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Artigo

A agonia do rio Piranga: O principal formador do Rio Doce, por Fábio José Gomes e Elidiane da Silva

 

[EcoDebate] O rio Piranga tem sua nascente na serra da Mantiqueira, no município mineiro de Ressaquinha, a 1.220 metros de altitude. Quando chega ao município de Rio Doce (MG), na divisa com Ponte Nova (MG), o rio Piranga recebe as águas do ribeirão do Carmo e passa a se chamar rio Doce até a foz no oceano Atlântico na localidade de Regência, município de Linhares no litoral do Espírito Santo. Seus principais afluentes são os rios Xopotó e Turvo Limpo.

Segundo IGAM (2005) a Bacia Hidrográfica do Rio Piranga abrange 69 municípios, que apresentam problemas como: poluição, redução da recarga do lençol freático, inadequação de estradas rurais, extrativismo ambiental através do desmatamento, produção de carvão, extração de pedra e areia e uso inadequado dos recursos naturais em geral. Esses problemas se agravam com uma fiscalização ineficiente, falta de mobilização da população e desestímulo dos produtores rurais em relação ao cuidado com o meio ambiente.

Os problemas da bacia são muitos, no entanto, neste artigo será trazido à luz apenas a questão da poluição por esgoto, um dos problemas mais visíveis e chocantes do rio Piranga. O esgoto sanitário é lançado ao rio sem nenhum tipo de tratamento quando permeia pelas zonas urbanas dos municípios de Piranga (MG), Presidente Bernardes (MG), Porto Firme (MG), Guaraciaba (MG) e Ponte Nova (MG). Na cidade de Piranga (MG) a situação fica crítica quando o rio recebe as “águas” do córrego das Almas (Figura 1).

 

Figura 1. Encontro das águas poluídas do ribeirão das Almas com as do rio Piranga, Piranga (MG), 2014. Fonte: Foto de Leonardo Alves (2014)
Figura 1. Encontro das águas poluídas do ribeirão das Almas com as do rio Piranga, Piranga (MG), 2014. Fonte: Foto de Leonardo Alves (2014)

 

Em uma recente publicação nas redes sociais, uma moradora de Piranga (MG) pergunta em um grupo que leva o nome da cidade: “Alguém sabe por que a água do rio está literalmente preta, agora?”. Membros do grupo afirmaram que se tratava do esgoto doméstico proveniente do córrego das Almas que invadia as águas do rio. Grande parte da cidade usa este córrego, única e exclusivamente, como um canal de esgoto sanitário que tem como destino o rio Piranga. A condição fica ainda mais evidente quando o volume de água é diminuído em consequência da falta de chuvas e do desaparecimento das nascentes que dão origem ao córrego.

O esgoto do córrego das Almas não é um caso isolado de poluição do rio Piranga, antes fosse! Seria mais fácil solucionar. O rio também recebe poluição de toda a bacia por meio de seus afluentes, além da poluição difusa nas zonas rurais dos municípios da bacia que passa facilmente despercebida.

Muito se fala em recuperar o rio Doce, especialmente após o acidente da Samarco em Mariana (MG), no entanto parecem esquecer-se dos rios formadores deste. Recuperar a bacia do rio Piranga seria “injetar sangue novo na veia do adoecido rio Doce”.

Nesse sentido, uma alternativa seria recorrer ao programa “Produtor de Água” da Agência Nacional das Águas. Este programa visa apoiar financeiramente projetos que concentram esforços na redução da erosão, assoreamento e poluição dos mananciais (AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS – ANA, 2013).

Em Extrema (MG), o “Produtor de Água” da ANA apoia o projeto “Conservador das Águas”, considerado o primeiro projeto de iniciativa municipal no Brasil que realiza o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) aos agricultores familiares, com ênfase na conservação do solo e da água (SILVA et al., 2013).

Os excelentes resultados obtidos pelo projeto Conservador das Águas fizeram com que o mesmo alcançasse destaque nacional e internacional, sendo agraciado várias vezes com premiações no Brasil e no exterior. Destaca-se o “Prêmio Internacional de Dubai para Boas Práticas” do ano de 2013, que teve como vencedores o projeto de Extrema e mais 11 projetos entre aproximadamente 400 concorrentes de todo o mundo (AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS – ANA, 2013).

Os bons exemplos de como lidar com os recursos hídricos existem, aos tomadores de decisão das questões ambientais da Bacia do Rio Piranga fica a recomendação para que conheçam o projeto de Extrema (MG) visando à replicação do mesmo na bacia em questão.

Referências

IGAM – Bacia hidrográfica do Rio Doce. Belo Horizonte: Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), 2005. Disponível em: < http://www.igam.mg.gov.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=155>. Acesso em 25 Ago. 2017.

ANA – Programa produtor de água superintendência de usos múltiplos. Brasília: Agência Nacional de Águas (ANA) – Ministério do Meio Ambiente. 2013. Disponível em: < http://www2.ana.gov.br/Paginas/imprensa/noticias.aspx >. Acesso em 25 Ago. 2017.

SILVA, M. A. et al. Sistema de informações geográficas no planejamento de uso do solo. Revista Brasileira de Ciência Agrária. v. 8, n. 2, p. 316–323, 2013.

 

Fábio José Gomes é Engenheiro Florestal pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), (fabiojgomes85@yahoo.com.br) e colaborador do portal EcoDebate – Cidadania & Meio Ambiente. Atualmente é mestrando em Ciência do Solo na linha de pesquisa – Recursos Ambientais e Uso da Terra: Conservação do Solo e da Água, pela UFLA. Atuou no Projeto “Conservador das Águas” no município de Extrema (MG) desenvolvendo um projeto de pesquisa que visou determinar a qualidade do solo em relação à erosão hídrica e um índice de sustentabilidade para uma sub-bacia hidrográfica. Tem experiência em Silvicultura e Manejo e Conservação do Solo e da Água.

Elidiane da Silva é Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e Mestre em Ciência do Solo pela mesma universidade (elidianeagroufla@gmail.com) colaboradora do portal EcoDebate – Cidadania & Meio Ambiente. Atualmente é doutoranda em Ciência do Solo na linha de pesquisa – Recursos Ambientais e Uso da Terra: Pedologia e Uso do Solo, pela UFLA, com ênfase em pedologia, classificação e mapeamento digital de solo.

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 18/09/2017

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One thought on “A agonia do rio Piranga: O principal formador do Rio Doce, por Fábio José Gomes e Elidiane da Silva

  • Fábio José Gomes chama atenção para uma importante questão: a poluição dos rios por esgotos.
    Pelo texto, observamos que a poluição do rio Piranga e de seus afluentes Xopotó e Turvo Limpo é feita tão somente com esgotos domésticos, não havendo poluição industrial significativa. Por isso, o tratamento é muito mais fácil.
    Infelizmente, o tratamento de esgoto não é algo que renda votos e, por isso, é deixado em segundo plano. No entanto, é sempre importante destacar que um rio contaminado por fezes humanas produz mais mortes que o câncer. Se todos chamam atenção para a necessidade de o Governo investir em educação, segurança e SAÚDE, deveriam se ater à questão do tratamento do esgoto doméstico.

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