EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

América Latina: Houve redução das desigualdades, mas 70% da nova classe média pode retornar à pobreza

 

Houve redução das desigualdades, mas 70% da nova classe média pode retornar à pobreza. Entrevista especial com Ludolfo Paramio

“O mundo, e não só a América Latina, atravessa um momento de mudanças imprevisíveis”, afirma o sociólogo espanhol.

Imagem: www.usp.br

 

“Tenho receio de que uma grande parte dos setores vulneráveis volte a cair na pobreza, mas ao mesmo tempo espero que as classes médias e vulneráveis se mobilizem para exigir melhores serviços públicos de educação e saúde, e uma ‘limpeza’ e recuperação do Estado e da classe política”, diz Ludolfo Paramio à IHU On-Line, em entrevista concedida por e-mail. ]

De acordo com o sociólogo espanhol, apesar de ter havido “uma leve diminuição das desigualdades e uma forte redução da pobreza” na América Latina, quando se trata da situação econômica e social das novas classes médias que emergiram na última década, adverte, tem de se considerar que “70% são vulneráveis, famílias que podem retornar à pobreza se a economia retroceder”.

Na avaliação de Paramio, entre os fatores que explicam a ascensão da nova classe média na América Latina, destaca-se a “nova demanda asiática de matérias-primas e um papel mais ativo do Estado”. Contudo, frisa, o “estancamento da economia global, e especialmente a desaceleração daeconomia chinesa, mais a queda dos preços do petróleo, estão freando as economias da região e levando algumas a uma forte recessão”, como é o caso do Brasil e da Argentina. Entre as consequências desse cenário, pontua, os governos terão de ajustar os seus gastos “e isto pode significar cortes das políticas sociais além da destruição do emprego”.

Ludolfo Paramio é professor de cursos de pós-graduação sobre política latino-americana no Instituto Universitário de Pesquisas Ortega y Gasset e dirige o Programa de América Latina do Instituto Universitário de Pesquisa José Ortega y Gasset, desde maio de 2008.

É graduado em Jornalismo e doutor em Ciências Físicas pela Universidade Autónoma de Madrid. Atualmente dirige a revista de ciências sociais Zona Abierta. É membro dos conselhos de assessores da Fundación para las Relaciones Internacionales y el Diálogo Exterior – FRIDE e da Revista Internacional de Sociología. Também é membro da Associação Latinoamericana de Ciência Política.

Confira a entrevista.

Foto: www.voces.unam.mx

 

IHU On-Line – Qual é o histórico das classes médias na América Latina? Que papéis desempenharam no continente em diferentes momentos históricos? Quais foram os momentos que mais marcaram a ascensão econômica e social das classes médias na região?

Ludolfo Paramio – É complicado dizer, e depende muito da definição que a gente der de classes médias. Mas em grandes traços podemos dizer que desde os anos quarenta as classes médias tiveram uma forte expansão, ligada à industrialização substitutiva e à expansão do mercado interno, que entram em crise nos anos setenta e que desde a crise da dívida até os anos noventa atravessam um notável retrocesso.

IHU On-Line – É possível evidenciar quais foram os fatores que garantiram a ascensão da classe média na América Latina? Na sua avaliação, essa ascensão econômica reflete uma diminuição das desigualdades ou apenas da pobreza?

Ludolfo Paramio – A nova demanda asiática de matérias-primas e um papel mais ativo do Estado, incluindo políticas sociais como a do Programa Bolsa Família, têm sido os fatores impulsores de uma nova expansão das classes médias. Paralelamente se tem produzido uma leve diminuição da desigualdade e uma forte redução da pobreza. Mas quando falamos de novas classes médias, tem que se ter em conta que uns 70% são vulneráveis, famílias que podem retornar à pobreza se a economia retroceder.

IHU On-Line – Em artigo recente o senhor menciona que a classe média da América Latina está vulnerável e próxima de uma queda. Quais são as razões desta ameaça?

Ludolfo Paramio – O estancamento da economia global, e especialmente a desaceleração da economia chinesa, mais a queda dos preços do petróleo, estão freando as economias da região e levando algumas a uma forte recessão (Brasil e Argentina). Isso obriga os governos a ajustar o gasto, o que pode significar cortes das políticas sociais, além da destruição do emprego.

IHU On-Line – Em que países da América Latina essa queda tende a ser mais acentuada? Por quê?

Ludolfo Paramio – A queda está sendo catastrófica na Venezuela, pela independência total dos ingressos do petróleo e a inflação muito alta.

IHU On-Line – Como analisa a atual conjuntura política da América Latina de modo geral? Está de acordo com a análise de que está se fechando um ciclo progressista na América Latina?

Ludolfo Paramio – Os escândalos de corrupção, num clima de recessão econômica, vão provocar a queda de muitos governos, e isso afetará também os governos progressistas.

“Os escândalos de corrupção, num clima de recessão econômica, vão provocar a queda de muitos governos, e isso afetará também os governos progressistas”

IHU On-Line – O que está surgindo no lugar desse ciclo progressista que se acaba?

Ludolfo Paramio – Isso não sabemos, porque vai depender das políticas que se façam nos novos governos e isso não está determinado por uma ideologia neoliberal, como acontecia nos anos noventa. Caberia pensar nos governos pragmáticos que mantêm políticas sociais num contexto de ajuste.

IHU On-Line – Que mudanças vislumbra em relação às conquistas da classe média que chegou à ascensão econômica nos últimos anos?

Ludolfo Paramio – Tenho receio de que uma grande parte dos setores vulneráveis volte a cair na pobreza, mas ao mesmo tempo espero que as classes médias e vulneráveis se mobilizem para exigir melhores serviços públicos de educação e saúde, e uma “limpeza” e recuperação do Estado e da classe política.

IHU On-Line – Quais são os maiores desafios no sentido de garantir a diminuição das desigualdades na América Latina e a continuidade da ascensão da classe média?

Ludolfo Paramio – Combinar o ajuste e o regresso ao crescimento, com investimento em infraestrutura, saúde e educação.

IHU On-Line – Que futuro vislumbra para a América Latina nos próximos anos?

Ludolfo Paramio – O mundo, e não só a América Latina, atravessa um momento de mudanças imprevisíveis. É impossível dizer por onde irá o futuro.

Por Patricia Fachin

 

(EcoDebate, 25/05/2016) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

 

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate

Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta enviar um email para newsletter_ecodebate+subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Remoção da lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate

Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para ecodebate@ecodebate.com.br. O seu e-mail será removido e você receberá uma mensagem confirmando a remoção. Observe que a remoção é automática mas não é instantânea.

2 thoughts on “América Latina: Houve redução das desigualdades, mas 70% da nova classe média pode retornar à pobreza

  • lincoln gambier

    O autor só deixou de mencionar que os paises onde a classe média foi mais atingida, eram ou ainda são dirigidos por governos bolivarianos! O resto é conversa! O Chile, Colombia e Peru vão muito bem!

  • Ainda continuam a existir 50 milhões de brasileiros a receberem o Bolsa Família, os quais não entram nas estatísticas como população ativa nem como desempregados… simplesmente vivem na miséria.

Fechado para comentários.