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A face mais evidenciada das questões ambientais, artigo de Roberto Naime

 

A face mais evidenciada das questões ambientais, artigo de Roberto Naime

Questões Ambientais – Cada vez mais se desenvolvem concepções colaborativas entre a cidadania, para desenvolver soluções autônomas

 

lixo e esgoto

 

[EcoDebate] Por muito tempo a questão ambiental era mais percebida e evidenciada a partir da acumulação de resíduos sólidos. Para o bem e para o mal, as dificuldades na disponibilização de água e no preenchimento de reservatórios de barragens com água, para geração energética, acabou deslocando o eixo de sensibilização para a questão da água e da geração de energia.

Poderia se argumentar que os temas se entrelaçam. O que é verdadeiro, porque o descarte inadequado de resíduos sólidos em mananciais de recursos hídricos também afeta a questão.

Em evento recente, a Federação e o Centro de Indústrias do estado de São Paulo patrocinaram importante encontro para disseminação e avaliação da experiência britânica em gestão de água e resíduos sólidos, em seminário internacional.

O seminário foi centrado em soluções empresariais, no contexto de uma sociedade condicionada para priorizar implantações de baixo carbono e resíduo zero. Complementa o cenário emoldurado, a concepção de que os desafios por maiores que sejam, devem ser enfrentados com a noção de que são proporcionais às oportunidades que patrocinam.

Numa sociedade em que preponderam iniciativas de caráter privado, sustentadas economicamente por mecanismos desta natureza, ficam evidenciadas as diferenciações mais notórias com Brasil, onde predominam atribuições públicas, que podem ser exercidas de forma direta ou por formas jurídicas de concessão dos serviços. Em ambas, a realidade e ainda mais considerando o nível de renda das populações, não são garantidas as condições de financiamento privado das soluções a serem implantadas.

No Brasil, a universalização da geração energética para solução da questão de resíduos sólidos, encontra resistência e oposição dos agentes ambientais, que temem não terem sua atividade protegida e os mecanismos de geração energética abrangerem os resíduos recicláveis, que lhes garantem ocupação e renda.

Por isto não adianta as empresas inglesas se disporem a realização de parcerias público-privadas. Sempre existe o temor que a gestão global do empreendimento não se adeque às realidades locais, fato muito exacerbado pela tradição histórica de dificuldade de gestão apresentada pelo setor público do país.

Na falta de ação, acaba ocorrendo destinação inadequada de resíduos sólidos, que inclui cursos d’água, dificultando a manutenção da qualidade dos recursos hídricos e até mesmo de sua quantidade para potabilização e disposição pública.

Mas o que o atual cenário existencial emoldura é que no momento presente, seja devido a consequências das alterações climáticas, ou seja, por desequilíbrios ambientais que não mais suportem atenuações cosméticas, se atingiu uma situação de carência hídrica geral que atinge a todas as pessoas e também a espectros de situações energéticas restritivas, que também atingem a todos.

Por estas razões não são mais apenas as acumulações de resíduos sólidos que assustam e evidenciam a matriz mais visível da questão ambiental ou da sustentabilidade. Esta posição de hegemonia dos resíduos sólidos nas questões ambientais foi superada pelos quadros dramáticos da água e da energia. Produzindo uma visão de maior abrangência, englobando a própria sustentabilidade e não mais apenas a questão do meio ambiente.

Diante das dificuldades que a gestão pública demonstra nas intervenções que realiza para minimizar e atenuar, ou resolver o problema social, cada vez mais se desenvolvem concepções colaborativas entre a cidadania, para desenvolver soluções autônomas.

Assim, tanto na Europa, precursora destes movimentos, como por aqui, se projetam soluções que hegemonizam independência e completa autonomia em regime social colaborativo. Assim, se planejam bairros residenciais integrados, onde as unidades familiares produzam sua própria energia a partir de fontes solares ou eólicas, captem e reutilizem ou empreguem racionalmente seus recursos hídricos, produzam seus hortifrutigranjeiros de maneira complementar e colaborativa em espaços comuns, previamente planejados. Destinem e processem adequadamente seus resíduos sólidos para compostagem ou reciclagem, administrem sua segurança e sua mobilidade dentro do possível. E até destinem ou reutilizem adequadamente seus efluentes domésticos tratados.

O que antes pareciam utopias de Tomás Morus ou cidades do sol de Tomás Campanella, para relembrar apenas dois marcos literários, hoje se disseminam rapidamente como um conceito. Uma concepção nascida das necessidades modernas e de carências estatais no atendimento adequado de todas as demandas sociais que emergem das realidades cotidianas.

Apenas se lamenta que, sejam necessárias a concretização das carências estruturais dos entes estatais, com suas dificuldades operacionais sistêmicas e dificuldades de coordenação na gestão, governança e conformidade, e a materialização de desequilíbrios ambientais que não suportem meras atenuações, para que a sociedade como um todo supere paradigmas de consciência e produza novas, abrangentes e eficientes soluções.

Por isso é possível e racional acreditar que a sociedade humana vai superar todas as questões ambientais ou de sustentabilidade, e até derivadas da sociedade de consumo que geram aflições e produzem cenários de descontinuidade. É uma pena que isto não ocorra de forma preventiva ou pró-ativa e se materializa somente em condições reativas, mas enfim, isto é secundário, independente das composições de custo resultantes.

O que importa é que a mudança de postura, a alteração de paradigma, ou seja, o fato, e isto realmente ocorre.

 

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/12/2018

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