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A expansão hidrelétrica e o modelo de desenvolvimento

 

Conforme os dados anunciados pelo governo no final do ano passado, a meta é construir 34 hidrelétricas na próxima década

Atingido pelos projetos de hidrelétricas no Rio Tapajós – Foto: Joka Madruga

 

Gilberto Cervinski e Guilherme Weimann, do Especial Atingidos por Barragens – Brasil de Fato

 

Conforme o “Plano Decenal de Expansão de Energia 2021”, o Governo prevê a construção de 34 hidrelétricas nos próximos 10 anos, sendo que 15 serão nos rios da Amazônia (86,5% da potência). Seguindo a atual política de tratamento, milhares de famílias serão expulsas sem receber seus direitos.

Desde a falta de abastecimento de energia elétrica em 2001, conhecida como “apagão”, houve um esforço crescente de convencer a população da necessidade de construção de hidrelétricas para suprir o consumo.

Entre 2004 e 2012, o potencial hidrelétrico instalado subiu de 90 GW para 120 GW, um crescimento de 30% na geração de energia. Conforme os dados anunciados pelo governo no final do ano passado, a meta é construir 34 hidrelétricas na próxima década.

Atualmente, 15 usinas hidrelétricas (UHEs) se encontram em construção no país, somando cerca de 22.00 MW de potência. Outras 19 UHEs, que somam 19.700 MW, estão na lista para serem leiloadas.

Também serão construídas dezenas de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), usinas hidrelétricas de pequeno porte, que poderão acrescentar mais 2.500 MW de potência até o ano de 2021. Além disso, outras 29 UHEs, com potencial de 8.900 MW, estão em “estudo de viabilidade” e também poderão entrar nos planos de leilões.

Entretanto, diversos especialistas, organizações e movimentos sociais ligados à energia contestam essa política de geração voltada para atender os interesses dos grandes consumidores eletrointensivos, exportadores de produtos de matéria prima.

Em 2009, segundo o professor da USP, Célio Bermann, cerca de 30% da energia elétrica produzida no país foi consumida por seis ramos de grandes consumidores industriais – cimento, ferro-gusa e aço (siderurgia), ferro ligas, não ferrosos (alumínio), química, papel e celulose.

São produtos que se utilizam de muita energia, geram um grande impacto social e ambiental, não agregam valor e são destinados à exportação.

O questionamento fundamental sobre as usinas tem sido “para que? e para quem?”. Já que, na atual forma de organização da política energética percebe-se que por trás estão grandes empresas mundiais de máquinas e equipamentos, construtoras, empresas de energia e grandes consumidores industriais eletrointensivos, que lucram com a construção das usinas, com a venda da energia e com a exportação de eletrointensivos.

 

População atingida poderá chegar a 250 mil

O governo estima que apenas 62 mil pessoas serão diretamente afetadas pela totalidade dos projetos, mas estes dados são contestáveis. Somente em duas hidrelétricas que fazem parte destes planos, nas usinas de Belo Monte e no projeto de Marabá, são mais de 60 mil pessoas atingidas.

O próprio governo, até hoje, não possui nenhum cadastro ou levantamento preciso do número da população atingida por todas estas usinas. Nas já construídas, a realidade mostra que o número real de atingidos chega a ser quatro vezes maior da estimativa do governo.

Essas práticas tem sido constantes e serve para a negação dos direitos dos atingidos pelas empresas. A ausência de informações mais precisas por parte do governo sobre as populações que serão vítimas das usinas é a primeira demonstração das violações de direitos que ali serão cometidos posteriormente.

 

Área alagada

A área alagada pelos novos projetos está estimada em 6.456 Km², ou seja, 645 mil hectares. A área é 10% maior que todo território do Distrito Federal. No entanto, este cálculo pode estar subdimensionado.

Com a crise econômica mundial, na busca por maiores lucros, as corporações transnacionais estão se movimentando para retomar a construção de usinas com grandes lagos, as chamadas “usinas de acumulação”. Se o governo ceder ao lobby dos empresários, os problemas sociais e ambientais se multiplicarão.

Análise no MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens, publicada pelo EcoDebate, 06/11/2013


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4 thoughts on “A expansão hidrelétrica e o modelo de desenvolvimento

  • Caros Cervinski e Guilherme Weimann,
    Já faz tempo que o Brasil deixou de ser exportador exclusivo de matérias primas. As indústrias de cimento, ferro-gusa e aço (siderurgia), ferro ligas, não ferrosos (alumínio), química, papel e celulose atendem ao mercado interno e geram excedentes para exportação. Algumas delas, como cimento e papel, geram pouco excedentes para exportação, visto que a maior parte é consumida no mercado interno.
    No entanto, a produção de energia elétrica não pode e nem deve ser restrita a este ou àquele setor. Para isso, o Brasil interligou seu sistema elétrico, de modo que qualquer consumo, seja ele residencial ou industrial, seja retirado do conjunto de usinas produtoras. Assim, se vocês acenderem uma lâmpada ou ligarem seu computador em São Paulo, poderão estar consumindo energia produzida em Itaipu, em Ilha Solteira ou em uma das usinas do Rio Madeira.
    A energia hidráulica é inquestionavelmente uma energia limpa, mas a formação do lago causa impactos ambientais e humanos. Por isso, a despeito do “lobbie” que vocês identificaram para voltar aos antigos lagos de acumulação, as novas usinas são todas feitas por fio d’água.

