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Das limitações às evidências de Thomas Piketty sobre a desigualdade mundial

 

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Em uma das análises da conjuntura realizada em maio, ‘O Capital no século XXI’: O desmonte das teses liberais e da economia neoclássica, destacou-se a centralidade do debate sobre o aumento da desigualdade econômica no mundo, a partir da obra O Capital no século XXI, do economista francês Thomas Piketty.

Em consonância com a percepção coletiva de muitos movimentos sociais espalhados pelo mundo, as contribuições de Piketty só vieram reforçar a evidência de que a distância entre ricos e pobres chegou a um nível inaceitável.

É bom lembrar que o próprio Movimento Occupy, em 2011, já havia apontado que o “capitalismo não está mais funcionando”. Não sendo exagero dizer que “a questão das desigualdades está no centro dos debates políticos e econômicos na Europa, nos Estados Unidos e até nas economias emergentes”, daí o fascinante sucesso da obra de Thomas Piketty.

Após a febre inicial em torno da obra do economista francês, que angariou elogios de economistas progressistas de peso, como Joseph Stiglitz e Paul Krugman, ambos prêmios Nobel de Economia, além do reconhecimento de economistas conservadores, que a consideraram inovadora, vieram as críticas.

Entre as mais interessantes, destaca-se, por exemplo, a do geógrafo marxista David Harvey, que considera as reflexões de Piketty oportunas e brilhantes, mas sem deixar de ser contundente em sua crítica: “não conte com ele para compreender a dinâmica central do sistema”. Para Harvey, Piketty conta com uma definição equivocada de capital, pois “capital é um processo, não uma coisa. É um processo de circulação no qual o dinheiro é usado para fazer mais dinheiro, frequentemente – mas não exclusivamente – por meio da exploração da força de trabalho”. No entanto, “Piketty define capital como o estoque de todos os ativos em mãos de particulares, empresas e governos que podem ser negociados no mercado – não importa se estão sendo usados ou não”. Ora, “dinheiro, terra, imóveis, fábricas e equipamentos que não estão sendo usados produtivamente não são capital. Se é alta a taxa de retorno sobre o capital que está sendo usado, é porque uma parte do capital foi retirado de circulação”. Nesse raciocínio, uma das fragilidades da argumentação de Piketty está em não relacionar o capital com a produção ou o processo de valorização no sistema capitalista.

Para o economista francês François Chesnais, grande crítico do neoliberalismo, a proposta de Piketty em introduzir um imposto mundial sobre a riqueza é totalmente inviável. “A lista de problemas do capitalismo atual é muito mais abrangente e inclui queda na taxa de lucro global, crescimento da concentração industrial e avanço no grau de monopolização”.

Afora as limitações analíticas expostas, bem como outras que podem ser cabíveis, o fato é que Thomas Piketty faz lembrar que a desigualdade social não é um acidente, mas uma característica inerente ao capitalismo. É o sistema funcionando normalmente. Em relação a isso, parece não haver discordâncias entre os que debatem com ele. E para isso os números ajudam muito. Segundo o conservador The Economist, hoje 1% da população tem 43% dos ativos do mundo. Os 10% mais ricos detém 83%. Analisando a evolução de 30 países, durante 300 anos, de 1700 até 2012, percebe-se que a produção anual cresceu em média 1,6%. Ao contrário, o rendimento do capital foi de 4 a 5%”.

A obra de Piketty, ao evidenciar um grande aceleramento nos níveis de desigualdade do mundo, desafia a narrativa de centro-esquerda, particularmente da social-democracia que acreditou que o liberalismo poderia coexistir com a distribuição de renda. Pensando no Brasil, coloca em alerta os prognósticos ou a sensação de que se vive um momento de maior justiça social, com distribuição de renda. Como avaliar o debate sobre a desigualdade em um país fascinado com o aumento na capacidade de consumo das camadas populares, mas com tamanha concentração de renda?

A análise da Conjuntura da Semana é uma (re)leitura das Notícias do Dia publicadas diariamente no sítio do IHU. A análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas Unisinos – IHU, pelos colegas do Centro Jesuíta de Cidadania e Ação Social/Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CJCIAS/CEPAT e por Cesar Sanson, professor na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.

(EcoDebate, 21/07/2014) publicado pela IHU On-line, parceira editorial do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]


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One thought on “Das limitações às evidências de Thomas Piketty sobre a desigualdade mundial

  • Evidentemente, “a desigualdade social (…) é uma característica inerente ao capitalismo”, mas ela não é exclusiva do capitalismo, pois existe desde a antiguidade, e existirá até o final da História da espécie humana.
    Nota: digo “até o final da História da espécie humana” porque acredito que o poder do capitalismo é imbatível, e será capaz de fazê-lo existir até o extermínio total da vida humana.

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