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Pesquisadores estudam índice do mercúrio em peixe e no leite materno na Amazônia

 

rios Negro e Solimões
Entre outros rios, os pesquisadores coletaram amostras  no  Rio Negro, no Amazonas. Foto: Arquivo/Agência Brasil
 

Pesquisadores de várias universidades do país e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) participam, em Manaus, do III Workshop do projeto Biomarcadores de toxidade de mercúrio aplicados ao setor hidrelétrico na Amazônia. Os estudos começaram em 2013 para verificar a presença do metal em peixes, alimentos e no leite materno.

As amostras foram coletadas na bacia do Rio Madeira, em Rondônia, na bacia do Rio Tocantins, em Goiás e Maranhão, e no Rio Negro, no Amazonas. Segundo o coordenador da pesquisa, professor Luiz Fabrício Zara, da Universidade de Brasília (UnB), o objetivo é identificar substâncias que possam funcionar como indicadores da toxicidade do mercúrio e que seja aplicado ao setor hidrelétrico.

“Como já é de conhecimento, a expansão do setor hidrelétrico para a Amazônia já é uma realidade brasileira. A Amazônia brasileira é rica em mercúrio natural. Por isso, demanda pesquisas e estudos associados a mecanismos de vigilância ambiental, de modo que se possa ter um real desenvolvimento socioambiental”, afirma Zara.

Considerado inovador no mundo, o projeto utiliza a técnica chamada de metaloma, que consiste na separação das proteínas, do pescado e do leite materno, por exemplo, para depois verificar a qual proteína o mercúrio está ligado.

Manejo dos peixes pirarucu (Adriano Gambarini / OPAN - Divulgação)
Já foram identificadas em peixes diversas proteínas ligadas ao mercúrio. Foto: Divulgação/OPAN/Adriano Gambarini
 

Esse metal está presente naturalmente no meio ambiente. Na Amazônia, ele apresenta níveis superiores em relação a outras regiões. A exposição a altos níveis desse metal, que é tóxico, é prejudicial à saúde e ao meio ambiente. O pesquisador Luiz Fabrício Zara esclareceu que o consumo de peixes é o fator que mais expõe as pessoas ao mercúrio.

“O peixe tem um processo de bioacumulação e biomagnificação do mercúrio. Então, os teores, mesmo na água, sendo baixos ao longo da cadeia alimentar, esses valores vão se ampliando e logo o homem, que está no topo da cadeia, é o que está mais exposto”, afirmou o pesquisador.

Luiz Zara destacou os resultados já obtidos pela pesquisa com os peixes mais consumidos nas regiões das hidrelétricas. “Já identificamos várias metaloproteínas, que seriam essas proteínas ligadas ao mercúrio, forte candidatas a biomarcadores da toxicidade, ou seja, quando altera a concentração de mercúrio no ambiente, altera a concentração dessa substância no pescado. Isso nos cria um índice de vigilância, porque, muitas vezes, pode ter uma alteração no ambiente que não leve a alteração abiota (seres vivos de um ecossistema),  e, consequentemente, não gere risco ao topo de cadeia, que somos nós”, explicou o pesquisador .

Outra vertente dos estudos é a presença de mercúrio no leite materno. Há um processo natural de excreção do metal na amamentação, que é nocivo para as crianças, de acordo com a pesquisadora Tânia Machado da Silva, também da Universidade de Brasília. “Uma criança em desenvolvimento pode ser muito mais afetada que um adulto com o sistema nervoso desenvolvido. Essa era a importância de se estudar o leite materno e não apenas o peixe, porque o leite materno também é uma fonte de exposição para as crianças”, acrescentou Tânia.

A pesquisadora informou que não foram identificados níveis de mercúrio nas mulheres em período de amamentação acima do que determina a Organização Mundial de Saúde.

O projeto é patrocinado pela Energia Sustentável do Brasil, concessionária da Usina Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia. Para o gerente de meio ambiente da usina, Veríssimo Alves, a pesquisa servirá para o trabalho de monitoramento das comunidades e do meio ambiente ao redor das hidrelétricas da Amazônia.

Conclusões

“Com esses índices, vamos conseguir monitorar e fazer um acompanhamento das comunidades ribeirinhas e do peixe no Rio Madeira. Isso dará uma segurança maior para nosso monitoramento. E, é claro, servirá muito para que futuros empreendimentos da Amazônia tenham um parâmetro do índice que pode ser encontrado nas pessoas, nos sedimentos e na vegetação”, adiantou o gerente.

O encerramento dos estudos está previsto para 2017. A ideia é que as conclusões sejam apresentadas em duas publicações: uma para o meio científico e outra para a sociedade, de modo que possa servir para adoção de políticas públicas de saúde.

O III Workshop do projeto Biomarcadores de toxidade de mercúrio aplicados ao setor hidrelétrico na Amazônia termina nesta quarta-feira (4) com uma visita de campo a comunidades pesquisadas no Rio Negro e ao mercado de peixe de Manaus.

Por Bianca Paiva, da Agência Brasil, in EcoDebate, 04/05/2016

 

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