  • Ok Paulo Afonso, o seu lobbie também está feito mas precisa de uma correção. Você fala que a energia hidráulica é inquestionavelmente limpa e isso é absolutamente questionável. Não existe possibilidade de qualquer geração de energia ser um processo limpo, aliás esta é a maior das falácias em relação às hidrelétricas, por vários motivos. Para se construir uma hidrelétrica é preciso desmatar muito, pois precisa de área inundável (terra para ser inundada precisa ser desmatada), área para a construção da infraestrutura necessária (casa de máquina, barramento, canteiro de obras, diques, etc) e área para abertura de estradas para transporte de máquinas, insumos, pessoas, ou para compensar as vias interrompidas pelo reservatório; é alterada a dinâmica do rio e o ecossistema todo muda; os recursos pesqueiros são afetados; as populações são afetadas e muito mais. Além de tudo isso, as hidrelétricas produzem muito metano, que é dispersado no ambiente quando a água passa pelas turbinas… isso não é nada limpo pois o metano é o gás mais contribui para o efeito estufa. Junta o desmatamento da construção e o metano da geração e só isso já é muita coisa. Agora alia tudo isso à incompetência dos poderes públicos e das empresas para lidar com os impactos e daí é que a sujeira aparece mesmo.

  • Lilian, bom dia! Agradeço pelas observações ao meu comentário.
    Você tem toda razão. Nenhuma forma de produção de energia é totalmente limpa.
    No entanto, umas são mais sujas que as outras. É o caso, por exemplo, das termelétricas, que entram em funcionamento sempre que o nível dos reservatórios está baixo. Nós, ambientalistas, torcemos para que chova não apenas porque pagaremos menos na conta de energia elétrica, mas porque diminuirão os gases de efeito estufa.
    Eu imaginava que a energia eólica não causasse problemas ambientais e fui convencido do contrário pelo artigo do Gogó, publicado no EcoDebate de anteontem.
    Como o Brasil tem um enorme potencial hidrelétrico e a produção de energia hidráulica é classificada entre as que são consideradas limpas, o que temos a fazer é aprimorar cada vez mais sua técnica. É o que vem sendo feito ultimamente.
    Há alguns anos, passando pelo lago de Furnas, surpreendi-me com um espetáculo muito bonito, mas de danos incalculáveis. Era a época da piracema e os peixes subiam o rio para se reproduzir. Ao tentarem passar pelo bueiro sob a estrada que corta o lago, eles não conseguiam competir com a força da água e ficavam pulando. Resultado: não conseguiam seguir seu caminho e se tornavam bastante vulneráveis.
    Nas hidrelétricas do Rio Madeira, esse problema não vai acontecer, pois foi feita escada para ajudar os peixes a subir o rio durante a piracema.
    Você falou que, para se construir uma hidrelétrica, é preciso desmatar muito, pois há necessidade de área a ser inundada, área para a construção da infraestrutura necessária (casa de máquina, barramento, canteiro de obras, diques) e área para abertura de estradas para transporte de máquinas, insumos, pessoas ou para compensar as vias interrompidas pelo reservatório.
    Tudo isso vem sendo abordado nos novos projetos. A área inundada diminuiu muito com as hidrelétricas funcionando por fio d’água, ou seja, o reservatório é o estritamente necessário para criar o desnível geométrico que propiciará a geração de energia. Quanto às demais intervenções a que você se refere, a tendência é reduzi-las ao mínimo indispensável. Afinal, se plataformas de petróleo são construídas no oceano sem afetar significativamente o ecossistema, por que a construção de hidrelétricas não pode ser feita de forma também a preservar o meio ambiente?

  • Os ambientalistas que me perdoem, mas hidrelétricas a fio dágua não é uma solução sustentável. Com o objetivo de causar menor interferência no meio ambiente este tipo de instalação aproveita uma fração reduzida da potencia disponível. Como a população não parará de crescer e como cada vez vive com maior conforto, consumindo mais energia é claro que em pouco tempo estaremos construindo mais térmicas, que no meu entendimento, são muito mais puluidoras que as hidrelétricas de acumulação.
    Não me lembro que durante o apagão da virada do século, alguém tenha reclamado das 39 poluentes térmicas que o FHC mandou construir!!
    Este artigo peca quendo diz que exportamos eletrointensivos. A pauta de exportação do Brasil é 85% de produtos básicos ( 5 ou 6) me lembro dos principais: Minério de ferro, soja em grâo, petróleo e açúcar de cana bruto.
    Abraços e pensem no futuro das pessoas que morarão neste pais
    Zilton

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