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Sustentabilidade: uma encruzilhada civilizatória, por Prof.Carlos Júlio Jara

Sustentabilidade: uma encruzilhada civilizatória, por Prof.Carlos Júlio Jara

Uma análise do Professor Eurico Leite Lisboa

 

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[EcoDebate] Lendo os artigos do Professor Carlos Jara, especificamente sobre a matéria em referência, fiquei impressionado com a exposição clara dessa reflexão acerca dos perigos que a humanidade está submetida a cada dia que passa, com a destruição iminente das nossas riquezas naturais, contida nas florestas, rios e mar, bem como suas respectivas populações.

Os modelos econômicos economicistas confundem crescimento com desenvolvimento, levando em consideração apenas os aspectos quantitativos e distributivos das riquezas produtivas, abdicando dos valores sociais nesse processo. Assim, tomei a liberdade de realizar uma análise, em parte, de pontos significativos desse tema que segue abaixo:

Prof. Carlos Jara : A natureza está ameaçada:

Análise Prof. Eurico Lisboa: Os desmatamentos de grandes reservas florestais, comércio ilegal da fauna e flora e mortandade de peixes pela excessiva poluição das águas, emissões de gases altamente poluentes na atmosfera pelas indústrias; Grandes concentrações produtivas nas zonas urbanas sem controles adequados da qualidade do ar, promovem a destruição do ecossistema e de todas as formas de vida que dependem desse manancial.

Prof. Carlos Jara: A humanidade encontra-se numa encruzilhada civilizatória:

Análise Prof. Eurico Lisboa: Essa encruzilhada civilizatória indica apenas duas opções para a humanidade, isto é, ou reage diante dos tais problemas, buscando soluções rápidas e duradouras ou assistirá passivamente a destruição do planeta e com ele a própria humanidade inerte,atônita e incapaz de reagir e decidir o melhor caminho que deseja seguir.

Prof. Carlos Jara: Precisamos desenvolver um novo conjunto de significados, um novo senso de valores capazes de redefinir nossas prioridades, na direção de um futuro justo, equitativo, solidário e ambientalmente sustentável.

Análise Prof. Eurico Lisboa: A própria Constituição Federa já trata diretamente desse assunto no seu Art.225 CF: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Se todos têm direitos também têm deveres, pois o bem é público e coletivo. A qualidade de vida requerida por todos não é causa e sim consequência, pelo dever de defender o ambiente e preservá-lo. Compreender esses valores e significados é de nossa responsabilidade ensejando a priorização de ações que garantam um ambiente ecologicamente equilibrado.

Prof. Carlos Jara: Fomos capazes de construir um grande progresso material, um reino de artefatos e imagens produtores de riquezas, bem como de criar uma economia mundializada, onde quase não existe uma área do planeta que possa fugir do modo de produção dominante:

Análise Prof. Eurico Lisboa: A cultura desenvolvimentista que se criou no Brasil a partir da década de 70, instituiu certos parâmetros economicistas, distributivos e gerador do maior flagelo social do pais: A desigualdade social. Nesse contexto, emergiu o conceito de Sustentabilidade (Relatório Burtland 1987), que contradiz explicitamente as práticas dominantes, que se fundamentam no princípio do equilíbrio das três dimensões da sustentabilidade, isto é, Ecológica: pela conservação dos ecossistemas e pelo manejo racional do meio ambiente e recursos naturais.Econômica: promovendo atividades produtivas razoavelmente rentáveis preocupadas mais com a qualidade da vida que na quantidade da produção, que tenham relativa permanência no tempo.Social: as atividades e o conteúdo dos processos de desenvolvimento são compatíveis com os valores culturais e com as expectativas das sociedades. Existe uma base de consenso entre os atores sociais participantes que permite controlar as decisões e as ações que afetam seu destino.

Prof. Carlos Jara: Por outro lado, somos testemunhas de um mundo socialmente polarizado e ambientalmente degradado. Sofremos com as patologias da pobreza, com a crescente concentração de renda nos segmentos superiores da sociedade, com a persistente exclusão dos trabalhadores, com as injustiças extremas e com a desenfreada degradação ambiental no mundo contemporâneo:

Análise Prof. Eurico Lisboa: A pobreza sempre foi o grande flagelo da humanidade, como produto da má distribuição de renda que cada vez mais contribui com o aumento da desigualdade social. Com ela enraíza-se uma profunda dor da imoralidade, acarretando uma enorme lacuna de diferenças deixando cicatrizes irreparáveis na humanidade, como escreve Gilberto Gil em sua música “ E lá vai passando a procissão se arrastando que nem cobra pelo chão”. A consequência disso é o ataque iminente às reservas florestais, as matas ciliares, o lixo, a doença, a dor e a infelicidade. Esse é o retrato de uma sociedade depredada pela ganância de poucos levando a maioria ao infortúnio inevitável. Esta é uma sociedade sem corpo e sem alma.

