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Artigo

O ‘imprestável’ em Capão dos Marcelos, Baixo Parnaiba, crônica de Mayron Régis

 

Baixo Parnaíba

 

[Territórios Livres do Baixo Parnaíba] Nem sempre a palavra mais adequada se apresenta e, por essa razão, a palavra inadequada ou, quem sabe, a palavra imprestável servirá muito bem a quem se dispor a usá-la. O senhor Luis Vitor vive com a esposa em 60 hectares no Capão dos Marcelos, município de Buriti de Inácia Vaz. Os filhos moram próximos a eles.

Nos últimos meses, o senhor Luis Vitor passou bastante tempo atarefado na construção de um galinheiro. Ele se incumbiu sozinho da obrigação, pois o recurso que recebera mal dava para comprar o cimento e os arames, com os quais edificaria o galinheiro, e para comprar os pintos e a ração inicial. “Aqui, os jovens só arregaçam as mangas se receberem diárias.”

Quer fosse Capão dos Marcelos ou quer fosse as Laranjeiras, isso não importa, os jovens cobrariam uma diária de qualquer um até mesmo de um parente e o senhor Luis Vitor era avô de muitos jovens naquelas redondezas.

O senhor Omar, morador das Laranjeiras, indicara-o para, quem sabe, participar dos projetos que a AMIB (Associação dos Amigos de Buriti) desenvolve no município de Buriti com recursos do Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA). A situação do senhor Luis Vitor não se difere da situação de outros tantos agricultores familiares (pequenos proprietários e posseiros) que o agronegócio asfixia em pequenas extensões de terra.

Os funcionários das empresas de soja e de eucalipto sugerem todos os dias para os agricultores familiares que a sensação de asfixia pode piorar de uma hora para outra e que a única saída possível é venderem ou trocarem suas propriedades ou posses de acordo com os termos ditados pelas empresas.

No começo de outubro, o senhor Luis Vitor recebeu a visita de um dos funcionários da empresa que planta eucalipto colado a sua propriedade. Ele queria que o senhor Vitor trocasse os 60 hectares por uma área á beira do rio Preto. O senhor Vitor se encontrava sozinho, pois a sua esposa viajara para fora do município.

Com certeza, o funcionário esperava ou que o senhor Vitor pedisse um tempo para pensar ou que festejasse a proposta. Ocorreu o contrário. O senhor Vitor sacou que a empresa o via como um imprestável e que bastava enviar um emissário com uma proposta qualquer para ele aceita-la de imediato. Na sua pergunta-resposta, o senhor Vitor afrontou o funcionário: “Eu sou, por acaso, um filho duma égua para passar a roer osso depois de tanto tempo comendo carne?”.

* Mayron Régis, Colaborador do EcoDebate, é Jornalista e Assessor do Fórum Carajás e atua no Programa Territórios Livres do Baixo Parnaíba (Fórum Carajás, SMDH, CCN e FDBPM).

** Crônica enviada pelo Autor e originalmente publicada no blogue Territórios Livres do Baixo Parnaíba.

Publicado no Portal EcoDebate, 21/10/2014


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