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Artigo

O mundo desperdiçou 1,74 trilhão de dólares em despesas militares em 2017, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

“Imagine there’s no countries
It isn’t hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people living life in peace”
John Lennon

 

despesas militares globais: 1988-2017

 

[EcoDebate] Enquanto a sociedade civil luta para reduzir a pobreza e salvar o meio ambiente, os governos continuam gastando rios de dinheiro com despesas de guerra e com o poderio bélico para manter a hegemonia global e para reprimir os conflitos internos. Enquanto as campanhas ambientalistas incentivem os indivíduos a fazerem sua parte na defesa do meio ambiente, as autoridades constituídas continuam esterilizando grandes volumes de recursos em gastos militares improdutivos e letais. A produção de armas e instrumentos de destruição em massa, no mundo, contrasta com a falta de recursos para produzir alimentos orgânicos, energias renováveis e investimentos em saúde e educação da população global.

O relatório de 2018 do Instituto Internacional para a Investigação da Paz de Estocolmo (SIPRI – Stockholm International Peace Research Institute) mostra que os gastos militares no mundo chegaram à impressionante cifra de US$ 1.739.000.000.000,00 (um trilhão e setecentos e trinta e nove bilhões de dólares) no ano passado. E este valor vem subindo nas duas últimas décadas. O total de gastos militares em 2017, subiu 1,1% em termos reais em relação a 2016.

As despesas militares na Ásia e na Oceania aumentaram pelo 29º ano consecutivo. A China, o segundo maior gastador global, aumentou seus gastos militares em 5,6% para US$ 228 bilhões em 2017. Os gastos da China como parcela das despesas militares mundiais aumentaram de 5,8% em 2008 para 13% em 2017. A Índia gastou US$ 63,9 bilhões em suas forças armadas em 2017, um aumento de 5,5% em comparação com 2016, enquanto os gastos da Coreia do Sul, de US$ 39,2 bilhões, aumentaram 1,7% entre 2016 e 2017. As tensões entre a China e muitos de seus vizinhos continuam impulsionando o crescimento dos gastos militares na Ásia.

Conduzidos, em parte, pela percepção de uma crescente ameaça da Rússia, os gastos militares na Europa Central e Ocidental aumentaram em 2017, em 12% e 1,7%, respectivamente. Muitos países europeus são membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e, nesse contexto, concordaram em aumentar seus gastos militares. O total de gastos militares de todos os 29 membros da OTAN foi de US$ 900 bilhões em 2017, representando 52% dos gastos mundiais. E o presidente Donald Trump pressiona por gastos ainda maiores da OTAN.

Os gastos militares no Oriente Médio aumentaram 6,2% em 2017. Os gastos da Arábia Saudita aumentaram 9,2% em 2017 após uma queda em 2016. Com gastos de US$ 69,4 bilhões, a Arábia Saudita teve o terceiro gasto militar mais alto do mundo. O Irã (19%) e o Iraque (22%) também registraram aumentos significativos nos gastos militares em 2017.

Os Estados Unidos continuam a ter o maior volume de gasto militar do mundo. Em 2017, os EUA gastaram mais com as suas forças armadas do que os sete países que mais gastaram juntos. Em US$ 610 bilhões, os gastos militares dos EUA permaneceram inalterados entre 2016 e 2017. Mas a tendência de queda nos gastos militares dos EUA que começou em 2010 chegou ao fim e as despesas de guerra dos EUA, em 2018, devem aumentar significativamente para apoiar o aumento de pessoal militar e a modernização de armas convencionais e nucleares, conforme proposto pelo Partido Republicano e o presidente do país.

Após 13 anos consecutivos de aumento de 1999 a 2011 e gastos ficaram relativamente inalterados de 2012 a 2016. Mas o gasto militar global total aumentou novamente em 2017, como pode ser visto no gráfico acima. Os gastos militares em 2017 representaram 2,2% do produto interno bruto (PIB) global ou US$ 230 por pessoa.

O mundo seria muito diferente se todos estes recursos fossem utilizados para erradicar a pobreza e enriquecer o meio ambiente. Contudo, o lobby militar tem grande força para manter seus orçamentos e para continuar, sem restrições, emitindo gases de efeito estufa que provocam a aceleração do aquecimento global.

As Nações Unidas, no relatório “Rumo a uma Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza” (PNUMA, 2011), mostrou que é possível erradicar a pobreza e fazer a transição do modelo “marron” de desenvolvimento atual para uma economia verde e sustentável com investimentos da ordem de 2% do PIB mundial – ou US$ 1,5 trilhão por ano.

Portanto, é preciso inverter a lógica da estratégia da logística da destruição e destinar parte dos 1,74 trilhão de dólares utilizados anualmente nos gastos militares para erradicar a pobreza e salvar o meio ambiente. Pacifismo e ambientalismo são bandeiras que se complementam.

A batalha pela justiça social e pela preservação da natureza passa necessariamente pela luta coletiva contra a corrida armamentista, pelo fim dos gastos militares, pelo desarmamento, pela harmonia entre os povos e pela paz em nível internacional, regional, nacional e local. Como sonhou John Lennon, “Imagine todas as pessoas vivendo em paz”.

You may say I’m a dreamer
But I’m not the only one
I hope some day you’ll join us
And the world will be as one
John Lennon

 

Referência:
SIPRI. Global military spending remains high at $1.7 trillion, 02/05/2018
https://www.sipri.org/media/press-release/2018/global-military-spending-remains-high-17-trillion

PNUMA, 2011, Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza – Síntese para Tomadores de Decisão, www.unep.org/greeneconomy
http://www.fapesp.br/rio20/media/Rumo-a-uma-Economia-Verde.pdf

 

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/07/2018

[cite]

 

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