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Até tu, Marina? artigo de Heitor Scalambrini Costa

 

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[EcoDebate] Gosto de dar minha opinião através de textos singelos sobre temas que me interessam particularmente, como política energética, fontes renováveis de energia, (in)justiça social, meio ambiente, política universitária. E não deixo de escrever quando determinado assunto me deixa indignado. Particularmente, quando existe o interesse notório de iludir, enganar, ludibriar a boa vontade das pessoas.

Daí escrever este breve comentário sobre o relacionamento político de uma das pessoas públicas brasileiras de grande reconhecimento e de enorme respeitabilidade, a ex ministra Marina Silva.

No portal oficial dessa ilustre personalidade destaca-se: “ganhou reconhecimento dentro e fora do país pela defesa da ética, da valorização dos recursos naturais e do desenvolvimento sustentável”.

Sem dúvida requisitos louváveis para alguém que se dedica há 30 anos à vida pública, conquistando o respeito dos que querem e lutam por um mundo melhor, no presente e para as gerações futuras. A posição combativa e corajosa da cidadã Marina fez com que ela conquistasse as mentes e corações de uma parcela importante do povo brasileiro (e do mundo afora). Na sua candidatura ao cargo público mais importante, nas eleições presidenciais de 2009, conquistou mais de 20 milhões de votos.

Todavia, recentemente, o “jogo político” levou-a a se aliar com um ex-colega de ministério (1ª gestão do governo Lula), que ocupou o cargo de ministro de Ciência e Tecnologia, o atual governador de Pernambuco e pré-candidato a presidente da Republica nas eleições de 2014.

Portanto, Marina conhece seu aliado da hora, inclusive com posições antagônicas às suas quando participaram do mesmo Ministério na questão dos transgênicos, da reativação do Programa Nuclear Brasileiro e mesmo do entendimento que cada um tinha, e continua a ter, sobre desenvolvimento sustentável, tema tão caro à ex-ministra.

As diferenças entre ambos, atuais carne e unha, são abismais. Inclusive para os marqueteiros, e os que fazem a propaganda dos candidatos, a dificuldade de justificar a aliança de ambos levou-os a trazer a tona na biografia de cada um os seus tutores políticos (ambos falecidos): o ambientalista acreano Chico Mendes, e Miguel Arraes, ex-governador de Pernambuco e avô de Eduardo Campos. A intenção é de convencer o eleitor de que os dois têm tudo a ver, complementam-se. Como se fosse possível misturar água e óleo.

De antemão, não será uma tarefa fácil, visto que o eleitor um pouco mais informado e esclarecido vai comparar o que de fato aconteceu e acontece em Pernambuco na administração do pré-candidato presidencial, que se propõe a disseminar em todo Brasil a “nova política (?)”, sua “gestão inovadora (?)”, “competente (?)” e deixar para trás as “raposas políticas (?)”.

Sua ação predatória em relação ao meio ambiente, nos 8 anos de governo, é visível a olho nu em Pernambuco. Só não enxerga quem não quer ver. Ao estimular a vinda de indústrias sujas, como termoelétricas a combustíveis fósseis (quem não se lembra da “maior termoelétrica do mundo” defendida pelo governador e rechaçada pela sociedade), sua defesa da vinda da uma usina nuclear para o interior do Estado (basta ler as noticias nos jornais da época), a atração por estaleiros que sem dó nem piedade expulsou pescadores e marisqueiras e diminuiu sensivelmente a pesca artesanal em Pernambuco. Além do desmatamento, como nunca visto em um período tão pequeno de tempo, na região de Suape, onde o mangue, a mata Atlântica e a restinga desapareceram em nome do tal “desenvolvimento”. A vinda da refinaria e da indústria petroquímica para o Estado, importando para o território o maior vilão do aquecimento global e consequentemente das mudanças climáticas, o petróleo, e todas as mazelas que aporta ao meio ambiente e à saúde das pessoas.

Sem dúvidas as questões sociais, de expulsão das pessoas de suas moradias, a propalada geração de emprego e renda (mais de 40 mil empregos serão perdidos entre 2014 e 2016 em Pernambuco), educação sofrível, os péssimos serviços públicos de água, energia e esgoto/saneamento, o tratamento oferecido da “idade da pedra” aos jovens e adolescentes infratores. Além da forma monocrática de gestão do poder (chamada por alguns de “neocoronelismo”), com o evidente subjugo dos outros poderes constituídos (legislativo e judiciário). Sem falar da posição de atrelamento da mídia empresarial do Estado, que se tornou uma extensão do Diário Oficial, e que colaborou efetivamente para a criação da “ilha da fantasia” em que se transformou Pernambuco.

Enfim, nestas poucas linhas é impossível elencar os pontos tão divergentes nos discursos e práticas de ambos personagens políticos que hoje mostram uma “simbiose” incomum, motivados muito mais pelos interesses pragmáticos do que programáticos, em conquistar o poder.

Portanto, é importante nesta eleição a valorização do voto, analisar, conhecer mais a historia dos candidatos, suas alianças. Ter muita clareza em relação ao quadro real, que se impõe sobre o virtual, o propagandístico. Lamentavelmente para o povo brasileiro que ira escolher, as opções não são nada alvissareiras. Mas que pelo menos vote conscientemente e não deixe ser enganado ou ludibriado por falsas promessas e discursos vazios que não refletem a pratica de quem fala.

