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Indicadores de recuperação da flora, artigo de Roberto Naime

 

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Recuperação de área degradada, em João Pessoa, PB. Foto: Prefeitura de João Pessoa.

 

[EcoDebate] São cada vez mais conspícuos e comuns no cotidiano e agora estão institucionalmente fundamentados no novo código florestal, a necessidade de recuperar as florestas e matas irregularmente desflorestadas. Para isto são importantes o uso de técnicas apropriadas de operação e adoção de estratégia de monitoramento adequada. As áreas a serem recuperadas são principalmente matas ciliares, que protegem cursos de água em bacias hidrográficas.

A obtenção de resultados satisfatórios em um projeto de recuperação de mata ciliares, devem ser avaliados por meio dos conhecidos indicadores de recuperação. A partir deste procedimento, é possível definir se a operação necessita sofrer novas interferências antrópicas ou até mesmo ser reformulada. Com o objetivo de acelerar o processo de sucessão e de restauração das funções da mata ciliar, e também de determinar o momento em que a floresta já restaurada, passa a ser autônoma e autossustentável.

Sempre que é realizada a avaliação da recuperação, através de indicadores, é possível determinar se as funcionalidades pretendidas estão sendo alcançadas e se as metas e objetivos pretendidos estão sendo alcançados. Não se pode pretender uma elevada diversidade biológica em uma operação cujo objetivo tenha sido o de proteger o solo e o curso d’água dos efeitos deletérios da instabilização dos taludes das margens, que causam aumento da erosão do solo, podendo propiciar maior degradação ainda da área.

Vinculados a estes contextos, modelos de recuperação mais complexos, envolvendo uma maior diversidade inicial de espécies vegetais, tendem a promover uma recuperação mais rápida da biodiversidade e da funcionalidade ecossistêmica. Várias investigações têm proposto a utilização de conjunto de indicadores de avaliação da recuperação e da sustentabilidade nos projetos de restauração ou de manejo das florestas e matas ciliares.

Frequentemente são utilizados insetos, como moscas e mosquitos, que são considerados bons indicadores ecológicos da eficiência da recuperação. São empregados e considerados também, a presença de formigas, cupins, vespas, abelhas e besouros. Em nível de solo nas áreas em processos de recuperação, ocorre uma sucessão de organismos, da meso e macrofauna, que estão presentes nas várias etapas da recuperação destes sítios, e esta efeméride sugere que possam ser encontrados outros bioindicadores, para cada uma destas etapas.

Também podem ser utilizados outros indicadores vegetativos que possam ser mensurados como chuva de sementes, a atuação de banco de sementes e a produção de serrapilheira. Todos estes indicadores apresentam a vantagem de serem de quantificação relativamente fácil, em relação a outros indicadores de natureza biológica.

O acompanhamento de comunidades jovens de regeneração tende a possibilitar a identificação do estágio serial e a evolução da mesma. Desta forma, as análises da regeneração natural são essenciais para se avaliar o sucesso da recuperação. A regeneração natural é analisada através de medições de diâmetro das espécies vegetais, da integridade do solo, e da altura das plântulas e plantas jovens, que são lançadas na floresta.

A quantificação da regeneração, quando associada com a classificação sucessional das espécies entre pioneiras, secundárias iniciais, secundárias tardias e climáticas, constitui indicador extremamente útil das condições de recuperação e do equilíbrio da floresta ciliar. Quando, na regeneração natural, espécies típicas dos estágios iniciais da sucessão como pioneiras e secundárias iniciais predominam em número de espécie ou de indivíduos, isto é indicativo de que a sucessão está muito lenta na área e que as espécies tardias não estão conseguindo chegar até o local. Neste caso é necessário algum tipo de intervenção exógena. É óbvio que a análise deve considerar o tempo de implantação da floresta de regeneração.

O banco de sementes compreende as sementes viáveis e em condições de germinar, presentes na camada superficial do solo. Utilizando um quadro apresentando dimensões de 0,5 X 0,5cm, lançado na superfície do solo, é realizada coleta de toda a serrapilheira e solo, numa profundidade de 0 a 5 cm, que retém a maior parte das sementes. Ocorrendo a transferência para a casa de vegetação em com o material ficando livre de contaminações externas, são fornecidas as condições de luz e de umidade, necessárias para a germinação das sementes. As sementes germinadas são contadas e as plântulas geradas são identificadas. Normalmente, o banco de sementes é formado por espécies pioneiras que apresentam dispersão em longas distâncias.

Havendo boa cobertura vegetal e satisfatórias condições de sombreamento do solo, em geral, as espécies pioneiras presentes no banco não encontrem condições favoráveis à germinação. Mesmo assim, esta dimensão não diminui a importância do banco de sementes como indicador de recuperação e de sustentabilidade, uma vez que são as espécies pioneiras que desencadearão o processo de colonização de um sítio.

O importante é determinar a riqueza de espécies do banco de sementes e a proporção entre espécies nativas e invasoras. Um banco ede sementes de espécies invasoras ou ruderais sugere que, frente a um distúrbio natural, como a abertura de clareiras, estas espécies poderão vir a colonizar a área, e competindo com as espécies nativas, o que pode afetar a equilíbrio da floresta ciliar.

A serrapilheira compreende, principalmente, o material de origem vegetal, como folhas, flores, rasos, frutos e sementes. E, também material de origem animal, que são restos de animais e de material fecal depositado na superfície do solo de uma floresta. Estes procedimentos atuam como um sistema de entrada e saídas. Este processo é particularmente importante na restauração da fertilidade do solo nas áreas em iniciação de sucessão ecológica.

Em comunidades já sucessionais, o acúmulo de serrapilheira e o tempo de sua remoção podem produzir mudança radicais na estrutura, afetando a substituição de espécies dominantes, bem como influenciando na riqueza e a diversidade. A quantificação da serrapilheira, ao longo do ano, permite estimar a produção anual por hectare. Em uma área ciliar que esteja em recuperação, esta compilação de dados é muito importante para comparações. Se este indicador estiver reduzido isto indica problemas com ciclagens de nutrientes no sítio considerado.

Referência:
Sebastião Venâncio Martins. Recuperação de matas ciliares. Editora Aprenda Fácil. Viçosa – MG, 2001.

 

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Celebração da vida [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

 

in EcoDebate, 12/11/2015

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