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Como ajudar as crianças a lidar com bullying ou rejeição dos colegas?

 

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Como ajudar as crianças a lidar com bullying ou rejeição dos colegas?

Por Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância

Essenciais na adaptação psicossocial durante a primeira infância e bem mais tarde, as relações das crianças com seus pares têm um papel primordial em seu desenvolvimento global. Promover as competências sociais e afetivas e intervir desde a mais tenra idade em caso de dificuldade parece particularmente eficaz para favorecer as experiências positivas entre as crianças.

 

 

Relações entre pares na primeira infância são essenciais para a adaptação psicossocial presente e futura. Vividas em atividades em grupo ou em amizades unipessoais, elas desempenham um papel importante no desenvolvimento das crianças, ajudando-as a dominar novas habilidades sociais e familiarizar-se com as normas e processos sociais envolvidos nas relações interpessoais. Este tema apresenta particular interesse na atualidade, uma vez que cada vez mais as crianças são expostas a outros pares mesmo antes do ingresso na escola, pela frequência a creches e porque a maioria das crianças interage com irmãos de idades aproximadas no contexto da família.

Até os quatro anos, ou mais tardar, a maioria das crianças é capaz de ter um melhor amigo e de conhecer os parceiros de quem gosta ou de quem não gosta. No entanto, entre 5% e 10% das crianças experimentam dificuldades crônicas nas relações com pares, tais como rejeição ou hostilização. Problemas precoces com pares podem ter um impacto negativo no desenvolvimento social e emocional posterior. Contudo, intervenções em relação a essas dificuldades parecem ser particularmente efetivas quando são realizadas mais cedo na vida.

O que sabemos?

Há uma série de habilidades emocionais, cognitivas e comportamentais que se desenvolvem nos dois primeiros anos de vida que ajudam a promover relações positivas entre pares. Entre elas, lidar com a atenção conjunta, regular emoções, inibir impulsos, imitar as ações de outra criança, compreender relações causa-efeito, e desenvolver habilidades de linguagem. Alguns fatores externos, tais como as relações das crianças com os membros da família e sua bagagem cultural ou socioeconômica, e fatores individuais, como incapacidades físicas, intelectuais de desenvolvimento ou comportamentais, também podem influenciar as experiências de crianças com seus pares.

Origens das dificuldades nas relações entre pares

Crianças com deficiências, que frequentemente estão prejudicadas quanto a uma ou mais das habilidades mencionadas acima, tendem a ter desempenho social menos satisfatório do que seus pares que apresentam desenvolvimento normal. Especialmente as crianças que têm habilidades limitadas ou nulas de comunicação, habilidades sociais e/ou habilidades motoras limitadas tendem a apresentar comportamentos inadequados (agressivos, por exemplo), interagir menos com seus pares, e em decorrência disso, a ser menos aceitas por eles.

Mesmo em crianças com deficiências, um dos principais fatores associados a dificuldades nas relações com pares é o comportamento. Crianças agressivas, hiperativas ou retraídas frequentemente sofrem mais rejeição dos parceiros.

A relação entre comportamento agressivo e a experiência de rejeição pelos pares pode variar de acordo com o gênero, o período de desenvolvimento e o grupo de pares. Por exemplo, a associação entre agressão e rejeição é mais acentuada nos anos pré-escolares ou nos primeiros anos de escola do que em fases posteriores da infância. Crianças agressivas também podem ser mais populares quando pertencem a um grupo de crianças que aceitam ou são neutras em relação a comportamentos agressivos; e podem não aparentar dificuldade de fazer amigos entre parceiros igualmente agressivos.

Ainda assim, mais do que a presença de agressão, a ausência de comportamento pró-social pode promover a rejeição entre pares. Crianças tímidas e retraídas também vivenciam dificuldades de relacionamento entre pares, embora isso tenda a ocorrer mais tarde, depois dos anos pré-escolares.

Impacto das dificuldades de relacionamento entre pares

A curto e médio prazo, relações problemáticas entre pares estão associadas com fracasso escolar e baixo desempenho acadêmico. Entre outras coisas, a rejeição e os conflitos entre pares podem reprimir a motivação das crianças para as atividades de sala de aula. Crianças que têm amigos na sala de aula e que são aceitas por seus pares em geral têm mais motivação para participar.

