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Aumenta o número de mortes acidentais de crianças e adolescentes por armas de fogo, afogamento, queimadura e intoxicação no país

Por Vanessa Machado

De 2016 a 2017, o número de mortes por acidentes de crianças e adolescentes de até 14 anos caiu 1,93% no Brasil, passando de 3.733 casos fatais para 3.661, de acordo com os dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde. 

Essa foi a menor queda na mortalidade na infância e adolescência por acidentes observada desde 2011, fato que deve ser observado com atenção pelos gestores públicos que cuidam das áreas da infância e adolescência em âmbito municipal, estadual e federal para evitar que esses casos voltem a aumentar no país. “Esse cenário reforça a necessidade de campanhas educativas contínuas e ações com o poder público para a prevenção de acidentes com crianças”, comenta Vania Schoemberner, coordenadora de Desenvolvimento Institucional da Criança Segura.

Desde 2001, ano que a Criança Segura iniciou sua atuação, houve uma redução de 40,86% no número de mortes de crianças e adolescentes por motivos acidentais no Brasil. Esse resultado é bastante animador, mas ainda há muito a ser feito pois, apesar dessa grande queda nos casos fatais, os acidentes continuam sendo a principal causa de morte de crianças e adolescentes de um a 14 anos no Brasil, superando os casos relacionados a doenças e até mesmo violência. E, especialistas afirmam que 90% dos acidentes poderiam ser evitados com medidas simples de prevenção. Ou seja, ainda hoje milhares crianças perdem sua vida por razões que poderiam ser evitadas.

Dados dos acidentes com crianças em 2017

Um dos motivos que fizeram a redução da quantidade geral de óbitos acidentais das crianças e adolescentes brasileiros ser pequena é que alguns tipos de acidentes apresentaram aumento significativo no número de casos fatais de 2016 para 2017, como os relacionados ao disparo acidental de armas de fogo (+ 95%), afogamentos (+4,49%), queimaduras (+3,83%) e intoxicação (+6,76).

Por outro lado, houve redução nos casos de mortes acidentais de meninas e meninos até 14 anos no trânsito (-7,89%), sufocação (-5,93%) e quedas (-1,09%).

De modo geral, os acidentes que mais tiram vida de crianças e adolescentes no país são, respectivamente, trânsito (1.190), afogamento (954) e sufocação (777).

Entretanto, ao avaliarmos faixas etárias específicas, podemos notar que a sufocação é a principal causa de morte acidental de bebês de até um ano de idade; o afogamento é o acidente que mais tira vida de meninas e meninos de um a quatro anos; e o trânsito é a causa mais fatal para as crianças e adolescentes de cinco a 14 anos. (Veja todas as tabelas com os dados abaixo)

Aumento das mortes por afogamento

As mortes de crianças e adolescentes de até 14 anos por afogamento subiram 4,49% de 2016 para 2017, movimento atípico para a constante redução de óbitos nessa faixa etária que pode ser observada desde 2009. 

Um incremento alto pode ser notado na faixa etária de menores de um ano, que passou de 21 casos fatais em 2016 para 31 em 2017, o que representa um aumento de 47,62%. Entre a faixa etária onde os casos mais se concentram, de um a quatros anos,  também houve aumento de 8%, passando de 407 casos para 439.

A classificação do tipo de afogamento que mais aumentou foi  “afogamento e submersão em águas naturais” – que inclui rios, córregos, mares, lagos etc. – , que é a que mais concentra os casos de mortes por esse tipo de acidente na infância. O número de casos subiu de 339 em 2016 para 393 em 2017.

Mortes acidentais de crianças e adolescentes por arma de fogo

Apesar de pouco representativo no total de mortes acidentais de crianças e adolescentes, o número de óbitos por disparo acidental de armas de fogo quase dobrou de 2016 para 2017, passando de 20 para 39 vítimas em um ano.

Houve aumento no número de casos na faixa etária que vai de um a 14 anos, principalmente entre meninas e meninos de um a quatro anos, onde a quantidade de casos fatais subiu 350%, passando de 2 para 9 mortes. Entre as crianças de cinco a nove anos o crescimento dos óbitos por esse motivo foi de 7 para 12 (+71,42%). Em relação à população de dez a 14 anos os casos passaram de 9 para 17 (+8,88%).

Esse dado é bastante preocupante e deve ser monitorado atentamente, principalmente com a mudança da legislação que pretende facilitar o acesso a armas de fogo no país.

