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Artigo

Expectativas mágicas, artigo de Montserrat Martins

 

artigo de opinião

 

[EcoDebate] O que há por trás da “guerra civil moral” nas redes sociais, em que as pessoas acusam os candidatos dos outros e promovem os seus? O grande paradoxo das defesas apaixonadas que os eleitores fazem, é que esperam um “produto” que, caso eleito, talvez não seja o que imaginam. O candidato militar tem condições de restaurar as condições de vida que tínhamos nos governos militares? Ou o candidato lulista, de reviver o período favorável à economia daquela época? Ou os demais candidatos que prometem “unir o país” tem condições de cumprir essa promessa?

Os governos militares, por exemplo, foram nacionalistas, se valeram do Estado para investir em infra-estrutura e tinham um Código Florestal que protegia o ambiente. Antes daquela época, já Rondon fora um militar com conceitos avançados de sustentabilidade. Bolsonaro, ao contrário, se diz claramente contra os órgãos estatais e contra áreas de preservação ambiental. Se a área de segurança fosse simples, a intervenção federal no Rio já tinha resolvido. Os governos dos militares, ao contrário do atual, acreditavam em projetos sociais, como o BNH, de habitação.

O candidato lulista deu uma declaração de que “golpe é uma palavra muito forte”, feita para restaurar alianças eleitorais com partidos que apoiaram o impeachment. Quando o governo Lula conseguiu manter a economia aquecida, tinha um vice-presidente empresário (José Alencar) e contava com uma ampla coalizão centrista, que ruiu com sua sucessora. Hoje, Haddad tem uma base estreita, que terá dificuldades de ampliar.

Outros candidatos, não sendo do PT nem Bolsonaro, já falaram em unir o país, mas dificilmente conseguiriam isso. Ciro já disse que desejava cativar os eleitores de Bolsonaro e talvez por isso goste de dar declarações fortes, populistas, mas acabou tão alinhado com o PT que ficou de um lado da equação. Marina Silva foi considerada “de direita” quando apoiou o impeachment da Dilma e a Lava Jato, mas sofre os mesmos ataques da direita por ser uma “ex-ministra do Lula”. Geraldo Alckmin poderia, nesse contexto, tentar passar uma imagem mais equilibrada, de gestor, mas sua linha de propaganda na TV se concentrou em atacar todos ao invés de tentar promover as próprias qualidades.

Nos bastidores da política, se sabe que ser Presidente não dá poderes a ninguém de resolver os problemas do país num golpe de caneta, mas é preciso alimentar a esperança dos eleitores. Sim, é muito importante quem será eleito – não só para o governo mas também para a Câmara Federal e o Senado – mas o que acontecerá depois disso é uma grande incógnita.

A única certeza é a decepção dos eleitores que alimentam expectativas mágicas.

 

Montserrat Martins, Colunista do EcoDebate, é Psiquiatra, autor de “Em busca da alma do Brasil”

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/09/2018

[cite]

 

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