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Resíduos Sólidos de Gesso, artigo de Antonio Silvio Hendges

 

produção do gesso
Foto: Unicamp

Resíduos Sólidos de Gesso, artigo de Antonio Silvio Hendges

[EcoDebate] A produção do gesso é realizada através da mineração e calcinação em baixas temperaturas (150ºC) da gipsita, mineral natural produzido pela evaporação de mares. No Brasil, as principais jazidas estão no polo gesseiro de Araripe, sertão de Pernambuco, responsável por 95% da produção nacional.

O gesso possui excelente plasticidade e homogeneidade, endurecimento rápido, pequeno poder de retração na secagem, estabilidade volumétrica e inibe a propagação de chamas ao liberar moléculas de água quando aquecido. A principal atividade que utiliza o gesso é a construção civil, principalmente em acabamentos de paredes, tetos e revestimentos.

O desenvolvimento de novas tecnologias ampliou o consumo no Brasil, atualmente em 30 Kg/habitante/ano, principalmente com a tecnologia Drywall, método de construção de paredes e tetos interiores utilizando-se painéis pré moldados de gesso prensado entre duas folhas de papel acartonado e secas em estufas.

Os impactos dos resíduos de gesso no meio ambiente são acentuados: constituído de sulfato de cálcio di-hidratado, em contato com o oxigênio da água oxida-se e torna-se tóxico para o meio ambiente: a solubilização do material provoca a sulfurização dos solos e a contaminação dos lençóis freáticos. Sua disposição inadequada ou em aterros sanitários comuns pode provocar a dissolução dos componentes e torná-lo inflamável.

“O ambiente úmido, associado às condições aeróbicas e à presença de bactérias redutoras de sulfato, permite a dissociação dos componentes do resíduo em dióxido de carbono, água e gás sulfídrico, que possui odor característico de ovo podre. A incineração do gesso também pode produzir o dióxido de enxofre, um gás tóxico. As possibilidades de minimizar o impacto ambiental, portanto, são a redução da geração do resíduo, a reutilização e a reciclagem”, informa a pesquisadora Sayonara Maria de Moraes Pinheiro.

Estudos desta pesquisadora da Universidade Federal do Vale do São Francisco – Univasf e outras pesquisas aplicadas demonstraram que o gesso descartado pode ser recuperado inúmeras vezes, mantendo as mesmas propriedades físicas e mecânicas do original. A simples moagem já pode ser considerada como um processo de reciclagem, tornando possível a reutilização do material. Quando associada à calcinação, os resíduos podem ser utilizados como aglomerantes, possibilitando o seu uso comercial regular e convencional. As pesquisas e estudos comprovam que o gesso da construção civil pode ser sustentável. “Se não houver contaminação, o gesso pode ser 100% reciclado. Dessa forma, você contribui diretamente com a sustentabilidade do setor da construção civil como um todo, seria uma logística reversa”. Para destinar os resíduos de gesso à reciclagem é necessário estabelecer programas de gestão nos canteiros de obras.

A Resolução 307/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA que disciplina a gestão e gerenciamento dos resíduos da construção civil – RCC que classificava os resíduos do gesso como Classe C para os quais não existiam tecnologias ou aplicações economicamente viáveis para sua reciclagem ou recuperação, foi atualizada através da resolução 431/2011 que reclassificou o gesso como Classe B que são os resíduos de construção civil recicláveis como plásticos, papéis, metais, vidros e madeiras. Esta atualização é resultado das pesquisas citadas que possibilitaram novas tecnologias e usos para o gesso reciclado. Os resíduos de gesso devem ser armazenados separadamente dos outros RCC como madeiras, plásticos, papelões, restos de alvenarias como tijolos, blocos e argamassa, tintas e solventes. Como o gesso absorve muita umidade, é imprescindível que o local de armazenagem seja seco e arejado, protegido das chuvas e outras possibilidades de contatos com água ou líquidos.

Além da reutilização na construção civil, o gesso reciclado pode ser aplicado controladamente na agricultura para a correção de solos, como aditivo para compostagem, absorvente de óleos, controle de odores e secagem de lodos em estações de tratamento de esgoto.

REFERÊNCIAS:

– Alternativas de Gestão dos Resíduos de Gesso. Vanderlei M. John e Maria Alba Cincotto. Disponível em: http://www.reciclagem.pcc.usp.br/ftp/Alternativas%20para%20gest%C3%A3o%20de%20resiudos%20de%20gesso%20v2.pdf. Acesso em 05/05/2013.

– Gesso pode ser reciclado indefinidamente. Disponível em: http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=reciclagem-de-gesso&id=010125130117. Acesso em 05/05/2023.

– Resolução 431/2012 do Conama.

Antonio Silvio Hendges, Articulista do Portal EcoDebate, é Professor de biologia, assessoria em gestão integrada sustentável de resíduos sólidos e educação ambiental.  E-mail: as.hendges@gmail.com

 

EcoDebate, 14/05/2013


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