“Imagine there’s no countries
It isn’t hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people living life in peace”
John Lennon
[EcoDebate] Enquanto a sociedade civil luta para reduzir a pobreza e salvar o meio ambiente, os governos continuam gastando rios de dinheiro com despesas de guerra e com o poderio bélico para manter a hegemonia global e para reprimir os conflitos internos. Enquanto as campanhas ambientalistas incentivem os indivíduos a fazerem sua parte na defesa do meio ambiente, as autoridades constituídas continuam esterilizando grandes volumes de recursos em gastos militares improdutivos e letais. A produção de armas e instrumentos de destruição em massa, no mundo, contrasta com a falta de recursos para produzir alimentos orgânicos, energias renováveis e investimentos em saúde e educação da população global.
O relatório de 2018 do Instituto Internacional para a Investigação da Paz de Estocolmo (SIPRI – Stockholm International Peace Research Institute) mostra que os gastos militares no mundo chegaram à impressionante cifra de US$ 1.739.000.000.000,00 (um trilhão e setecentos e trinta e nove bilhões de dólares) no ano passado. E este valor vem subindo nas duas últimas décadas. O total de gastos militares em 2017, subiu 1,1% em termos reais em relação a 2016.
As despesas militares na Ásia e na Oceania aumentaram pelo 29º ano consecutivo. A China, o segundo maior gastador global, aumentou seus gastos militares em 5,6% para US$ 228 bilhões em 2017. Os gastos da China como parcela das despesas militares mundiais aumentaram de 5,8% em 2008 para 13% em 2017. A Índia gastou US$ 63,9 bilhões em suas forças armadas em 2017, um aumento de 5,5% em comparação com 2016, enquanto os gastos da Coreia do Sul, de US$ 39,2 bilhões, aumentaram 1,7% entre 2016 e 2017. As tensões entre a China e muitos de seus vizinhos continuam impulsionando o crescimento dos gastos militares na Ásia.
Conduzidos, em parte, pela percepção de uma crescente ameaça da Rússia, os gastos militares na Europa Central e Ocidental aumentaram em 2017, em 12% e 1,7%, respectivamente. Muitos países europeus são membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e, nesse contexto, concordaram em aumentar seus gastos militares. O total de gastos militares de todos os 29 membros da OTAN foi de US$ 900 bilhões em 2017, representando 52% dos gastos mundiais. E o presidente Donald Trump pressiona por gastos ainda maiores da OTAN.
Os gastos militares no Oriente Médio aumentaram 6,2% em 2017. Os gastos da Arábia Saudita aumentaram 9,2% em 2017 após uma queda em 2016. Com gastos de US$ 69,4 bilhões, a Arábia Saudita teve o terceiro gasto militar mais alto do mundo. O Irã (19%) e o Iraque (22%) também registraram aumentos significativos nos gastos militares em 2017.
Os Estados Unidos continuam a ter o maior volume de gasto militar do mundo. Em 2017, os EUA gastaram mais com as suas forças armadas do que os sete países que mais gastaram juntos. Em US$ 610 bilhões, os gastos militares dos EUA permaneceram inalterados entre 2016 e 2017. Mas a tendência de queda nos gastos militares dos EUA que começou em 2010 chegou ao fim e as despesas de guerra dos EUA, em 2018, devem aumentar significativamente para apoiar o aumento de pessoal militar e a modernização de armas convencionais e nucleares, conforme proposto pelo Partido Republicano e o presidente do país.
Após 13 anos consecutivos de aumento de 1999 a 2011 e gastos ficaram relativamente inalterados de 2012 a 2016. Mas o gasto militar global total aumentou novamente em 2017, como pode ser visto no gráfico acima. Os gastos militares em 2017 representaram 2,2% do produto interno bruto (PIB) global ou US$ 230 por pessoa.
O mundo seria muito diferente se todos estes recursos fossem utilizados para erradicar a pobreza e enriquecer o meio ambiente. Contudo, o lobby militar tem grande força para manter seus orçamentos e para continuar, sem restrições, emitindo gases de efeito estufa que provocam a aceleração do aquecimento global.
As Nações Unidas, no relatório “Rumo a uma Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza” (PNUMA, 2011), mostrou que é possível erradicar a pobreza e fazer a transição do modelo “marron” de desenvolvimento atual para uma economia verde e sustentável com investimentos da ordem de 2% do PIB mundial – ou US$ 1,5 trilhão por ano.
Portanto, é preciso inverter a lógica da estratégia da logística da destruição e destinar parte dos 1,74 trilhão de dólares utilizados anualmente nos gastos militares para erradicar a pobreza e salvar o meio ambiente. Pacifismo e ambientalismo são bandeiras que se complementam.
A batalha pela justiça social e pela preservação da natureza passa necessariamente pela luta coletiva contra a corrida armamentista, pelo fim dos gastos militares, pelo desarmamento, pela harmonia entre os povos e pela paz em nível internacional, regional, nacional e local. Como sonhou John Lennon, “Imagine todas as pessoas vivendo em paz”.
You may say I’m a dreamer
But I’m not the only one
I hope some day you’ll join us
And the world will be as one
John Lennon
Referência:
SIPRI. Global military spending remains high at $1.7 trillion, 02/05/2018
https://www.sipri.org/media/press-release/2018/global-military-spending-remains-high-17-trillion
PNUMA, 2011, Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza – Síntese para Tomadores de Decisão, www.unep.org/greeneconomy
http://www.fapesp.br/rio20/media/Rumo-a-uma-Economia-Verde.pdf
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/07/2018
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