Prof. Carlos Jara: As nossas sociedades caminham por uma rota grávida de perigos, anomalias, vulnerabilidades e agressões. E o que é mais preocupante, estamos cada vez mais convencidos de que o caminho atual da cultura do desenvolvimento indiscriminado é insustentável e está pondo em risco nossa própria sobrevivência.

Análise Prof. Eurico Lisboa: É claro que nesse contexto, “grávida de perigos” subentende-se alta periculosidade potencial para a destruição, a partir da eliminação gradativa das possibilidades das nossas riquezas naturais, a pretexto do desenvolvimento. A lógica economicista cega a humanidade industrial capitalista, na sua permanente busca ao lucro, esquecendo sua natureza básica do “home sapien”, que necessita em essência de mecanismos de preservação adequados à sustentabilidade do presente assegurando o provimento das gerações futuras. O que estamos assistindo, inertemente, é um suicídio ecológico que condena paulatinamente a civilização ao ostracismo e ainda tendo que pagar até pelo ar que respira, sem contar com a finitude do bem maior da sobrevivência que é a água.

Prof. Carlos Jara: Assim chegamos numa encruzilhada civilizatória. Ou continuamos no sentido do crescimento quantitativo, a toda velocidade, até destruir o nosso sistema de apoio natural, ou mudamos o curso.

Análise Prof. Eurico Lisboa: Essa encruzilhada civilizatória, nesse contexto, indica uma tendência da humanidade, em face do modelo produtivo da atualidade, que prescreve uma prática produtiva quantitativa e economicista, que agride o sistema natural, de sucumbir diante da destruição e eliminação dos recursos disponíveis, condenando a humanidade a perecer pelas suas próprias mãos.

Prof. Carlos Jara: Queremos fortalecer a solidariedade generalizada e proteger o futuro daqueles que ainda não nasceram.

Análise Prof. Eurico Lisboa: Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland. Apresentado em 1987, propõe o desenvolvimento sustentável, que é “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades”. Sob o ponto de vista teórico está ótimo ! Entretanto, há de se considerar que faz-se necessário que as instituições entendam o conceito de “Desenvolvimento Sustentável” de forma ampla e irrestrita, levando-o às práticas por intermédio de modelo econômico que prestigie a redistribuição equitativa da produção das riquezas entre aqueles que a produziram e também à preservação do manancial dos recursos naturais existentes, garantindo o sustento do presente, sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas necessidades.

Prof. Carlos Jara: O pensamento econômico contemporâneo está obcecado com o crescimento isento de qualquer qualificação. A deterioração do meio ambiente, a perda do equilíbrio natural, não é resultado dos processos de desenvolvimento em geral, mas principalmente do estilo de crescimento indiscriminado que é intrinsecamente insustentável em termos ecológicos e extremamente injusto em termos sociais. É preciso uma mudança tanto quantitativa quanto qualitativa nesse estilo.

Análise Prof. Eurico Lisboa: Conforme já citado nas análises anteriores, o pensamento econômicos obsessivo pelo lucro, de características distributivas e economicista, o processo indiscriminado de crescimento, propiciam uma grande ruptura nos mananciais ecológicos, além da perda do equilíbrio natural em seus seguimentos, prejudicando substancialmente a recuperação desses ecossistemas, com sérios reflexos insustentáveis em termos ecológicos e extremamente injusto em termos sociais.

Prof. Carlos Jara: A década dos anos noventa constitui um complexo período de transição e rápidas mudanças no que diz respeito ao papel dos recursos naturais no processo de desenvolvimento socioeconômico. Somos testemunhas de um crescente movimento social de tomada de consciência do impacto sobre o meio ambiente que é produzido pelos atuais padrões de crescimento econômico, procurando encontrar alternativas de desenvolvimento que permitam satisfazer, de forma adequada, às necessidades e aspirações das populações presentes sem comprometer o bem-estar das gerações futuras.

Análise Prof. Eurico Lisboa: Foi na década de 70 que teve início o movimento pró-ecológico em todo Brasil, meio que na aba do “ milagre econômico brasileiro”, quando os ecologistas de ofício buscaram sensibilizar a sociedade para uma realidade ambiental destrutiva em curso a mercê do desenvolvimento. A complexidade no trato do assunto se constituiu em face da ausência de padrões de conhecimentos orientados à educação de crianças e jovens adolescentes nas escolas públicas e menos ainda nas escolas particulares, cujos currículos mínimos não contemplavam absolutamente nada em termos ambientais.

Prof. Carlos Jara: O conceito de desenvolvimento sustentável

Análise Prof. Eurico Lisboa: Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland. Apresentado em 1987, propõe o desenvolvimento sustentável, cujo conceito é: “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades”. Essa se constitui na lógica principal do desenvolvimento, respeitando o tripé: Equilíbrio Econômico, com modelo adequado ao desenvolvimento que distribua equitativamente o produto da riqueza produzida; Equilíbrio Social, com participação da sociedade na riqueza que produz; e Equilíbrio Ambiental, respeitando os limites dos ecossistemas, mananciais e exploração dos recursos naturais de maneira racional e sustentável.

