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Extração de xisto (fracking). O ‘progresso’ a qualquer custo. Entrevista com Suzana Padua

 

Fracking (fratura hidráulica), imagem em www.gaslandthemovie.com
Fracking (fratura hidráulica), imagem em www.gaslandthemovie.com

 

“Muitas medidas que parecem boas para a economia podem ser danosas ao meio ambiente, como o gás de xisto”, adverte a ambientalista.

Foto: revistaescola.abril.com.br

Confira a entrevista.

A extração do gás não convencional, conhecido popularmente como xisto, pode causar impactos ambientais “irremediáveis”, alerta Suzana Padua, em entrevista concedida à IHU On-Line por e-mail. Segundo ela, “o processo de exploração do gás de xisto contamina a água por causa do local em que o xisto se encontra, aprisionado em pequenas bolhas de formações rochosas altamente impermeáveis”.

Ela explica: “Enquanto o gás natural e do petróleo ocorrem em estruturas geológicas e nichos próprios, o gás de xisto está impregnado nas rochas e na própria formação geológica. Sua extração tornou-se eficiente e econômica em tempos recentes por conta de avanços tecnológicos. A eficácia nas perfurações horizontais e o procedimento de fraturar a rocha, conhecido como ‘fracking’, injeta, sob alta pressão, grandes quantidades de água, explosivos e substâncias químicas. É nesse processo que ocorrem vazamentos e a contaminação de aquíferos de água doce, que estão localizados acima do xisto”.

Na avaliação da ambientalista, a possível extração de xisto no Brasil pode contaminar o Aquífero Guarani, um dos maiores reservatórios de água subterrânea do país. “Qualquer país com inteligência e sagacidade em relação ao futuro estaria defendendo o Aquífero Guarani com unhas e dentes, ao invés de planejar formas de danificá-lo por conta de divisas que serão resultado de práticas insustentáveis e irresponsáveis”, frisa.

Suzana Padua é doutora em Educação Ambiental pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília e mestre pela Universidade da Flórida. É presidente do Instituto de Pesquisas Ecológicas – IPÊ e membro da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais.

Confira a entrevista.

Foto: https://encrypted-tbn0.gstatic.com

IHU On-Line – Hoje se fala em uma “revolução do xisto” nos EUA. O que isso significa? Trata-se de uma nova revolução energética?

Suzana Padua – Não sou especialista neste assunto, mas estou divulgando o tema por considerar de grande risco. Copiar um país como os EUA, que vem buscando meios de alavancar sua economia com práticas que podem ser danosas para o meio ambiente, não me parece ser prudente. A falta de estudos prévios e de uma visão de longo prazo são fatores que preocupam os especialistas nesta área. Foi assim com os agrotóxicos, os transgênicos e tantas outras “tendências” danosas que se implantaram em nosso país – e agora é a vez do xisto. O Brasil copia, adota e depois se torna campeão de uso, dependente das grandes empresas multinacionais que são as fabricantes desses produtos nocivos ao meio ambiente e à saúde humana, mas depois tem de lidar sozinho com as consequências nefastas que permanecem em nosso território. O fato é que muitas medidas que parecem boas para a economia podem ser danosas ao meio ambiente, como o próprio gás de xisto. Sua exploração causa impactos ambientais, que podem ser irremediáveis, o que já foi observado nos locais em que vem sendo extraído. Por conta disso, há países que têm evitado entrar na onda de explorar o xisto, mesmo perdendo a chance de ganhar divisas econômicas. Outros, que querem entrar, vêm encontrando barreiras com a opinião pública, como ocorreu recentemente no Reino Unido, quando a população manifestou-se fortemente contra essa prática.

IHU On-Line – O Brasil está entre os países que possui as maiores reservas de gás não convencional. Como o país deve se posicionar diante da chamada “revolução do xisto”?

Suzana Padua – O Brasil é um dos poucos países do planeta a ter uma posição confortável em termos de recursos naturais. Por isso, deveria estar ditando regras, e não cedendo a pressões econômicas internacionais. Segundo o geólogo e professor emérito da Universidade Federal de Santa Catarina e coordenador do Projeto Rede Guarani/Serra Geral, Luiz Fernando Scheibe, especialista na questão do gás de xisto, nosso país nem precisa de gás neste momento, menos ainda entrar no processo de explorar o gás de xisto sem precisar. Ele defende uma moratória de cinco anos, período em que estudos podem ser realizados para aumentar as chances de se evitar danos maiores, especialmente ao maior patrimônio da atualidade: a água. Qualquer país com inteligência e sagacidade em relação ao futuro estaria defendendo o Aquífero Guarani com unhas e dentes, ao invés de planejar formas de danificá-lo por conta de divisas que serão resultado de práticas insustentáveis e irresponsáveis.

IHU On-Line – Quais as implicações ambientais da extração do gás não convencional (xisto) para o Aquífero Guarani?