No longo prazo, dificuldades precoces de relacionamento entre pares correlacionam-se com uma diversidade de problemas de adaptação na adolescência e no início da vida adulta, tais como evasão escolar, delinquência e problemas emocionais como solidão, depressão e ansiedade. As evidências sobre consequências de longo prazo das dificuldades entre pares nos anos pré-escolares ainda são limitadas, uma vez que outras causas potenciais (por exemplo, fatores pessoais ou ambientais) não foram excluídas. No entanto, risco de não adaptação em crianças que apresentam problemas comportamentais e emocionais precoces parece ser exacerbado pela rejeição pelos seus pares. Inversamente, amizades e relações positivas precoces no grupo de pares parecem proteger crianças de risco contra problemas psicológicos posteriores.

Relações entre irmãos são um tipo especial de relação entre pares, mais íntimas e com tendência a ser mais duradouras do que qualquer outra relação na vida. Oferecem um contexto importante para o desenvolvimento da compreensão das crianças sobre o mundo dos outros, suas emoções, pensamentos, intenções e crenças. Conflitos frequentes entre irmãos na infância associam-se a dificuldades de adaptação mais tarde, inclusive tendências à violência.

O que pode ser feito?

Dois tipos de programas de prevenção destinados a promover competências sociais e emocionais em crianças pré-escolares evidenciaram impactos positivos: programas universais, que em geral são ministrados pelo educador para todo o grupo, visando promover aprendizagem e relações positivas entre pares; e programas indicados, que focalizam a recuperação de déficits de habilidades e a redução de problemas comportamentais existentes que podem levar a dificuldades da criança na relação com seus pares.

As pesquisas sugerem que a implementação dos dois tipos de programa no mesmo contexto proporcionaria um seguimento ideal de serviços. Programas universais poderiam melhorar a eficácia dos programas indicados, por tornarem o ambiente da sala de aula mais receptivo e encorajador em relação às habilidades sociais emergentes das crianças que são alvo dos programas indicados. É necessário, entretanto, analisar os custos e benefícios da implementação de programas universais.

Todas as crianças pré-escolares deveriam aprender um conjunto de habilidades associadas à aceitação pelos seus pares e que protejam da rejeição pelos seus pares. Nos anos pré-escolares, essas habilidades incluem capacidade de brincar cooperativamente, habilidades de linguagem e comunicação, compreensão emocional e regulação, controle da agressão e habilidades de resolução de conflitos sociais.

Programas universais foram projetados para ensinar essas habilidades e, aparentemente, os currículos pré-escolares que utilizam aulas de apresentação de habilidades (com histórias de modelagem, bonecos e ilustrações) e atividades práticas orientadas (brincadeiras e jogos de papéis) para ensinar habilidades socioemocionais na sala de aula têm impactos positivos.

Os ingredientes chave de programas eficazes indicados/selecionados incluem a orientação das crianças em brincadeiras cooperativas e habilidades de comunicação, e disponibilização de atividades gerais no contexto da sala de aula. Esses programas têm se mostrado eficazes para crianças com baixa aceitação pelos pares ou problemas de comportamento social e deficiências de desenvolvimento.

Para promover experiências positivas entre pares, especificamente para crianças com deficiências, a escolha educacional deveria recair sobre programas de inclusão em um grupo de crianças bem adaptadas. De fato, crianças com deficiências necessitam frequentemente de intervenções sistemáticas e planejadas individualmente, ou estratégias para a promoção de competências sociais relativas aos pares, e um aspecto central que determina o sucesso dessas intervenções é o acesso a um grupo socialmente competente.

Crianças de condição socioeconômica baixa ou pertencentes a minorias étnicas também representam populações de risco quanto a dificuldades entre pares. Para essas crianças, brincar com pares é um contexto natural e dinâmico para favorecer a aquisição de competências sociais importantes nos anos pré-escolares, e as intervenções que são interligadas a esse contexto têm-se revelado as formas mais eficazes de melhorar as interações dessas crianças com seus pares. O desenvolvimento e a implementação de intervenções em parceria com educadores infantis e com as famílias das crianças aumentam sua relevância para crianças de culturas e condições socioeconômicas diversas.

Programas de intervenção que abordam relações problemáticas entre irmãos ainda são incipientes, mas as evidências recentes sugerem que a capacitação de habilidades sociais pode ajudar a reduzir conflitos entre irmãos pequenos e aumentar suas interações pró-sociais. As intervenções para pais focalizam na sua capacitação como mediadores de conflitos entre seus filhos, ao invés de julgar e decidir por eles. Estruturando o processo de negociação, mas deixando nas mãos das próprias crianças a resolução final do conflito, esse tipo de intervenção visa, não só melhorar os desenlaces dos conflitos, mas também ajudar as crianças a compreenderem-se mutuamente e a desenvolverem formas construtivas de resolver conflitos.

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Do Portal EBC, in EcoDebate, 11/11/2015


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