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Cisternas de enxurrada garantem produção agrícola com água de chuva em comunidades Fundo de Pasto de Uauá, BA

 

cisterna de enxurrada

Região conhecida nacionalmente como terra do bode e referência em todo Semiárido brasileiro pelo trabalho de beneficiamento de frutas da Caatinga, especialmente o umbu, Uauá, no sertão da Bahia, é um dos municípios contemplados pelo Projeto Mais Água, da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza da Bahia – Sedes, que nesta região é executado pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – Irpaa.

Ao longo do Projeto, cerca de 180 comunidades do município serão contempladas com um total de 173 implementações, em sua maioria em comunidades de Fundo de Pasto. D. Marlene, D. Adriana e S. João Bosco estão entre as/os beneficiários/as do projeto que já estão usando a água armazenada na cisterna de enxurrada com as últimas chuvas para cultivar alimentos.

Trabalho em família

Marlene Silva de Aquino Almeida, de 30 anos, vive com a filha e o esposo na comunidade de Volta do Rabelo, a 12 km da sede de Uauá. Beneficiária do Mais Água, ela mostra com satisfação os primeiros resultados do projeto, destacando que a chegada da cisterna animou algumas pessoas da sua família a se unirem para cultivar a horta e o pomar ao lado da tecnologia de captação e armazenamento de água da chuva. As chuvas que caíram no mês de dezembro encheu a cisterna e a água vem sendo usada para manter o cultivo de coentro, cebolinha, alface, pimentão, quiabo, mandioca, além de plantas medicinais e fruteiras como mamão, pinha, acerola, maracujá e goiaba.

O cunhado de Marlene, S. Rogério de Almeida, relata que “quando um não pode molhar, o outro molha, a gente tem união pra plantar né, cuidar e cada um ter seu canteiro”. Marlene completa dizendo que não basta apenas a vontade de plantar, mas “tem que saber também cuidar”, diz tomando como base o esforço coletivo que membros das famílias estão tendo para confirmar a eficácia da tecnologia implantada na propriedade. Para Marlene, só o fato de não comprar mais os produtos que agora tem ao lado de casa e todos sem agrotóxicos, já é uma grande contribuição do projeto. À espera da segunda filha, os planos da agricultora são de “futuramente poder vender, poder ajudar a comunidade também, não pensar só na gente”.

Segurança Alimentar e complemento à renda

Na Fazenda São Bento, a cisterna também já está contribuindo para algumas mudanças na família de D. Adriana Cardoso Varjão. Além do consumo de hortaliças como couve e coentro na alimentação cotidiana, tudo produzido de forma orgânica nos canteiros construídos também pelo projeto, a venda do excedente desses produtos na Feira da cidade já é uma realidade.

D. Adriana, que também é criadora de abelhas e preside a Associação de Apicultores da Fazenda São Bento, conta que a família sempre fez plantios de chuva, mas agora experimenta cultivos permanentes a serem irrigados com a água armazenada na cisterna de enxurrada. Junto com o esposo, S. José Carlos Santana, ela vem cuidando da produção e está sempre em busca de mudas, principalmente de fruteiras.

Na área de Fundo de Pasto onde o casal mora com os filhos, além da criação de caprinos e ovinos e da apicultura, a família agora passará também a ter para o sustento, podendo até vender, alimentos como abobrinha, pinha, manga, seriguela, acerola, umbuzeiro, além de ervas bastante usadas na medicina alternativa como capim santo e hortelã.

O adubo utilizado vem dos animais da propriedade e a cisterna possibilita cultivar também alimento para o rebanho, conta D. Adriana, que está apostando também no plantio de forragem como capim e sorgo.

Complementação de tecnologias

Na comunidade de Ouriciu, região de vasta Caatinga, as famílias estão apostando na preservação. A caprinovinocultura, no modo de criação em área coletiva (Fundo de Pasto), ainda é uma das principais fontes de renda. Para complementar esta prática e garantir o armazenamento da água da chuva, S. José Bosco Pedro Mariano conta que está ansioso para cultivar a partir da cisterna de enxurrada que recebeu do governo, através do Irpaa, no Projeto Mais Água.

