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O crescimento da população mundial até 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O crescimento da população mundial até 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

população mundial 1950-2100

 

[EcoDebate] A Divisão de População da ONU divulgou, em 29 de julho de 2015, a atualização dos cenários das projeções populacionais para todos os países e regiões. Na revisão de 2010, a população mundial chegaria a 9,3 bilhões de habitantes em 2050 e de 10,1 bilhões de habitantes em 2100. Na revisão de 2012, os números foram: 9,6 bilhões em 2050 e 10,9 bilhões de habitantes em 2100. Na revisão 2015, os números subiram mais ainda, para 9,7 bilhões em 2050 e 11,2 bilhões em 2100.

O motivo da diferença está na redução mais lenta das taxas de fecundidade nos países de renda média (menos desenvolvidos) e baixa (muito menos desenvolvidos). Na revisão de 2010 da UN/ESA, a projeção da população em 2100 dos países desenvolvidos era de 1,33 bilhão, dos países menos desenvolvidos de 6,1 bilhões e dos países muito menos desenvolvidos de 2,7 bilhões. Na revisão de 2012, os números para 2100 foram, respectivamente, 1,28 bilhão, 6,64 bilhões e 2,93 bilhões. Na revisão 2015, os números passaram para 1,2 bilhão, 3,2 bilhões e 6,8 bilhões, conforme mostra o gráfico.

Ou seja, a população dos países desenvolvidos está caindo mais rapidamente do que o previsto nas projeções anteriores. Em compensação, as projeções para os países não desenvolvidos indicam um aumento maior do que o previsto anteriormente. Isto ocorre porque as taxas de fecundidade não estão caindo no ritmo esperado.

Portanto, as novas projeções apontam para uma população menor dos países ricos e uma população maior para o restante das regiões de desenvolvimento no final do século XXI.

Em termos absolutos, o aumento da população mundial foi de 4,5 bilhões no século XX (de 1,65 bilhão em 1900 para 6,1 bilhões em 2000) e deve ter um aumento de 5,1 bilhões somente no século XXI. O maior crescimento demográfico da história do homo sappiens.

A Índia deve ultrapassar a China em 2022 e se tornar o país mais populoso do mundo. A Nigéria que tem uma população menor do que a do Brasil atualmente, de 182,2 milhões em 2015, deve chegar a 752,2 milhões em 2100, mais do que os 450,4 milhões dos Estados Unidos em 2100, se tornando o terceiro maior país do mundo.

A Ásia é o continente mais populoso do mundo. Em 2015 tinha 4,4 bilhões de habitantes e deve atingir o pico populacional em 2057, com 5,3 bilhões, iniciando a partir desta data um declínio até alcançar 4,9 bilhões de pessoas em 2100. A Europa tinha 738 milhões de habitantes em 2015 e deve declinar até atingir 646 milhões de pessoas em 2100. A América Latina e Caribe (ALC) tinha 634 milhões de habitantes em 2015, deve atingir o pico de 793 milhões em 2061 e cair para 721 milhões de pessoas em 2100.

 

população dos continentes: 2015-2100

 

A América do Norte tinha população de 357 milhões de habitantes em 2015 e, mesmo com taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição, deve atingir 500 milhões de pessoas em 2100, devido fundamentalmente à imigração. A soma da população da Ásia, Europa, América Latina e Caribe, América do Norte e Oceania era de 6,1 bilhões de habitantes em 2015 e deve passar para 6,8 milhões de habitantes em 2100. Um acréscimo de 700 milhões de pessoas.

O grande crescimento demográfico do século XXI deve ocorrer no continente africano, que pode ver a população passando de 1,2 bilhão de habitantes em 2015 para 4,4 bilhões em 2100. Um acréscimo de 3,3 bilhões de habitantes em somente 85 anos. Isto significa que a África vai permanecer com taxas de fecundidade acima do nível de reposição e uma estrutura etária jovem.

O mundo caminha para uma situação em que os países desenvolvidos vão ter que enfrentar os problemas decorrentes do envelhecimento populacional, enquanto os países pobres, especialmente da África Subsaariana, vão ter que enfrentar os problemas decorrentes da “bolha de jovens” com poucas oportunidades de educação e emprego. A migração poderia ser uma solução parcial, mas dificilmente o fluxo de pessoas conseguirá romper as barreiras da xenofobia e das dificuldades de integração de populações com características econômicas, sociais e culturais tão diversas. A crise migratória do Mediterrâneo deve se agravar ao longo do século.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) calcula que existam 220 milhões de mulheres sem acesso aos métodos de regulação da fecundidade. Isto quer dizer que é grande o número de gravidez indesejada, fato comum na África Subsaariana. Contudo, a questão da dinâmica demográfica não foi bem formulada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e mesmo o Papa Francisco, que lançou recentemente uma avançada encíclica ecológica, não superou as restrições que a Igreja Católica tem aos métodos contraceptivos. Assim, o alto crescimento demográfico dos países mais pobres pode jogar suas populações na “armadilha da pobreza”, dificultando a melhoria da qualidade de vida e os investimentos nos direitos de cidadania.

A grave situação da África é retratada no relatório “No ordinary matter: conserving, restoring and enhancing Africa’s soils” (2014), que mostra que o continente sofre com uma tripla ameaça: a) degradação do solo; b) colheitas fracas e c) uma população crescendo em ritmo acelerado. A publicação do relatório ocorre em função do Ano Internacional dos Solos (2015), estabelecido pelas Nações Unidas (ONU). Há também a questão do estresse hídrico que afeta um número cada vez maior de paises.

O mundo de hoje, com 7,3 bilhões de habitantes, já tem uma Pegada Ecológica 50% maior do que a biocapacidade da Terra e já ultrapassou 4 das 9 fronteiras planetárias, segundo metodologia do Stockholm Resilience Centre. O aquecimento global e a degradação dos ecossistemas agravam as perspectivas para as próximas décadas.

Um acréscimo de quase 4 bilhões de habitantes nos próximos 85 anos vai colocar um grande desafio para a humanidade, que terá de garantir qualidade de vida para toda esta população, sem comprometer ainda mais as condições do meio ambiente e a garantia dos direitos da biodiversidade.

 

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

 

in EcoDebate, 01/08/2015

[cite]


população mundial
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One thought on “O crescimento da população mundial até 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

  • As projeções acima apresentadas têm o objetivo de levar as pessoas a acreditarem que o planeta Terra tem condições de manter a população humana crescendo até o ano 2100. Trata-se de propaganda enganosa.
    Muito antes do ano de 2100, o sistema Terra entrará em colapso, e todas as espécies serão atingidas e terão suas populações reduzidas ou extintas, e a espécie humana não será uma exceção.
    Se desejamos que a espécie humana continue sua jornada aqui na Terra por milhares ou milhões de anos, muito há que ser feito agora.
    O ponto de partida dessa imensa tarefa é a adoção de medidas que levem à redução da população humana, através da substituição do regime capitalista pelo socialismo, em todo o planeta, e a instituição de um único Estado planetário.
    É evidente que o atual poder dominante – capitalismo e religiões – não empreenderão as transformações supra citadas, apesar de ter consciência de que segue em rumo ao precipício.
    O capitalismo e as crenças religiosas são seres absolutamente irracionais.

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