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Artigo

Saúde do trabalhador, um sonho em Barcarena, artigo de Gilvandro Santa Brígida

 

artigo

 

Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.

Mas que sobretudo tenha sempre
o quente sabor da ternura.

(Thiago de Mello)

 

Mês passado uma emissora de televisão apresentou uma matéria sobre o adoecimento de trabalhadores na cadeia produtiva do alumínio. Como se não bastasse a poluição dos rios de Barcarena a degradação do solo e a contaminação do lençol freático, as empresas da cadeia produtiva do alumínio estão gerando também um exército de doentes. São muitas as doenças, provocados pelo esforço excessivo dos trabalhadores e trabalhadoras durante suas jornadas de trabalho, bem como doenças psicológicas devido à pressão e o assédio moral no trabalho.

Ao longo de pouco mais de 25 anos, a indústria do alumínio no Estado do Pará enfrentou inúmeras mudanças, das quais ressaltasse o processo de reestruturação produtiva, que se por um lado implicou em melhorias tecnológicas e aumento da produção e por outro, fez diminuir os postos de trabalho intensificando a terceirização no setor, alterando sensivelmente as condições e relações de trabalho nas empresas.

Muitas pesquisas já foram feitas e que constataram o nexo causal, entre as atividades desenvolvidas pelos trabalhadores e trabalhadoras no ambiente de trabalho. Ressalto a tese da doutora Laura Nogueira técnica da FUNDACENTRO que estudou vários casos de trabalhadores adoecidos na cadeia produtiva do alumínio. O tema da tese é “o sofrimento negado: trabalho, saúde/doença, prazer e sofrimento dos trabalhadores do alumínio do Pará – Brasil.

O estudo realizado vai contrapor o discurso das empresas, que negam o adoecimento dos trabalhadores no interior das fábricas. A pesquisa realizou 44 entrevistas com trabalhadores, familiares, representantes de trabalhadores, técnicos e gestores de uma empresa produtora de alumínio primário e ainda realizou análise documental de diversos textos como laudos médicos, CAT(comunicação de acidentes do trabalho) de trabalhadores e diversos impressos e documentos elaborados pela empresa, que permitiram a construção do cenário da pesquisa. O estudo mostra o sofrimento dos acidentados e adoecidos, reporta as vidas interrompidas, sentimentos de inutilidade/abandono, associados à organização do trabalho e ao modo como ocorre à gestão da segurança e saúde dos trabalhadores na empresa.

O estudo realizado pela doutora Laura, abre um espaço para as associações e Sindicatos de classes, lutarem pela criação de políticas públicas em Barcarena, que compreendam a saúde do trabalhador e ao mesmo tempo exigir das empresas um ambiente de trabalho mais saudável para que os trabalhadores não adoeçam.

A Saúde do Trabalhador constitui uma área da Saúde Pública que tem como objeto de estudo e intervenção as relações entre o trabalho e a saúde. Seus objetivos prioritários são a promoção e a proteção do trabalhador,  traduzida nas ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes e condições de trabalho, bem como a vigilância dos agravos (acidentes e doenças). A Saúde do Trabalhador aos poucos vem sendo incorporada às ações do Sistema Único de Saúde – SUS. Após a definição do conceito ampliado de saúde na Constituição de 1988 e  Lei Orgânica da Saúde  8.080, de 1990, o SUS assume a responsabilidade em coordenar essas ações sob o título de “Saúde do Trabalhador”.

Atualmente não existe política voltada para a saúde do trabalhador em Barcarena e tampouco vemos iniciativas do conselho de saúde, secretaria de saúde e câmara de vereadores do município. As ações em saúde do trabalhador estão restritas a ADRVDT (associação em defesa dos reclamantes e vitimados por doenças do trabalho na cadeia produtiva do alumínio), que exerce suas atividades sem apoio do poder público o que limita muito suas ações.

Enquanto isso os trabalhadores adoecidos estão entregue a própria sorte, já que dificilmente o INSS reconhece a doença do trabalho e muitos quando voltam do benefício são demitidos e entregues a própria sorte. Hoje o modelo de saúde ocupacional culpa o trabalhador pelo seu adoecimento, dizendo que faltou comprometimento com a sua segurança. Sob essa ótica, segurança e saúde no trabalho, dependem da conscientização do trabalhador, excluindo-se assim, possibilidades de análises que considerem o nexo entre condições e a organização do trabalho e os riscos de acidentes e doenças enfrentadas pelos trabalhadores.

Gilvandro Santa Brígida
Sociólogo/professor

 

Colaboração de Rogério Almeida, para o Portal EcoDebate, 06/04/2015

[cite]


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