Suzana Padua – O processo de exploração do gás de xisto contamina a água. A razão é o local em que o xisto se encontra, aprisionado em pequenas bolhas de formações rochosas altamente impermeáveis. Enquanto o gás natural e o petróleo ocorrem em estruturas geológicas e nichos próprios, o gás de xisto está impregnado nas rochas e na própria formação geológica. Sua extração tornou-se eficiente e econômica em tempos recentes por conta de avanços tecnológicos. A eficácia nas perfurações horizontais e o procedimento de fraturar a rocha, conhecido como “fracking”, injeta, sob alta pressão, grandes quantidades de água, explosivos e substâncias químicas. É nesse processo que ocorrem vazamentos e a contaminação de aquíferos de água doce, que estão localizados acima do xisto. Trata-se, portanto, de uma tecnologia que se baseia em processos invasivos da camada geológica portadora do gás, por meio da fratura hidráulica (shale gas fracking), que resulta em danos ambientais ainda não totalmente conhecidos, mas que podem ser irreversíveis.

IHU On-Line – Como vê a intenção do governo brasileiro de incluir o gás de xisto na matriz energética brasileira?

Suzana Padua – O Brasil parece querer progresso a qualquer custo. Ainda não acordou para o grande valor do que temos em nosso território em termos de biodiversidade e outras riquezas naturais. Deveríamos estar investindo maciçamente em tecnologias sustentáveis e salvaguardando nosso patrimônio natural. Temos feito o inverso, o que é uma lástima. Uma vez que a natureza seja impactada, jamais retorna ao estado original. Mesmo em casos de sucesso, como a recuperação de áreas degradadas, ou a despoluição de rios, por exemplo, o resultado final jamais alcança a diversidade do que havia originalmente. São bilhões de anos de evolução para se ter a vida encontrada em biomas como os encontrados no Brasil, mas para se destruir é rápido. Não que tenhamos de tratar a natureza como intocável. Não é isso. Simplesmente, é optar consciente e responsavelmente por caminhos que levem à vida e não à morte. Todos queremos desenvolvimento, conforto e progresso. Mas que tipo e a que preço é o que precisamos pensar agora. Se investíssemos em alternativas sustentáveis e limpas, chegaríamos a níveis altos de satisfação sem colocarmos em risco o que temos ainda em nosso território. As escolhas determinarão nosso destino, e o xisto é apenas mais um elemento que está mostrando a força do poderio econômico frente à nossa própria preservação nessa Terra. Quando não houver mais água, e oxalá isso não aconteça, espero que lembremos que foi por conta de escolhas irresponsáveis que ficamos à deriva de um destino nada promissor.

(Ecodebate, 04/09/2013) publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]


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3 thoughts on “Extração de xisto (fracking). O ‘progresso’ a qualquer custo. Entrevista com Suzana Padua

  • Vicente Lassandro Neto

    Vivemos neste planeta chamado Terra, esta linda e INCOMPREENDIDA BOLA e é muito importante que se saiba como ela funciona para que possamos nos posicionar de acordo com as leis naturais que a governam e não em oposição às mesmas como é, atualmente, feito.

    Residir nesta BOLA e não saber como ela funciona se assemelha a algo com vivermos numa casa sem conseguir identificar os aposentos. Vamos fazer coisas do tipo:

    1 – Guardar o carro no quarto da empregada e sugerir que ela vá dormir na garagem.

    2 – Cozinhar no banheiro e tomar banho na cozinha.

    3 – Dormir na sala de visitas e receber as visitas no quarto.

    Tudo isso será uma enorme confusão, só que esta confusão fica restrita à residência de cada um de nós, ao passo que, no caso do planeta Terra, ela se estende à humanidade, como um todo. E é isto que está ocorrendo e teremos que evitar que continue acontecendo.

    Quando se observa a Terra com olhos mais agudos e menos não contemplativos surgem novidades, onde as soluções se evidenciam de modo que possamos agir em concordância com as leis naturais do planeta Terra. O que acontece é que estas novidades apresentadas estão em oposição a tudo o que, atualmente, se diz e escreve, novidades estas que são simples e claras como tudo na natureza é simples e claro. Observemos Wilhelm Reich, em seu livro, Escuta Zé Ninguém página 23 da 11ª edição de 1993.

    “O homem pequeno é aquele que não reconhece a sua pequenez e teme reconhecê-la; que procura mascarar a sua tacanhez e estreiteza de vistas com ilusões de força e grandeza alheias. Que se orgulha de seus grandes generais e não de si próprio. Que admira as ideias que não teve mas nunca as que teve. QUE ACREDITA MAIS, ARRAIGADAMENTE, NAS COISAS QUE MENOS ENTENDE E QUE NÃO ACREDITA NO QUE QUER LHE PAREÇA FÁCIL DE ASSIMILAR”.

