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Artigo

Desemprego recorde na RMSP e no Brasil: desperdício do bônus demográfico, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

“O trabalho enobrece e dignifica o ser humano”
Gibran Khalil Gibran

 

número de desempregados na RMSP

 

[EcoDebate] O Brasil vive a sua mais longa e profunda recessão. Consequentemente, há menos pessoas ocupadas e o desemprego atingiu níveis recordes, provocando grande sofrimento entre a população que deseja trabalhar. Esse problema, além de representar um desrespeito aos direitos constitucionais do pleno emprego e do trabalho decente, significa também o desperdício do bônus demográfico e a perda da chance de o país dar um salto no seu nível de desenvolvimento.

Não sem surpresa, o desemprego na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) atingiu o maior nível da história, com 2,088 milhões de pessoas procurando trabalho, segundo dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), em colaboração com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), conforme o gráfico acima.

Este número escandaloso é bem maior do que toda a força de trabalho do Uruguai (cerca de 1,8 milhão de trabalhadores). Portanto, somente na RMSP o desperdício do potencial produtivo da população em idade de contribuir com o desenvolvimento humano e social está jogando fora o equivalente ao PIB de um país, no caso, o da antiga “Província Cisplatina”.

Nunca o desemprego foi tão alto na RMSP. De 17,9 milhões de pessoas em idade ativa, apenas 9,139 milhões estavam ocupadas (uma taxa de 51,1%). Ou seja, só algo como a metade das pessoas em idade produtiva estavam ocupadas. Mesmo assim era grande a quantidade de pessoas subempregadas e atuando na informalidade. O desemprego atinge principalmente os jovens, as mulheres e a população preta e parda. A violação de direitos é evidente e o custo social e econômico é incalculável.

No início da gestão da dupla Dilma-Temer, em janeiro de 2011, a população em idade de trabalhar (PIA) na RMSP era de 17 milhões de pessoas, o número de pessoas ocupadas (PO) era de 9,6 milhões e o número de desempregados era de 1,129 mil. A taxa de ocupação estava em 56,5% em janeiro de 2011 e a taxa de desemprego (Des/PEA) estava em 10,5%.

Estes números que já não eram muito bons, pioraram nos últimos 7 anos. Em abril de 2017, a PIA chegou a 17,88 milhões de pessoas, a PO caiu para 9,1 milhões de trabalhadores e o número de desempregados subiu para 2,088 milhões. A taxa de ocupação caiu para 51,5% e a taxa de desemprego subiu para 18,6%.

 

PIA, PO, PO/PIA na RMSP

 

Para o Brasil como um todo, o panorama não é menos dramático e o impacto negativo da gestão Dilma-Temer não foi menor. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), que teve início no primeiro trimestre de 2012, mostram que o desperdício da força de trabalho nacional atingiu proporções de uma tragédia grega. Enquanto crescia a população total e a força de trabalho, decrescia o número de pessoas ocupadas. Isto implica no desperdício do potencial produtivo fornecido pela mudança da estrutura etária. Também quer dizer que o bônus demográfico está se perdendo e escorrendo pelo ralo da crise econômica.

No primeiro trimestre de 2012, o desemprego aberto (pessoas procurando trabalho) estava em 7,6 milhões de pessoas no Brasil e o desemprego total (subutilização da força de trabalho) estava em 21,4 milhões de pessoas. Com a crise econômica que afetou o mercado de trabalho o quadro piorou muito. No primeiro trimestre de 2017, o desemprego aberto passou para 14,2 milhões de pessoas e o desemprego total chegou a impressionantes 26,5 milhões de pessoas.

 

desemprego aberto e subutilização da força de trabalho

 

Enquanto crescem a população total (Pop), a população em idade ativa (PIA) e a força de trabalho ampliada (FTA), cai a população ocupada. Ou seja, aumenta o hiato entre o potencial de trabalho e o número de pessoas efetivamente trabalhando. Isto significa desperdício do potencial produtivo e a perda do bônus demográfico.

A população brasileira total, no trimestre janeiro a março de 2012, era de 198 milhões de habitantes, a população em idade de trabalhar (PIA) era de 156,4 milhões de pessoas, a força de trabalho ampliada (FTA) era de 102,4 milhões e a FTA menos a subutilização ampliada estava em 81 milhões de pessoas. Cinco anos depois, no trimestre janeiro a março de 2017, os números eram 206,5 milhões de habitantes, 167,5 milhões da PIA, 110,2 milhões da FTA e 83,7 milhões para a FTA menos a subutilização ampliada, conforme mostra o gráfico abaixo.

 

POP, PIA, FTA e FTA menos subutilização ampliada

 

Evidentemente, o colapso do mercado de trabalho ocorreu fundamentalmente depois da crise que teve início no final de 2014 e se aprofundou em 2015 e 2016. Mas as baixas taxas de desemprego existentes em 2013 e 2014 não significava altos níveis de emprego. Na realidade existia o chamado paradoxo do baixo desemprego em 2013 e 2014, como mostrou Simões, Alves e Silva (2016).

Não há bônus demográfico que resista a estes números. A situação atual atinge mais fortemente as mulheres e os jovens. O Brasil está perdendo a oportunidade de atingir a paridade de gênero e está criando uma geração perdida ao bloquear a chance de mobilidade social ascendente da juventude, que vê aumentar os índices de pobreza e violência.

Desta forma, não haverá futuro melhor do que o presente. Sem o aproveitamento do momento favorável da estrutura etária o desenvolvimento brasileiro pode ficar comprometido e o país pode ficar permanentemente preso na armadilha da renda média. O progresso será substituído pela estagnação e a mesmice. Nas tendências atuais, o Brasil – país do futuro – será sempre uma miragem.

Referência:
SIMÕES, PHC. ALVES, JED. SILVA, PLN. Transformações e tendências do mercado de trabalho no Brasil entre 2001 e 2015: paradoxo do baixo desemprego? R. bras. Est. Pop., Rio de Janeiro, v.33, n.3, p.541-566, set./dez. 2016
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-30982016000300541&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

ALVES, J. E. D. Crise no mercado de trabalho, bônus demográfico e desempoderamento feminino. In: ITABORAI, N. R.; RICOLDI, A. M. (Org.). Até onde caminhou a revolução de gênero no Brasil? Belo Horizonte: Abep, 2016. p. 21-44. ISBN 978-85-85543-31-0
http://187.45.187.130/~abeporgb/publicacoes/index.php/ebook/article/view/2445/2400

ALVES, JED. O fim do bônus demográfico e o processo de envelhecimento no Brasil. São Paulo, Revista Portal de Divulgação, n. 45, Ano V. Jun/jul/ago 2015, pp: 6-17, (ISSN 2178-3454)
http://portaldoenvelhecimento.com/revista-nova/index.php/revistaportal/article/view/510/549

 

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 07/06/2017

[cite]

 

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