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Equidade Social: Padrões de Consumo nos Hemisférios Norte e o Sul, artigo de José Austerliano Rodrigues

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Equidade Social: Padrões de Consumo nos Hemisférios Norte e o Sul, artigo de José Austerliano Rodrigues

[EcoDebate] Se um estilo de vida é de interesse para ser sustentável, que estilo de vida é este? Existem estilos de vida que devem ser melhorados antes de serem sustentáveis? Diferentes culturas e diferentes pessoas dentro de uma cultura têm padrões de vida amplamente diferentes e a equidade social talvez seja o mais importante conceito em relação ao aspecto social de sustentabilidade.

A equidade social é um objetivo principal para a sustentabilidade no Relatório Brundtland, que inclui em sua definição “as necessidades presentes” bem como “a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.

Estas frases são importantes no reconhecimento tanto da equidade intergeracional quanto intrageracional: o futuro da humanidade e o meio ambiente são obviamente o centro da sustentabilidade, mas não é exatamente ético focar no futuro se as necessidades do presente não são atendidas. Atender as necessidades do presente significa combater a pobreza e proporcionar uma vida melhor. Ações para o atendimento destas finalidades podem ser locais, internacionais, dentro ou entre sociedades.

A literatura em sustentabilidade e ética trata do tema, principalmente em escala internacional, uma vez que sustentabilidade é uma questão global e foca na dicotomia entre o Norte afluente e o Sul empobrecido. Existe um substancial conflito sobre os termos de sustentabilidade dentro desta dicotomia, em dois níveis: se o foco deve ser sobre necessidades de gerações futuras ou de gerações do presente e quem é culpado pela degradação ambiental.

O Norte e o Sul têm prioridades conflitantes em relação à equidade, quando o Norte (incluindo muitos dos proponentes de desenvolvimento sustentável) está preocupado com as gerações futuras, enquanto o Sul está tentando atender as necessidades das gerações do presente (HATT, 2005). Observa-se, assim, que pobreza e riqueza podem ser vistos como questões de sustentabilidade. Assim, uma melhor compreensão da relação complexa entre crescimento econômico e bem-estar individual é necessária. Uma melhor compreensão da relação complexa entre os indivíduos, entre nações e entre sociedades é também necessária.

A teoria da modernização afirma que o crescimento econômico capitalista é o único caminho para atender as necessidades dos mais pobres, bem como proporcionar fundos para preservar os serviços da natureza (HATT, 2005). Relacionada com esta teoria está a modernização ecológica, que defende a transição dos sistemas sociais existentes para sociedades mais sustentáveis através de ações do modelo de crescimento econômico e internalização dos custos ambientais e melhorias em ciência e tecnologia. Malcolm Gillis (2005) afirma que a sustentabilidade pode ser alcançada dentro do sistema econômico atual, ajustando os mercados para refletir, de forma precisa, a importância ambiental nos custos de mercadorias e serviços. Este enfoque se adequa às recomendações do Relatório Brundtland, uma vez que ambos mantêm que a sustentabilidade pode ser alcançada dentro do modelo de crescimento econômico e no centro da modernização ecológica está a confiança na capacidade do capitalismo em se transformar diante da crise ambiental.

A crítica deste enfoque é sobre como a industrialização, a causa da destruição ambiental, pode ser também meio de renovação ambiental (HATT, 2005). Mas, como atender as necessidades sem crescimento econômico? Como proporcionar habitação sem construir casas? Em situações de empobrecimento, o crescimento é necessário? Todos os seres viventes consomem alguma quantidade de recursos para sua sobrevivência.

Portanto não é o consumo, mas o consumo excessivo que causa impactos adversos. Adicionalmente, no conflito entre o Norte e o Sul, o consumo excessivo não é o único meio de destruição ambiental.

Outro ponto principal de discórdia entre o Norte e o Sul é quem ou que práticas são culpados pela degradação ambiental e o que deve ser feito para atenuar esta degradação. Culpar o Norte é culpar a poluição industrial, a emissão de gases de efeito estufa e outros fatores. A ideia de superconsumo mostra que as nações do Norte consomem mais do que deveriam. Culpar o Sul é culpar as práticas destrutivas tais como desmatamento e queimadas que ocorrem nas áreas mais pobres, carentes de regulamentações ambientais. Equidade social significa proporcionar oportunidade igual para todos e implica em proporcionar mercadorias, serviços e tecnologia para os menos privilegiados.

A promoção da equidade social envolve o empoderamento dos menos privilegiados: o poder permite uma voz no processo de tomada de decisão e determina acesso às mercadorias ecológicas (HATT, 2005). Dois conceitos que promovem o empoderamento para se estabelecer maior equidade são: democracia ecológica e justiça ambiental. A democracia ecológica proporciona às pessoas oportunidades iguais para participar do processo de tomada de decisão sobre o meio ambiente.

A justiça ambiental se refere à distribuição igual tanto dos riscos quanto dos recursos ambientais (HATT, 2005). Os dois conceitos estão relacionados para a promoção de equidade, mas a diferença é que a democracia ecológica implica em ações dos menos privilegiados, enquanto a justiça ambiental implica em proporcionar aos menos privilegiados, através de ações da sociedade como um todo. Parece que a justiça ambiental deve ocorrer para facilitar a democracia ecológica, até porque os menos privilegiados estão lutando para garantir a própria sobrevivência, antes de se preocupar com outras questões.

José Austerliano Rodrigues. Doutor em Marketing Sustentável pela UFRJ, com ênfase em Sustentabilidade e Marketing, com interesse em pesquisa em Marketing Sustentável, Sustentabilidade de Marketing, Responsabilidade Social e Comportamento do Consumidor. E-mail: austerlianorodrigues@bol.com.br.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 21/05/2020

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