    Assim sendo, há uma grande dificuldade, por parte dos humanos e evidenciada por Wilhelm Reich em aceitar e assimilar conceitos novos de qualquer natureza e, em particular, sobre a Terra, onde destacamos:

    1 – A VIDA, na sua forma atual e do ponto de vista humano, vai acabar por falta de gás carbônico. Do ponto de vista GEOLÓGICO, JÁ ACABOU. Não não há solução. Florestas e plantas antecipam este fim.

    2 – O PETRÓLEO não acaba e a queima de seus derivados, além de gerar trabalho, posterga o fim da vida. Volume gerado de petróleo é de 5,2 QUATRILHÕES DE BARRIS, não é engano, SÃO QUATRILHÕES onde algo ao redor de 300 TRILHÕES estão no interior do Brasil e que podem ser acessados com recursos bem inferiores aos usados no Mar, em menor tempo, em condições menos inseguras e sem usar um milímetro de apoio sísmico.

    Mas para tal é necessário de sejam estraçalhados paradigmas na área do atual conhecimento geológico. Somando-se a isto, é preciso uma revisão e extinção de quase todas as leis petrolíferas e ambientais que estão ERRADAS, em total desacordo com as leis naturais que governam o planeta Terra e em nada ajudam, SÓ ATRAPALHAM E MUITO.

    3 – “EFEITO ESTUFA” não existe. É uma invenção maldosa e criminosa dos dirigentes de alguns países industrializados, desenvolvidos e ricos.

    4 – AQUECIMENTO GLOBAL existe e é um fenômeno natural causado pela reação da FOTOSSÍNTESE, ou seja, pelas florestas e plantas de um modo geral. Este aquecimento não tem relação alguma com as atividades dos humanos e dos demais animais que, pelo contrário, agem no sentido de esfriar e não de aquecer.

    5 – É SUICÍDIO COLETIVO, péssimo uso do tempo e gasto inútil de recursos, a tentativa em se querer preservar florestas, animais e praticar economias de baixo carbono.

    Sem que as cinco afirmações acima sejam entendidas e colocadas em prática, as esperanças de dias menos piores para a humanidade estarão, IRREMEDIAVELMENTE SEPULTADAS e só restará a ela,

    “IR SER SELVAGEM, ENTRE ÁRVORES E ESQUECIMENTOS”
    Álvaro de Campos

    Por outro lado, além de nos posicionar de modo errado, a humanidade não está dando a devida importância para uma das leis mais importantes que é a seguinte:

    NÃO HÁ TRABALHO SEM CONSUMO DE ENERGIA

    O trabalho é um dos fatores que mais afeta o bem estar dos humanos e, ao que tudo indica, esta lei não está sendo respeitada pois a humanidade reclamou, reclama e, à luz dos paradigmas atuais, continuará reclamando pela falta de trabalho.

    Temos que, urgentemente, ofertar mais energia mas para isso há que se rever todas as leis ambientais e petrolíferas. Isso é comigo.

    Depois estimular o consumo pela redução do preço. Isso é com o governo e empresários.

    Primeiro, via retirada de todos os impostos e subsídios que incidem sobre a energia.

    Depois, como vamos extrair petróleo a, no máximo, 10 US$/bbl, vamos nos reunir com os empresários do setor para mostrar que é possível vender derivados de petróleo, na bomba, a no máximo R$ 0,30 o litro e com muito lucro, mas muito mesmo, para todos, onde estão os pesquisadores, extratores, refinadores, transportadores e distribuidores.

    Atenciosamente
    Vicente Lassandro Neto
    GEÓLOGO – ECOLOGISTA – Engenheiro em Petróleo, em Segurança no Trabalho, Naturista e Enófilo.

    Dúvidas para esclarecimentos adicionais ou abertura de espaço para apresentar palestras a CUSTO ZERO, basta contatar os endereços abaixo:

    71 – 3348-4252 – Horário Comercial
    71 – 3336-7432 – Após 20 horas
    71 – 8136-7825 – Celular da Claro

  • Gás de xisto ou de folhelho? Eis a questão!
    Com a palavra especialistas no assunto.

    Resposta do EcoDebate: Segundo o Serviço Geológico do Brasil, CPRM: Folhelho é uma rocha argilosa de origem sedimentar; xisto é uma rocha metamórfica, de outra origem, portanto. Mas há uma longa e equivocada tradição brasileira, inclusive entre técnicos da Petrobras, de chamar folhelho (shale) de xisto (schist), daí se falar muito em gás de xisto (in http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=2618&sid=129) .

    O usual, na imprensa e por técnicos, é usar a expressão gás de xisto para os dois casos, porque o processo de extração é similar.

  • Suzana Pádua, obrigada pela sua matéria, extrema interessante e informativa.

    Pena que ela também serviu de isca para trolls. :(

Fechado para comentários.