Os 52 mil litros de água hoje guardados na cisterna serão utilizados para manter cultivos de raízes como mandioca, beterraba, cenoura, planeja S. João Bosco. Uma grande vantagem é que sua propriedade fica ao lado de outra cisterna de enxurrada, a do seu vizinho Antônio Ferreira Matos, também contemplado com o projeto, e ambos compartilham uma área de captação de uma barragem subterrânea, construída pela Articulação do Semiárido (Asa). A barragem, que fica situada entre as duas cisternas, está na terra de S. Antônio, mas o cultivo pode ser feito nas duas propriedades.

Assim, o uso da água da cisterna certamente será menor, permitindo uma economia na irrigação e aumentando a possibilidade de cultivos. Atualmente, nas áreas já estão sendo colhidos legumes como feijão de corda, maxixe, frutas a exemplo de melancia, além de hortaliças. Os agricultores estão vendo se desenvolver também sorgo, banana, limão, acerola, tomate, mamão e até abacaxi.

Saiba mais sobre o Projeto Mais Água

O Projeto Mais água executado pelo Irpaa vai instalar um total de 651 tecnologias de captação e armazenamento de água de chuva e realizar atividades voltadas para a Convivência com o Semiárido em cinco municípios dos Territórios do Sertão do São Francisco, Norte de Itapicuru e Itaparica, na Bahia. Trata-se de um total de 885 famílias dos municípios de Abaré, Curaçá, Uauá, Jaguarari e Andorinhas que além de receber as tecnologias, estão participando de cursos, visitas e intercâmbios.

Em Uauá estão sendo implementados: 77 cisternas de produção; 01 barragem subterrânea; 60 barreiros trincheiras familiares; 05 barreiros trincheiras comunitários; 10 limpezas de aguadas; 20 quintais produtivos.

Texto e Foto: Eixo Comunicação

Fonte: Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA

EcoDebate, 13/08/2014


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Alexa

One thought on “Cisternas de enxurrada garantem produção agrícola com água de chuva em comunidades Fundo de Pasto de Uauá, BA

  • O artigo me lembrou a história do Padim Cícero, no nordeste.
    Esta história e seus ensinamentos me lembrei e encontrei num maravilhoso trabalho (Preservação de mananciais – preservação da vida – FEHIDRO – MAIO DE 2010, de cujo PDF obtive os preceitos do Padre Cícero, que seguem:

    Preceitos ecológicos de padre CÌcero
    (Vida de Pe. Cícero – Ediouro – 1998)
    Não derrube o mato nem mesmo um só pé de pau.
    Não toque fogo no roçado nem na caatinga.
    Não cace mais e deixe os bichos viverem.
    Não crie o boi em o bode soltos; faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer.
    Não plante em serra acima nem faça roçado em ladeira muito em pé, deixe o mato proteger a terra para que a água não a arraste e não se perca a sua riqueza.
    ***
    Faça uma cisterna no oitão da sua casa para guardar água de chuva.
    Represe os riachos de 100 em 100 metros, ainda que seja com pedra solta.
    Plante cada dia ao menos um pé de algoroba, de cajá, de sabiá ou
    outra árvore qualquer, até que o sertão todo seja uma mata só.
    Aprenda a tirar proveito das plantas da caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar a conviver com a seca
    Se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a seca vai aos poucos se
    acabando, o gado melhorando e o povo terá sempre o que comer
    Mas se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só.
    Da obra
    Preservação de mananciais – Preservação da vida
    FEHIDRO
    MAIO DE 2010
    Edson Ferreira – Elo Ambiental edson.ferreira@sider.net
    Acesso via:
    http://www.agua.org.br/apresentacoes/54480_Eloambiental.pdf
    Não preciso acrescentar mais nada.
    Não seguiram os conselhos do Padim Cícero e deu no que aí está. O pior é que certos conselhos servem, ainda, para qualquer campo de cultura do país. E se tivessem feito isso, Brasil afora, quem sabe São Paulo não estaria na crise de água do presente.
    Deixo a omissão para ser “ruminada” pelos co-responsáveis.
    Obrigado.

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