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Artigo

A queda da fecundidade nos EUA, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

[EcoDebate] A taxa de fecundidade total (TFT) nos Estados Unidos (EUA) estava em torno de 7 filhos por mulher nas primeiras décadas depois da Independência do país (em 1776). Mas ela caiu ao longo do século XIX e chegou ao nível mais baixo da série histórica (em torno de 2 filhos por mulher) durante a grande depressão dos anos de 1930. Com o fim da Segunda Guerra e com o boom econômico que se seguiu a TFT chegou ao redor de 3,5 filhos por mulher entre 1950 e 1965.

Mas a TFT voltou a cair e chegou a 2 filhos por mulher no quinquênio 1970-75 e a 1,77 filho por mulher no quinquênio 1975-80 (menor nível em toda a história americana). Nos anos seguintes houve uma ligeira recuperação e a TFT ficou em torno de 2 filhos por mulher entre 1990 e 2010. Mas com a recessão de 2008/09, a TFT ficou em 1,88 filho por mulher, no quinquênio 2010-15. A Divisão de População da ONU estima que a TFT vai aumentar ligeiramente no restante do século, conforme mostra o gráfico abaixo, permanecendo em torno de 2 filhos por mulher.

 

taxa de fecundidade total nos EUA

 

Contudo, o futuro pode não repetir o passado e os EUA podem estar iniciando uma Era de baixa fecundidade. Dados do CDC (Centers for Disease Control and Prevention) mostram que a taxa de fecundidade geral (número de nascimentos por 1000 mulheres de 15-44 anos) dos EUA continua caindo mesmo em 2017 e 2018, que foram anos de grande desempenho econômico. A tabela abaixo mostra que a taxa de fecundidade geral caiu de 62,5 no primeiro quadrimestre de 2016 para 59,8 no segundo quadrimestre de 2018 (o nível mais baixo da história).

As taxas específicas, conforme o gráfico abaixo, mostram que a fecundidade continua caindo nas idades de 15 a 29 anos. Entre as adolescentes (15-19 anos) a taxa caiu de 21,8 no primeiro quadrimestre de 2016 para 18,1 no segundo quadrimestre de 2018. No mesmo período, entre as jovens de 20-24 anos a queda foi de 76,2 para 69,8 e entre as mulheres de 25-29 anos a redução foi de 103,7 para 96,7 nascimentos para cada 1000 mulheres.

No grupo 20-34 anos a queda foi bem menor, passando de 102,0 para 100,1 entre o primeiro quadrimestre de 2016 para o segundo quadrimestre de 2018. Isto quer dizer que a cúspide da fecundidade passou da coorte de 25-29 anos para 30-34 anos. Ou seja, está havendo um envelhecimento da estrutura por idade da fecundidade. Isto fica claro ao verificar que entre as idades de 35 a 44 anos também houve ligeiro aumento da taxa de fecundidade geral.

 

a queda da fecundidade nos EUA

 

O gráfico abaixo deixa mais claro o processo de envelhecimento da estrutura etária da fecundidade. Nota-se que no grupo adolescente (15-19 anos) a taxa específica de fecundidade estava acima de 50 por mil em 1990 e caiu para menos de 20 por mil em 2017. Os grupos etários acima de 30 anos apresentaram taxas crescentes, enquanto os grupos etários com menos de 30 anos apresentaram taxas declinantes. No início da década de 1990, as maiores taxas estavam nos grupos 20-24 e 25-29 anos, mas em 2017 a cúspide ficou no grupo 30-34 anos.

 

taxa geral de fecundidade, por idade da mãe, EUA

 

Estudos e pesquisas recentes mostram que a fecundidade nos EUA deve continuar diminuindo, pois cresce o número de pessoas que não desejam ter filhos. Artigo de Frejka (2017) mostra que o número de mulheres no final do período reprodutivo sem filho (childless) subiu de cerca de 7% no início da década de 1970 para cerca de 15% na primeira década do século XXI. Pesquisa do Instituto PEW mostra que 71% das pessoas com menos de 50 anos e com filhos nos EUA não querem ter novas crianças e, entre os adultos sem filhos, na mesma faixa etária, 37% dizem que não esperam jamais formar uma prole (serão childlessness).

Tudo indica que a projeção da ONU está superestimada e dificilmente a TFT ficará em torno de 2 filhos por mulher ao longo do século XX. O mais provável é uma fecundidade abaixo de 1,8 filho por mulher nas próximas décadas.

 

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

Referências:

Gretchen Livingston and Juliana Menasce Horowitz. Most parents – and many non-parents – don’t expect to have kids in the future, PEW, 02/12/2018
http://www.pewresearch.org/fact-tank/2018/12/12/most-parents-and-many-non-parents-dont-expect-to-have-kids-in-the-future/

Frejka, T. 2017. Childlessness in the United States. In: Kreyenfeld, M. and Konietzka, D. (eds.). Childlessness in Europe: Contexts, causes, and consequences. Cham: Springer International: p. 159-179. Doi: 10.1007/978-3-319- 44667-7_7.
https://www.researchgate.net/publication/311349695_Childlessness_in_the_United_States

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 08/04/2019

[cite]

 

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