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MPF investiga o impacto socioambiental do avanço das monoculturas na região do Médio Norte Araguaia

 

 

Durante o encontro, foi debatida a necessidade de promover a união entre os povos e comunidades tradicionais que habitam a região do Médio Araguaia, para promover o enfrentamento dos problemas decorrentes do avanço da monocultura dependente de agrotóxicos, em especial da soja, sobre os seus territórios, com comprometimento da fauna, da flora e das próprias comunidades que vivem nos municípios da região.

Entre os dias 18, 19 e 20 de dezembro de 2015, representantes das etnias Ãpaniekra (Kanela), Apyãwa (Tapirapé), A’uweUptabi (Xavante) e Iny (Karajá), quilombolas, retireiros, pescadores e agricultores familiares reuniram-se no município de Porto Alegre do Norte/MT para promover o “Primeiro Encontro sobre Agrotóxicos e seus impactos sobre as populações tradicionais do Médio Araguaia”.

Durante o encontro, foi debatida a necessidade de promover a união entre os povos e comunidades tradicionais que habitam a região do Médio Araguaia, para promover o enfrentamento dos problemas decorrentes do avanço da monocultura dependente de agrotóxicos, em especial da soja, sobre os seus territórios, com comprometimento da fauna, da flora e das próprias comunidades que vivem nos municípios da região.

Os membros presentes na reunião relataram, em ofício encaminhado ao Ministério Público Federal, que os poderes públicos e os produtores do agronegócio estão ignorando que “nossa região é uma das mais ricas de nosso país não só em termos de vida com uma fauna e flora invejável por sua beleza e diversidade, mas também pela diversidade de línguas que aqui são faladas, um patrimônio não só da região, mas do Brasil e de toda a humanidade.”

E assim prosseguem: “Nossa região abriga, ainda, muitas comunidades ribeirinhas, camponeses e quilombolas com suas culturas que precisam ser apoiadas porque mostram a maior riqueza que o ser humano pode criar: suas diferentes maneiras de ser, pensar, agir e crer, seus diferentes modos de comer, curar-se de habitar. Tudo isso vem sendo ameaçado por uma visão unilateral e que se quer única do que seja o progresso humano. São monoculturas no sentido mais forte que essa palavra pode ter: só acreditam numa cultura única.”

Houve ainda relatos do aumento de casos de aborto em Canabrava do Norte/MT em períodos em que há aumento na pulverização de agrotóxicos, fato que será objeto de apuração em inquérito civil instaurado na Procuradoria da República em Barra do Garças/MT.

Ao final do encontro, os representantes dos povos e comunidades tradicionais ali presentes formularam os seguintes requerimentos, dirigidos às instituições competentes:

. A criação, por parte dos governos federal e estadual, de um Gabinete de Crise para investigar os casos e ameaças a lideranças de camponeses, indígenas e defensores dos direitos humanos em função de conflitos na região, agravados pelo avanço do agronegócio;

. A imediata investigação, pelas autoridades de saúde pública, dos impactos dos agrotóxicos na saúde das pessoas e no ambiente da região do Médio Araguaia, com o necessário diagnóstico preciso de saúde, com destaque para a investigação e elucidação dos casos de aborto em Canabrava do Norte/MT;

. A revisão da legislação brasileira e a cessação imediata do uso de agrotóxicos proibidos em outros países;

. A proteção dos territórios dos povos indígenas e comunidades tradicionais, pescadores e comunidades camponeses da região;

. A proteção dos rios, córregos, varjões e do próprio Rio Araguaia e suas áreas inundáveis na região, com a proteção das florestas e cerrados adjacentes, considerando o legado de conhecimentos dos povos e comunidades que tradicionalmente habitam a região. Não há defesa do Araguaia sem os Povos Tradicionais do Araguaia.

Levando em conta que o avanço do agronegócio na região do Médio Araguaia, sem o controle adequado do emprego de insumos como agrotóxicos e fertilizantes, compromete o equilíbrio ecológico e socioambiental na região, é necessária a adoção de medidas que objetivem a garantia do meio ambiente natural e cultural relacionado aos povos e comunidades tradicionais do Médio Araguaia, diante dos problemas concretos identificados na carta aberta encaminhada ao MPF e a outras instituições públicas.

Deste modo, diante das reivindicações das povos e comunidades tradicionais e em atenção ao disposto no item 4, do artigo 7º, da Convenção nº 169 da OIT; e ao Princípio nº 22, da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, o Ministério Público Federal em Barra do Garças instaurou um inquérito civil com objetivo de apurar o impacto socioambiental causado pelo avanço das monoculturas na região do Médio Norte Araguaia, especialmente sobre os povos e comunidades tradicionais e seus territórios.

O Ministério Público Federal expediu ofício à ANVISA e aos órgãos de saúde municipais e estadual, para que contribuam com informações buscando a mitigação dos problemas relatados pelos povos e comunidades tradicionais do Médio Norte Araguaia.

Fonte: Procuradoria da República em Mato Grosso

 

in EcoDebate, 15/03/2016

 

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One thought on “MPF investiga o impacto socioambiental do avanço das monoculturas na região do Médio Norte Araguaia

  • Parabéns pela luta, pelo embate, muito sangue irá rolar nessa batalha. Desejo toda sorte do mundo aos diretamente afetados.
    Infelizmente está tudo errado, esse avanço do agronegócio tem conivência do governo e seus capachos, tanto oposição como situação.
    Enquanto não houver representantes dos desfavorecidos politicamente no poder a luta será árdua.
    Na terra de cego, quem tem olho é rei. Assim eles governam sem ética e sem moral, a base de clientelismo e fisiologismo em busca incessante de acúmulo de capital.

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