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RJ: Mapeamento da baía de Sepetiba mostra incidência de metais pesados

 

 

Fotos: Divulgação/Uerj

    
        Embarcação usada pelos pesquisadores da Uerj para a
coleta de sedimentos na baía de Sepetiba e Ilha Grande

Chumbo, cobre, vanádio, cromo e cádmio. O mapeamento da área da baía de Sepetiba, na Costa Verde, por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores, registrou a presença, em maior ou menor grau, de metais pesados, em seu interior, resultantes da atividade humana. Segundo o geólogo e Cientista do Nosso Estado da FAPERJ Mauro César Geraldes, da Faculdade de Geologia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), parte desses metais decorre do acidente que, durante fortes chuvas, há mais de uma década e meia, derrubou um dique de contenção da antiga Metalúrgica Ingá, fazendo com que os rejeitos industriais nele contidos vazassem para a baía. Para se chegar a essa conclusão a equipe executou uma amostragem de sedimentos e identificou como cada tipo de metal se distribuiu, no interior da baía, desde seu ponto de origem. O trabalho foi desenvolvido com recursos do edital Pensa Rio, da FAPERJ.

O projeto teve como alvo realizar estudos oceanográficos e geológicos integrados na área compreendida entre a Ilha Grande e a baía de Sepetiba, ou o equivalente a cerca de 305 km2. “Trata-se de uma região importante do entorno geoeconômico do país, uma vez que está entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, Belo Horizonte e Vitória. Isso significa uma área potencialmente catalisadora do desenvolvimento, despontando como um dos polos industriais fluminenses”, exemplifica o pesquisador.

A questão é que a atividade industrial de toda essa área também é responsável pelo lançamento de várias substâncias potencialmente tóxicas, tanto em afluentes de rios locais que ali deságuam quanto na própria baía. “A Companhia Mercantil Ingá, por exemplo, foi responsável por um grande derramamento de zinco e outros metais, de seus estoques de resíduos, que há mais de 30 anos estavam acumulados no local de produção da empresa. Foi causa de um grande desequilíbrio ecológico naquela região de Sepetiba”, afirma.

  Mapa de concentração de amostras de cádmio na baía de Sepetiba

Para caracterizar a dinâmica sedimentar e identificando o impacto da contribuição do homem para a presença de metais pesados naquela região, a equipe procedeu ao estudo de amostras de sedimentos coletados na baía, à sua análise e da concentração desses metais nelas contidos, assim como do material em suspensão. As amostras foram analisadas no Laboratório Geológico de Processamento de Amostras (LGPA), para proceder à sua separação granulométrica. “Numa segunda etapa, parte do material foi preparada para a análise que permitiu quantificar os elementos. A utilização de um espectrômetro de massas, que permite identificar os diferentes átomos que compõe uma determinada substância, nos ajudou no levantamento das fontes antrópicas, ou seja, provocadas pelo homem, de onde tais metais tiveram origem”, ressaltou Geraldes.

Durante o preparo do material, ele foi seco em caixa de luz e posteriormente submetido à desagregação e, em seguida, a uma nova separação das menores frações granulométricas do sedimento. No passo seguinte, as amostras assim fragmentadas ainda passaram por um processo de lixiviação para delas se extrair os metais. Paralelamente, um correntômetro – instrumento que armazena informações sobre as características e intensidade das correntes marinhas, sob diversas condições metereológicas e de marés –, colocado em determinadas áreas da baía, pôde guardar dados para formar uma série temporal ao longo da coluna d’água.

Com esses estudos, foi possível aos especialistas traçar o percurso feito por determinado tipo de metal, em meio às correntes marinhas, até seu ponto inicial. “Essa ferramenta é um traçador que identifica o tipo de isótopo contido no metal, a partir das amostras coletadas. Tal como uma impressão digital, as que tiverem a mesma origem apresentarão o mesmo isótopo, mas ela só pode ser usada em áreas onde não haja derramamento de uma diversidade muito grande de metais”, afirma Geraldes.

 

     
      Mauro Geraldes (dir.) e seus alunos durante trabalho de campo

No projeto, os pesquisadores procuraram identificar, além dos metais já citados, também cobre, cobalto e níquel nas amostras coletadas. “No caso do zinco, como as concentrações foram mais altas do que as esperadas, as técnicas analíticas tiveram que ser ajustadas após os primeiros resultados obtidos, de forma que os valores não ficassem subestimados”, diz o pesquisador.

Em Sepetiba, foram realizadas análises de 96 pontos de coleta, para se ver como cada metal se distribui desde seu ponto de origem, até onde ele é levado pelas correntes. “De uma forma geral, os metais se ligam a partículas bem mais finas que a areia, a um material mais argiloso, que os absorve. Isso exigiu o desenvolvimento de novos procedimentos laboratoriais.”

Outra questão levantada por Geraldes é que, embora não tenham tido esse propósito, as dragagens realizadas para aumentar a profundidade em diversos pontos da baía, permitindo a navegação de embarcações de maior calado, teve outros resultados. “Ao se retirar parte da areia do fundo e levá-la para lugares fora da baía, terminou-se levando junto os metais pesados ali depositados. Por um lado, isso significou a contaminação de outras áreas. Mas, por outro, também diminuiu a concentração, diluindo os níveis de contaminação”, explica o pesquisador.

O projeto já rendeu dois trabalhos – nas revistas Geochimica Brasiliensis e Journal of Geochemical Exploration, uma dissertação de mestrado na Uerj sobre essa caracterização, além de outras de mestrado e de doutorado que estão analisando a presença desses rejeitos em áreas fora da baía, como nas proximidades da Ilha Grande. “Estamos avaliando que talvez essa redução de concentração seja boa, já que, diluídos em uma área mais ampla, eles possam chegar a níveis abaixo dos considerados como contaminados segundo os órgãos ambientais”, pondera Geraldes. A equipe agora amplia sua área de estudos, fazendo o mesmo diagnóstico também na região de Paraty e Ilha Grande. “Quanto mais se conhecer a respeito de toda essa costa, mais se pode subsidiar tanto as iniciativas de preservação ambiental quanto orientar para que investimentos econômicos sejam feitos de forma mais sustentável”, conclui.

Matéria de Vilma Homero, da FAPERJ – Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, publicada pelo EcoDebate, 18/12/2012

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