Heitor Scalambrini Costa, Articulista do Portal EcoDebate, é Professor da Universidade Federal de Pernambuco.

EcoDebate, 19/03/2014


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6 thoughts on “Até tu, Marina? artigo de Heitor Scalambrini Costa

  • Bruno Versiani

    Bem, se formos ficarmos no mundo “sonhático” no final das constas não sobrará ninguém em quem votar … Até o ponto em que nossa consciência nos permite, (infelizmente) temos que descer no jogo político … ou senão ou candidato “ideal” ficará enclausurado com meia dúzia de votos.

  • Adir de Jesus Cardoso

    Como todos sabem, quando Marina Silva teve a inscrição da Rede sustentabilidade negada pelo TSE, em outubro passado, teve que resolver a situação de seu grupo, em 48 horas. Alguns não queriam união com nenhum partido, mas sim continuar a coleta de assinaturas para satisfazer o TSE. Outros detentores de cargos políticos queriam coligação para não ficarem no ostracismo. Das 4 ou 5 propostas oferecidas a opção foi a do PSB, partido de Eduardo Campos e governador de Pernambuco, melhor avaliado do País. Só o futuro dirá se a tomada de decisão foi a correta. Não vamos mudar uma situação secular na política brasileira, numa eleição. O caminho é longo para alcançarmos as mudanças que queremos. É um trabalho de mudança de mentalidade junto ao povo brasileiro que vê a política associada a roubos, mentiras e enganos praticados pelos eleitos, que nada fazem para isso mudar. Alterar esses conceitos incutidos na mente de um povo desde seu descobrimento, é obra de muita paciência e trabalho. Nada surgirá por encanto. Lutemos, pois.

  • O PERFIL DOS APROVEITADORES DE PLANTÃO FICA EXPOSTO EM MARINA E EDUARDO CAMPOS, ALÉM DE OUTROS QUE NO FUNDO POSSUEM O MESMO PERFIL.

    É desalentador ficar sem opções quando quase todas elas são literalmente desastrosas.!

    ALGUNS SUPOSTOS “PUROS-SANGUE” POSSIVELMENTE EXISTENTES NO PSOL, QUE PELO MENOS DEMONSTRARAM COERÊNCIA ATÉ ENTÃO, não conseguem emplacar e o país gira mesmo em torno das “velhas raposas” sob o manto de cordeiros e as “novas opções” do tipo COLLORIDAS!
    O VOTO NULO FAVORECE A TODOS OS INFRATORES DE PLANTÃO. A ESCOLHA PELO “MENOS RUIM” É UMA OPÇÃO DESANIMADORA!
    Estamos diante de um ENIGMA ESFÍNGICO:
    DECIFRA-ME OU DEVORO-TE!
    Traduzido em nossa linguagem:
    SE CORRER O BICHO PEGA E SE FICAR O BICHO COME!

    Luiz Dourado

  • Valdeci Silva.

    Marina Silva é o maior engodo da política brasileira.

  • sulema mendes de budin

    Para quem ainda se ilude com Marina Silva, basta lembrar que ela assinou a licença de Barra Grande e criou a famigerada Lei de Florestas, um crime contra as florestas nativas e o meio ambiente! Foi um instrumento do PT e só caiu fora porque estava sendo “fritada”! Os 20 milhões de votos de 2010 representam uma reação de quem não tinha candidato! Eu preferi anular o meu voto. Comigo ela não se cria, nem me ilude!

  • Infelizmente Marina Silva teve de se alinhar com Eduardo Campos. A manobra do TSE-Dilma forçou ela à uma aliança impura ou ao ostracismo político durante 4 anos, o que feriria de morte qualquer tentativa dela em se eleger nas eleições de 2018. Lula enquanto quis ser “sangue puro” nada levou, e somente depois de alinhar com outros poderes conseguiu subir à presidência e promover um mínimo do que sempre prometeu. Mesmo longe de cumprir com o prometido, o governo Lula fez muito mais pelos mais desassistidos do nosso país que todos os outros juntos, e isso desde a república. E Marina no MMA conseguiu impor um novo ritmo ao desmatamento na Amazônia, que perdura até agora, e mais que dobrou o número de Unidades de Conservação (de proteção integral, pois uso sustentável até prefeitinho cria aos montes…) em todo o Brasil, inclusive no Paraná, terra do Agronegócio.

    Agora, se realmente quisermos sair da polarização PT-PSDB não teremos outra escolha em 2014, e 2018, se tudo o mais falhar. Será ela e ponto, seja com Eduardo Campos agora ou mais à vontade em 2018.

    Agora, fico muito triste por estes tempos em meu país, onde o argumento técnico caiu por terra ou está sendo emprestado da ciência para justificar e combater políticos e políticas. Isso sempre existiu, mas nestes últimos tempos está exarcebado, e feio. Encaro este texto mais sonhático do que a própria Marina, quem o escreveu está muito tendencioso (correlegionário de alguém?) ou não compreendeu a situação que o TSE-Dilma impôs à candidata Marina Silva.

    PS: Espero que publiquem isso, longe de mim querer aqui ser partidário ou atacar quem quer que seja.

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