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Cachaças orgânicas, artigo de Antonio Silvio Hendges

 

cachaça
Foto: EBC

Cachaças orgânicas, artigo de Antonio Silvio Hendges

[EcoDebate] A produção de cachaças de alambique possui aspectos ambientais relevantes em suas diversas etapas, desde a preparação dos solos para o plantio e cultivo da cana de açúcar, tratos culturais, processamento e extração do suco, fermentação do mosto, destilação, armazenamento, envase e distribuição.

Os impactos ambientais desta cadeia produtiva são significativos e a produção de cachaças orgânicas tem como objetivo amenizá-los, fornecendo aos consumidores produtos ambientalmente e socialmente saudáveis, que integram os aspectos ambientais da produção com os cuidados essenciais com os solos, águas, biodiversidade, emissões atmosféricas, responsabilidade social e conformidades legais.

Para serem consideradas orgânicas, as cachaças precisam ir além da ausência de agrotóxicos e de adubos industriais nas plantações de cana.

É indispensável atenção com a preparação dos solos para evitar-se a erosão e assoreamento de corpos de água adjacentes, cuidados com a colheita, não se admitindo em hipótese alguma o uso do fogo para facilitar esta etapa, destinação adequada do bagaço resultante da moagem, geralmente utilizado para aquecimento das caldeiras ou compostagem, tratamento das águas residuais, destinação adequada das frações de cabeça e cauda resultantes da destilação e do vinhoto ou vinhaça, um produto ácido e corrosivo, com uma alta demanda bioquímica de oxigênio, mas que pode ser utilizado como fertilizante ou na suplementação da alimentação de animais. As águas utilizadas no resfriamento não podem alterar a temperatura ou o PH dos cursos em que são descartadas.

A destilação também gera gases atmosféricos como o dióxido de carbono – CO2, nitratos, sulfatos, aminoácidos, metais e materiais particulados que requerem a instalação de filtros adequados, além da destinação ambientalmente correta das cinzas, utilizadas nas plantações como alcalinizantes dos solos, corrigindo o PH destes.

A conformidade dos alambiques com a legislação ambiental é fator determinante para a certificação dos produtos. Por exemplo, as propriedades em que estão os canaviais devem estar adequadas ao Cadastro Ambiental Rural – CAR e cumprirem as determinações para as áreas de preservação permanentes, reservas legais, preservação de fontes e cursos de água, assim como de outras legislações aplicáveis. A responsabilidade social também é avaliada, como a ausência de trabalho escravo, infantil ou degradante durante o ciclo de produção.

Para conseguir a certificação como cachaça orgânica, há três possibilidades: Certificação por Auditoria, Certificação Participativa e a certificação por Organização de Controle Social.

Certificação por Auditoria – Contrata-se uma instituição independente para fazer a avaliação, orientação e certificação da produção como orgânica. Esta instituição deve garantir a conformidade da produção atualizando os produtores em relação à legislação vigente e para adequarem-se às regulamentações aplicáveis. Geralmente é utilizada por produtores com volumes significativos e que não estão associados em sistemas participativos. São exemplos de certificadoras orgânicas o IBD – http://ibd.com.br/pt/Default.aspx e Ecocert – http://brazil.ecocert.com/

Certificação Participativa – Desde 2007 esta certificação permite que os produtores comercializem diretamente com os consumidores, mercados, restaurantes, pontos de distribuição e venda a sua produção orgânica. Neste sistema, os produtores atuam como parceiros e autocontrolam mutuamente todas as etapas envolvidas, desde o plantio, cultivo, colheita, armazenamento, distribuição e comercialização. É formado um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade – Opac, como pessoa jurídica e que corresponde à certificadora por auditoria dos membros do sistema. Este sistema é bastante utilizado no sul do Brasil e no RS a maioria das cachaças orgânicas é por Certificação Participativa. Um exemplo de certificadora participativa é a Ecovida – http://www.ecovida.org.br/

Certificação por Organização de Controle Social – Produtores orgânicos, geralmente familiares, comercializam em feiras ou nas propriedades os excedentes para pequenos mercados ou para o consumidor diretamente. Apesar de não ter um selo específico, os pequenos produtores também devem comprovar que os produtos são orgânicos. Devem ser registrados no Ministério da Agricultura e abrir a propriedade para que inspetores e consumidores verifiquem a produção. No RS, o selo Sabor Gaúcho identifica estes produtores orgânicos. No caso da cachaça esta modalidade é pouco utilizada.

Referências:

– Cachaça Orgânica?! E pode? Palestra no Congresso Nacional da Cachaça – CONCACHAÇA. Otto Barreto, produtor das cachaças orgânicas Sanhaçu.

– Rede Ecovida e a certificação participativa. Entrevista com Laércio Meirelles, agrônomo e produtor orgânico. Disponível em: http://www.organicsnet.com.br/2012/06/rede-ecovida-e-a-certificacao-participativa/. Acesso em 21 fev. 2017.

– Visitas em alambiques e áreas de produção de cana de açúcar, especialmente de produção de cachaças orgânicas.

Antonio Silvio Hendges, Articulista no EcoDebate, professor de biologia, pós graduação em auditorias ambientais, assessoria e consultoria em educação ambiental, certificado pela Escola da Cachaça, faz palestras sobre cachaça e meio ambiente. Email: as.hendges@gmail.com

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 10/08/2017

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