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O que a comunicação da Cedae fala sobre a água no Rio? artigo de Beatriz Diniz

O que a comunicação da Cedae fala sobre a água no Rio?

[EcoDebate] Verão, cidade do Rio ferve literalmente com altas temperaturas. Tem gente de todo canto turistando, Carnaval antecipado que a prefeitura inventou em ano de eleição. De repente, água com cor, cheiro e gosto. E a Cedae sequer se comunica com a população, seus clientes.

Água é vida, de verdade. Sem água não tem vida pra geral, não tem plantação, não se produz alimentos. A gente depende de água. O direito à água é essencial, básico do básico. Como então a empresa que capta, trata e distribui água no Rio demora dias pra esclarecer a sociedade e não foca em orientar seus clientes?

A rápida resposta da Cedae evitaria pânico e desinformação. No entanto, a direção da Cedae preferiu esperar quando devia ter, imediatamente, divulgado informe com esclarecimentos e orientações em meios de comunicação e em seu site e redes sociais.

A cronologia da omissão

As primeiras reclamações de moradores começaram em 10 bairros das zonas Norte e Oeste da capital no dia 3/1. Água com cor, cheiro e gosto! A direção da Cedae esperou 3 dias pra se pronunciar por nota ao RJTV na segunda 6/1: informou de análises de amostras de água e de análise preliminar com resultado dentro dos padrões de potabilidade, afirmou que a água tá potável e não faz mal à saúde. Na terça 7/1, em outra nota, a Cedae confirmou a geosmina em amostras de água e informou que a substância orgânica proveniente de algas é fenômeno raro que não oferece risco pra saúde.

Só depois de 5 dias, na quarta 8/1, a Cedae destacou o gerente de controle qualidade, Sérgio Marques, pra falar diretamente com a imprensa. Mais do mesmo das notas: é geosmina, tá tudo bem, a água tá boa, é potável. Na quinta 9/1, água com cor, cheiro e gosto também na Baixada, foi quando a Cedae anunciou uma mudança no tratamento da água.

O detalhe importante é que essa mudança não é provisória: a Cedae vai passar a aplicar, em caráter permanente, carvão ativado pulverizado no início do tratamento. Êpa! Então, tem sim problema, primeiro negado, depois minimizado, mal comunicado à sociedade que paga por água tratada e mal disfarçado com a mudança no tratamento.

No site da Cedae [até o dia 14 de janeiro], tem as notas, mas, não tem nenhuma orientação pra população. A imprensa, cumprindo sua função social, não apenas pressionou por informações oficiais como produziu muito conteúdo com esclarecimentos e orientações.

A comunicação de uma empresa ou organização, geralmente, reflete sua direção. Foram 13 dias, depois do início da crise da água no Rio, até o presidente da Cedae, Hélio Cabral, se prestar a dar entrevista coletiva. Pediu desculpas à população e repetiu o o mais do mesmo, que a água tá boa pra beber, que a geosmina, que o carvão ativado… Até ele se comunicar com a sociedade, teve muita pressão da imprensa, da sofrência dos moradores afetados e do medo dos não afetados.

E de onde vem a água que sai pelas torneiras? Dos rios poluídaços!

A Cedae perdeu tempo não se comunicando com a sociedade e negando que água com cor, cheiro e gosto é problema. A geosmina é indicador de toxinas. Provável que mananciais estejam sob risco, altamente impactados por poluição. De certo, falhou o monitoramento, porque é impossível que a empresa, com técnicos e equipamentos, não perceba o que leigos tão vendo, cheirando e sentindo o gosto.

Não vou entrar no mérito da privatização da Cedae nem do aparelhamento político não técnico com a entrega pra lotear cargos – Witzel tava de férias na Disney, não sei quantos dias demorou pra pronunciar nem quando voltou. As secretarias de meio ambiente da capital e do estado, negociadas pra políticos sem conhecimentos da área ambiental, deviam divulgar intensamente orientações à população até a água voltar ao normal. Já na primeira semana do primeiro mês de 2020, a primeira treta ambiental é marcada pela omissão, refletida na falta de rapidez, transparência e noção da gravidade da situação que autoridades demonstram através da comunicação com clientes, famílias, cidadãos.

Agora o que quero destacar, a causa original do problema e sua gravidade: a poluição dos rios. A gente aceita poluição dos rios sem relacionar as águas cheias de esgotos, lixos e resíduos de indústrias e da agropecuária com a água que sai das torneiras. A crise da água no Rio aponta diretamente pro saneamento.

Quanto mais poluídos os rios, maior o investimento necessário pra tratar água pra consumo. Água EXTREMAMENTE poluída tem que ser EXTREMAMENTE tratada para se tornar potável. Água potável não tem cheiro, não tem cor, não tem gosto. Quando tem cheiro, cor e gosto não é mais água potável. Por isso que a mudança no tratamento da água no Rio é permanente. Em algum momento ia dar ruim ignorar que a água chega podre pra ser tratada e não ajustar o tratamento. E deu ruim exatamente quando a crise climática tem seus efeitos mais notados: calorão e chuvonas.

Tanta poluição faz rios chegarem ao colapso ecológico de águas mortas, sem oxigênio. O porém é que rios nem deveriam receber esgotos, lixos e resíduos de indústrias e da agropecuária. A despoluição de rios tem que ser prioridade pra gente e pra qualquer político a gente elege, do executivo ou legislativo.

Rios com águas limpas e acesso à água é condição civilizatória. Rios poluídos representam a força econômica negativa do racismo ambiental, definindo quem acessa ou não água limpa. Afinal, quem tem condições de comprar água mineral pra consumo diário? Não são todas as famílias, não é a maioria dos moradores afetados pela crise da água na capital do Rio e na Baixada Fluminense.

Rios poluidaços deviam causar na gente indignação, gerar protestos e exigência imediata de despoluição. Sabe o que aconteceria se os rios fossem despoluídos? As pessoas teriam acesso direto e gratuito à água doce, correndo limpa em rios pertinho de casa. Imagina!

Pra acessar meus comentários, notícias e orientações sobre a crise da água no Rio: clica aqui nesse link direto pra sequência que preparei no Twitter. E pra saber da conexão entre a crise da água e o colapso ambiental, segue esse link pra sequência da jovem ambientalista Milena Batista.

Beatriz Diniz é Jornalista com Especialização em Gestão Ambiental. Marketêra de conteúdo relevante e Social Media Marketing de meio ambiente e sustentabilidade desde 2009. Colunista voluntária do Voz das Comunidades.

água engarrafada

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 21/01/2020

[cite]

 

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