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Artigo

A China luta para vencer a batalha pelo mercado de baterias elétricas, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

a disputa pelo mercado de baterias de íons de lítio

 

[EcoDebate] A mudança da matriz energética não é uma brincadeira de jardim de infância. Ao contrário, é uma disputa geoestratégia que envolve muito dinheiro e projetos de hegemonias nacionais. A tabela acima, publicada em artigo do jornal inglês Financial Times, relaciona as principais companhias produtoras de baterias de Íons de Lítio.

A China, o Japão, a Coreia do Sul e os Estados Unidos travam uma batalha pela liderança da produção das baterias que vão definir o futuro do mercado de energia renovável. A empresa chinesa, Contemporary Amperex Technology Ltd (CATL), com uma planta de quase US$ 12 bilhões, assumiu a liderança mundial, ultrapassando o Japão (Panasonic) e a Coreia do Sul (LG Chem). Ela pretende produzir 50 GWh em 2020. A CATL está se preparando para ser uma campeã nacional e parte fundamental do plano ambicioso de Pequim para refazer o mercado global de baterias e explorar a crescente demanda por carros elétricos.

Segundo a própria empresa: “Queremos ser uma empresa líder, como o transporte frontal de um trem dirigindo toda uma cadeia de suprimentos”. A CATL, que tinha capacidade para produzir 7,6 gigawatts-hora (GWh) de baterias no ano passado de acordo com a Goldman Sachs, e diz que até 2020 planeja produzir mais do que a giga fábrica da Tesla Motors (em joint venture com a Panasonic), localizada em Nevada e maior produtora dos EUA. Porém, a empresa de Elon Musk ainda está atrasada na produção, embora seja uma grande promessa.

O governo da China exigiu que as empresas do país duplicassem a capacidade das baterias de veículos elétricos até 2020 e os incentivem a investir em fábricas no exterior. Como as montadoras investem mais fortemente em veículos elétricos a bateria de Íons de Lítio será uma tecnologia-chave para, pelo menos, a próxima década, criando um mercado, estimado pela Goldman Sachs, de US$ 40 bilhões em 2025, que será, provavelmente, dominado pelo Gigante Asiático.

A estratégia chinesa é dominar o mercado de carros elétricos, pois nos carros tradicionais o país tem grande desvantagem em relação às montadoras tradicionais. Outra empresa, a BYD, na qual a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, tem uma participação de cerca de 10%, já é a maior fabricante de carros e ônibus elétricos do mundo, com uma capitalização de mercado de US$ 18,7 bilhões. Além de impulsionar a oferta, a China também está criando demanda: até 2020, prevê que 5 milhões de veículos elétricos estarão em suas estradas, enquanto hoje são um milhão.

O jornal Financial Times, mostra a sensação de pânico no Japão, com a perda da liderança neste mercado promissor, ainda mais com o fim do acordo comercial Trans-Pacific Partnership (TPP), detonado pelo presidente Donald Trump. Esse pacto, dizem os produtores, teria sido benéfico para a indústria japonesa de baterias, que já havia começado a investir em capacidade no Vietnã, partindo do pressuposto de que poderia exportar para os EUA e para o Canadá. Ou seja, ao atacar o TPP, o presidente Trump acabou ajudando a China. O Brasil é somente um observador passivo neste mercado tecnológico do presente e do futuro.

Na área dos carros elétricos, a China planeja construir 800 mil veículos em 2017, 58% a mais do que os 507 mil vendidos em 2016 (350 mil carros e 117 mil ônibus elétricos). Embora o governo chinês esteja diminuindo o volume de subsídios, a China ainda é o país que apresenta os maiores incentivos estatais à indústria automotiva para fazer a transição para os veículos elétricos.

 

sales of new energy vehicles in China

 

Mas toda esta disputa pode esbarrar na escassez de matéria prima. Como mostrei em artigo de dezembro do ano passado, pode ser que não haja Lítio para sustentar a produção mundial de bateiras para os carros elétricos e outros dispositivos. Enfim, o processo de mudança é mais complicado do que apenas uma transformação na matriz energética.

Referências:

ALVES, JED. O Pico do Lítio e as dificuldades de armazenamento das energias renováveis, Ecodebate, RJ, 21/12/2017

Henry Sanderson. Electric cars: China’s battle for the battery market, FT, 05/03/2017

Mark Kane. China Targets 800,000 Plug-In Electric Vehicle Sales In 2017, Insideevs, 02/2017

 

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 31/03/2017

[cite]

 

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