Número de mortes de crianças e adolescentes de zero a 14 anos por tipo de acidente:

Classificação

Tipo de acidente

Nº de mortes

Trânsito

1190

Afogamento

954

Sufocação

777

Queimadura

217

Quedas

181

Intoxicação

79

Armas de fogo

39

Outros

224

Total

3661

Fonte: Datasus – 2017 / Análise: Criança Segura – 2019

Número de mortes por acidentes de crianças de zero a 14 anos por faixa etária:

Tipo de acidente

Menor 1 ano

1 a 4 anos

5 a 9 anos

10 a 14 anos

Total

Trânsito

92

281

324

493

1190

Queda

42

52

46

41

181

Afogamento

31

439

190

294

954

Sufocação

581

115

46

35

777

Queimadura

27

81

44

65

217

Intoxicação

5

35

19

20

79

Arma de fogo

1

9

12

17

39

Outros

20

83

67

54

224

Total

799

1095

748

1019

3661

Fonte: Datasus – 2017 / Análise: Criança Segura – 2019

Variação do número de mortes por acidentes de crianças de zero a 14 anos de 2001 a 2017:

Tipo de acidente

2001

2016

2017

Variação 2016/2017

Variação 2001/2017

Trânsito

2490

1292

1190

-7,89

-52,21

Queda

315

183

181

-1,09

-42,54

Afogamento

1548

913

954

4,49

-38,37

Sufocação

736

826

777

-5,93

5,57

Queimadura

452

209

217

3,83

-51,99

Intoxicação

92

74

79

6,76

-14,13

Arma de fogo

63

20

39

95,00

-38,10

Outros

494

216

224

3,70

-54,66

Total

6190

3733

3661

-1,93

-40,86

Fonte: Datasus – 2001, 2016, 2017 / Análise: Criança Segura – 2019

Taxa de mortes por acidentes de crianças e adolescentes de zero a 14 anos por estado:

Unidade da Federação

Taxa de morte por 100 mil habitantes até 14 anos

Roraima

24,71

Amapá

16,66

Mato Grosso

13,98

Amazonas

12,74

Mato Grosso do Sul

10,93

Goiás

10,16

Rondônia

9,98

Acre

9,97

Pará

9,88

Espírito Santo

9,64

Rio de Janeiro

9,41

Tocantins

9,26

Maranhão

8,83

Rio Grande do Sul

8,7

Paraná

8,6

Piauí

8,4

Alagoas

8,04

Distrito Federal

8,04

Santa Catarina

7,78

Pernambuco

7,28

Bahia

7,28

Sergipe

7,11

Minas Gerais

6,84

Paraíba

6,24

São Paulo

5,63

Ceará

5,51

Rio Grande do Norte

5,25

Brasil

7,9

Fonte: Datasus – 2017; IBGE / Análise: Criança Segura – 2019

Número de mortes por acidentes de crianças e adolescentes por estado:

UF

Trânsito

Queda

Afogamento

Sufocação

Queimadura

Intoxicação

Arma
de fogo

Outros

Total

RO

15

2

15

3

1

1

3

4

44

AC

10

3

7

3

1

2

26

AM

23

7

67

19

9

9

10

12

156

RR

5

13

7

2

6

2

4

39

PA

46

22

116

21

9

2

3

16

235

AP

7

1

26

3

4

41

TO

20

2

6

5

3

2

38

MA

51

10

56

21

25

4

3

14

184

PI

30

4

18

4

3

3

2

4

68

CE

36

6

42

17

9

1

9

120

RN

9

3

15

8

6

2

43

PB

17

5

14

17

8

61

PE

43

4

48

45

19

1

6

166

AL

26

5

22

8

10

1

1

73

SE

10

1

15

7

3

4

40

BA

89

14

87

29

18

7

2

17

263

MG

139

13

62

32

11

16

2

21

296

ES

30

8

14

20

3

3

4

82

RJ

70

19

44

132

9

5

24

303

SP

162

29

72

183

20

9

30

505

PR

84

5

29

64

6

1

3

10

202

SC

51

1

25

16

7

2

2

4

108

RS

67

3

38

52

10

1

6

9

186

MS

17

1

17

24

3

2

6

70

MT

50

4

33

13

3

1

8

112

GO

61

8

39

18

13

2

9

150

DF

22

1

14

6

3

2

2

50

Total

1190

181

954

777

217

79

39

224

3661

Fonte: Datasus – 2017 / Análise: Criança Segura – 2019

A Criança Segura

A Criança Segura é uma não governamental, sem fins lucrativos, dedicada à prevenção de acidentes com crianças e adolescentes de até 14 anos. A organização atua no Brasil desde 2001 e faz parte da rede internacional Safe Kids Worldwide, fundada em 1987, nos Estados Unidos, pelo cirurgião pediatra brasileiro, Martin Eichelberger.

www.criancasegura.org.br

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 15/07/2019

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