além do setor econômico, tendo consequências deletérias para a segurança alimentar e nutricional. Pela primeira vez, esta edição do relatório da FAO converte as perdas econômicas em equivalentes calóricos e nutricionais.

Por exemplo, estima-se que a perda de produção agrícola e pecuária nos LDCs e LMICs entre 2008 e 2018 foi equivalente a uma perda de 6,9 trilhões de quilocalorias por ano. Isso equivale à ingestão anual de calorias de sete milhões de adultos.

Na América Latina e no Caribe, os impactos de desastres durante o mesmo período de tempo convertem-se em uma perda de 975 calorias per capita por dia, representando 40% da dose diária recomendada, seguido pela África (559 calorias) e Ásia (283 calorias).

Um futuro resiliente a desastres é possível

Investir na resiliência e na redução do risco de desastres, especialmente na coleta e análise de dados para ações baseadas em evidências, é de suma importância para garantir o papel crucial da agricultura em alcançar um futuro sustentável, mostra o relatório da FAO.

Respostas holísticas e colaboração intersetorial são fundamentais na resposta a desastres. Os países devem adotar uma abordagem de gestão de risco sistêmico multirisco e multissetorial para antecipar, prevenir, preparar e responder ao risco de desastres na agricultura. As estratégias precisam integrar não apenas os riscos naturais, mas também as ameaças antropogênicas e biológicas, como a pandemia da COVID-19, e devem se basear na compreensão da natureza sistêmica e das interdependências dos riscos.

Inovações como sensoriamento remoto, coleta de informações geoespaciais, drones e robótica para desastres e machine learning são novas ferramentas poderosas de avaliação e coleta de dados que têm muito a oferecer na busca pela redução dos riscos de desastres na agricultura.

Além de uma governança eficiente, é crucial promover parcerias público-privadas para atender à necessidade urgente de investimentos na redução da suscetibilidade da agricultura a desastres e mudanças climáticas.

Sobre o relatório

O relatório recorrente da FAO “O Impacto de Desastres e Crises na Agricultura e na Segurança Alimentar” (em inglês) apresenta as tendências mais recentes na perda de produção agrícola atribuída a desastres em todos os setores agrícolas. A edição de 2021 cobre 457 desastres em 109 países em todas as regiões e categorias de renda, incluindo pela primeira vez países de renda média alta e alta (UMICs e HICs).

Dos 109 países que registraram perdas agrícolas relacionadas a desastres, 94 estão nas categorias de LDC e LMIC, onde 389 desastres prejudicaram a produção agrícola.

 

Da ONU Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/03/2021

 

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