Prof. Carlos Jara: A ideia de sustentável, nos dicionários, indica algo capaz de ser suportável, duradouro e conservável, apresentando uma imagem de continuidade. É difícil definir desenvolvimento sustentável partindo da perspectiva dos países pobres. Trata-se da emergência de um novo paradigma para orientação dos processos, de uma reavaliação dos relacionamentos da economia e da sociedade com a natureza e do estado com a sociedade civil.

Análise Prof. Eurico Lisboa: Essas premissas certamente estão alicerçadas na educação. Assim, quanto maior for o nível educacional de um povo maior será a compreensão dessa realidade que se constitui em celeiro de sustentação presente e futura da humanidade e necessita que as ações preconizem extração, preservação e sustentabilidade.

Prof. Carlos Jara: A palavra sustentabilidade como ideia isolada não tem muito sentido. Trata-se de um conceito relacional e de um objetivo a perseguir . É muito conhecido o conceito de desenvolvimento sustentável estabelecido em 1987 no Relatório da Comissão Bruntland, como processo que “busca satisfazer as necessidades e aspirações do presente, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras para atender a suas próprias necessidades”. Ou como “um processo de mudança no qual a exploração dos recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão de acordo com as necessidades atuais e futuras”.

Analise Prof. Eurico Lisboa: Sustentabilidade implica em efeito e não causa, logo, trata-se de um processo contínuo respaldado no equilíbrio entre o que se produz com o que se consome; entre o que se extrai com o que se preserva. Ademais, ações de reposição das perdas naturais pela extração são necessárias para a revitalização permanente dos recursos.

Prof. Carlos Jara: Está implícita, nessa concepção, a preocupação social pelas condições de vida da comunidades. O relatório aspira a um mundo mais humano e enfatiza que a redução da pobreza é precondição para um desenvolvimento ambientalmente humano. Nesse processo de mudança, orientado para satisfazer necessidades e aspirações, fica também implícita a mesma visão dominante de que todos os seres e os recursos estão à disposição do homem, disponíveis para realizar seus desejos de consumo indiscriminado, traduzindo um triste significado antropocêntrico.

Análise Prof. Eurico Lisboa: Não se pode admitir a exaustão dos recursos, sob pretexto do atendimento das necessidades imediatas. Precisa haver uma possibilidade, um modelo produtivo que propicie a recuperação dos mananciais exauridos pela motivação alimentar, restituindo ao ambiente as condições mínimas necessárias à retomada da condição anterior ou no mínimo próxima, mas, precisamos amadurecer um nova consciência orientada à sobrevivência presente e futura percebida hoje.

Prof. Carlos Jara: O desenvolvimento sustentável refere-se aos processos de mudança sociopolítica, socioeconômica e institucional que visam assegurar a satisfação das necessidades básicas da população e a equidade social, tanto no presente quanto no futuro, promovendo oportunidades de bem-estar econômico que, além do mais, sejam compatíveis com as circunstâncias ecológicas de longo prazo.

Análise Prof. Eurico Lisboa: Parece que há um abismo muito grande entre o que se deseja em “assegurar a satisfação das necessidades básicas da população e a equidade social” com as ideologias políticas manipulativas reinantes, que destroem a pureza do povo a serviço do engodo e da corrupção através do poder político. Dá a impressão que se trata de uma Utopia, um sonho irrealizável. Mas, considerando que a esperança é a última que morre, percebe-se alguns movimentos que aos poucos vão restituindo a credibilidade da restauração do todo, a partir da transformação da parte.

Jara: Para concretizar o desenvolvimento sustentável, é preciso caminhar por territórios teóricos e metodológicos inexplorados, indo além do convencional, tentando uma reconciliação dos postulados econômicos e sociais com os princípios ambientais e leis naturais. Nosso futuro, demanda uma nova visão e gestão do desenvolvimento à luz de postulados interdependentes de equidade social, equilíbrio ambiental, bem-estar econômico e autodeterminação política.

Análise Prof. Eurico Lisboa: Vê-se com bons olhos a atuação das academias universitárias, produzindo conhecimentos e compartilhando com a sociedade, especialmente no campo ambiental, tema de largo espectro e de fundamental importância para a humanidade. Precisa apenas corrigir os rumos direcionando esses conhecimentos à sociedade industrial, adaptando e incorporando conceitos terminológicos à realidade dos agentes econômicos, sociais e ambientais.

Professor Carlos Julio Jara
Especialista e Diretor de Desenvolvimento Rural Sustentável do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA. Professor de Sociologia, Economia Agrária e Modelos de Desenvolvimento da Universidade Católica de Quito-Equador.

Professor Eurico Leite Lisboa

Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal de Sergipe (2005) e Administrador pela Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro(1978). Gestor Público Ambiental. elisboa4@gmail.com

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 09/10/2018

[cite]

 

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