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Tentar fazer com que ‘não se crie’ o novo. E precisava? artigo de Montserrat Martins

 

Ordem do Dia. Votação da PL 4470/2012 - Plenário concluiu votação de projeto que restringe a fatia do Fundo Partidário de novas legendas
Ordem do Dia. Votação da PL 4470/2012 – Plenário concluiu votação de projeto que restringe a fatia do Fundo Partidário de novas legendas. Foto: Gustavo Lima / Câmara dos Deputados

 

[EcoDebate] Tenho muitos amigos governistas, porque na década de 80 eu estava lá, junto com eles, lutando pelo crescimento do principal partido de oposição da época, que veio a se tornar governo há uma década. Nos últimos dias, os que encontrei estavam constrangidos com um artifício do governo contra a oposição, para garantir a vitória de 2014 no primeiro turno. O governo aprovou na Câmara o fim do tempo de TV e o fundo partidário para novos partidos – com um empenho que não teve para a reforma política, que não vai sair. Durante duas décadas, os anos 80 e 90, a oposição lutou contra todo tipo de casuísmos, até consolidar a democracia e chegar ao poder. Precisava agora, para facilitar sua vida, usar também de casuísmos eleitorais e rasgar mais um pedaço de sua história política?

Sei que não é fácil ser governo e admiro, sinceramente, os esforços para a chamada “governabilidade”, tão bem descrita no livro do André Singer sobre “Os sentidos do lulismo”. Nos anos 80 Paul Singer nos mostrava uma nova leitura da economia, como ela poderia crescer com distribuição de renda, o que acabou se concretizando. Agora é o André quem explica a “segunda alma” do seu partido, a da governabilidade e os acordos necessários. Não invejo quem está lá, tendo de “engolir” os Renan Calheiros da vida, perdendo a própria identidade com tantos arranjos indigestos. Gosto mais da “primeira alma”, aquele grande movimento dos anos 80 que queria mudar o país e sua cultura política “coronelista” – que ao invés de ter sido afastada hoje está junto no governo.

Outra leitura do casuísmo pré-eleitoral para 2014 é que as eleições de 2010 foram traumáticas, o chamado “efeito Marina” e o segundo turno foram vividos como riscos graves para um projeto político de longo prazo. Uma amiga que saiu da juventude petista para a Rede contou que a ideia é “não deixar se criar” a repetição do fenômeno de 2010 – que poderia ter sido pior para o governo se Marina chegasse ao segundo turno, pois ela teria potencial para vencer Dilma, que Serra nunca teve. O curioso é que entre participantes da Rede, o partido que está sendo criado com a participação de Marina Silva e Heloísa Helena (que também marcou época, como presidenciável pelo PSol), o foco principal não é 2014 e sim a consolidação de uma nova cultura política, mais participativa, como aquela da “primeira alma” dos anos 80 da qual elas faziam parte.

O Datafolha, hoje, daria uma vitória tranquila para Dilma no primeiro turno: a economia e o emprego estão estáveis e, ao contrário da Europa, o país não sofre turbulências. Muita coisa pode melhorar, é claro – a questão ambiental inclusive, pois o Código Florestal foi ‘podado’ e o desmatamento segue sem um enfrentamento mais contundente do governo. Mas no dia a dia da população o ambiente é de acomodação, os índices de aprovação da presidenta são altíssimos. Acho, sinceramente, um exagero essa preocupação toda do governo com o “efeito Marina”, que pode ter efeito contrário inclusive. Nos anos 80, nada nos motivava mais a lutar do que os casuísmos do governo, que nos levavam a esforços heróicos, forjando lideranças destemidas como Marina Silva e Heloísa Helena.

Meus amigos governistas, com todo respeito pelos seus acertos, pela sua luta e seus sacrifícios, mas essa de tentar fazer com que “não se crie” o novo não vai vingar, será inútil e só vai motivar mais quem quer resgatar a “primeira alma” de todos nós. E cá entre nós, precisava?

Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.

EcoDebate, 29/04/2013


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2 thoughts on “Tentar fazer com que ‘não se crie’ o novo. E precisava? artigo de Montserrat Martins

  • O que dizer desse artigo, perfeito nas suas analogias e sincero na sua análise! Realmente é compreensível as alianças que se tem de fazer em função da governabilidade, mas “perdoado” isso, o PT atual têm cada vez mais se distanciado de sua primeira alma, o que faz com que os poucos que (ainda) acreditavam sinceramente na permanência de resquícios dela no atual governo, vão perder as poucas ilusões restantes tão evidente o casuísmo dessa última lei, e agora se debandam de vez para a #Rede, fazendo com que a maior força motriz do PT seja agora a da Marina. PT virou mais um qualquer dentre todos os outros partidos, todos eles fazendo uso do poder pelo poder…

  • roberto fragoso de mello

    O que fazer, quem vive de ilusão é magico.
    ACORDA BRASIL!!!!!
    NOVAS ESCOLHAS NOVAS OPORTUNIDADES.
    O PT que era um partido da esperança talves não fique na lembrança ta cansando a mesmice.

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