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Família de propaganda de margarina, artigo de Montserrat Martins

 

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[EcoDebate] Imagem marcante é a da “família de propaganda de margarina”, feliz como todo mundo quer ser. Casal bonito e sorridente, filhos alegres brincando, pai erguendo criança nos braços no jardim quando a mãe chama com limonada, todos sentados à mesa para o café – é onde entra a margarina. Pois a foto que o Obama escolheu para comemorar a vitória (e que se tornou a mais curtida da história da internet), em que ele aparece abraçando a Michelle, também faz parte dessa categoria.

O imaginário é poderoso porque, além da felicidade ser subjetiva (não necessariamente igual ao saldo bancário), nossas escolhas são influenciadas por essas imagens que se acumulam no subconsciente. Um post no facebook ironizando “mulher esperando por esse cara sou eu, da música do Roberto Carlos” é paradoxal porque mostra a importância daquele desejo, de que exista alguém assim. A imensa maioria das famílias não parece com as de margarina, nem tem esse cara sou eu – e daí ?

Daí que essas famílias que passam na TV, até hoje, seguem um padrão bem rígido. São brancas, jovens e tem casa com belo gramado. Não lembro de uma família negra de comercial de margarina, nem na internet achei uma. Nem de um casal velho, ou pobre, se houvesse uma imagem assim filmada numa laje, certamente seria satírica. Aliás, a única variação recente no gênero, ironizando a propaganda de margarina, foi uma mais elitista ainda – uma que mostra um carro como o verdadeiro motivo da felicidade da família, ao invés do produto de passar no pão.

Mesmo quem não gosta de Obama deveria reconhecer que ele acrescenta algo novo ao imaginário popular. No Brasil, já foi recebido no Rio com cartazes “Obama go home” e uma versão feminina do cartaz, “Obama go to my home”. A foto da vitória com Michelle ainda é uma imagem de personagens jovens e ricos, mas é o primeiro casal negro que contagia o imaginário do mundo todo, como aqueles de “propaganda de margarina”, capaz de vencer uma barreira desta fantasia e mudar seu padrão racial.

Isso é importante porque padrões rígidos, esteriotipados, geram as mais cruéis injustiças. Preconceitos tornam pessoas infelizes – aos outros e a si mesmas, presas nas grades do seu isolamento elitista. A reeleição de Obama também superou barreiras, pois sem ela a primeira vitória, em 2008, seria um “acidente” eventual – pesquisas comprovam que os homens brancos americanos resistiram a votar nele, ao contrário das mulheres em geral, público onde ele venceu. O mundo amanheceu um lugar melhor, sim, e nossa imagem de “família de margarina” se tornou mais abrangente. Não sei se vou chegar a ver alguma imagem assim de casais pobres ou velhos, mesmo com tanta gente sonhando com um amor “pra toda vida”, portanto de velhinhos. E sem carros como o segredo da felicidade, please.

Montserrat Martins, Colunista do Portal Ecodebate, é Psiquiatra.

EcoDebate, 19/11/2012

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