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Débito de Extinção, artigo de Efraim Rodrigues

 

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[EcoDebate] Na semana passada um aluno usou uma expressão que não ouvia há algum tempo: Débito de extinção. Mais tarde no mesmo dia me chegou a notícia de um artigo recente na revista Science sobre o mesmo assunto. Seria porque o universo conspira ou talvez ainda mais fantasiosamente: Será que meus alunos andam atualizados com o que sai na Science semana a semana ?

De toda forma, o complexo termo débito de extinção diz respeito a uma idéia simples. Quando voce altera um habitat extingue um monte de espécies diretamente, pode ser um recife de coral como este aqui em frente ou um trecho de floresta amazônica, à qual se refere o artigo. Porém, ao longo do tempo extinguirá outras tantas espécies mais, que mesmo não tendo sido extintas diretamente, perderam espécies das quais dependiam ou suas populações ficaram tão pequenas que agora são inviáveis. O termo espécies mortas-vivas é menos científico, mas a analogia é talvez mais clara com o fato que o desmatamento tem um efeito a longo prazo além do direto, de curto prazo.

A grande mensagem deste artigo científico é que como a Amazônia ainda mantém grande parte de seu território mais ou menos conservado, a extinção de muitas espécies ainda pode ser trazida de volta da beira do abismo da extinção, que é para sempre.

O débito de extinção também pode ser comprovado nas bordas de floresta, meu interesse de pesquisa quando não estou diante de recifes de coral.

Na Amazônia, quando uma área é desmatada e se forma uma borda entre a floresta e a área aberta, morre ali um monte de árvores. É uma morte adicional e de curto prazo, da ordem de meses, às que ocorreram na área desmatada. Mas o débito não termina aí. Pelo que sabemos das bordas de floresta do Norte do Paraná, estas com mais de oitenta anos de idade, muitas espécies de árvore continuam a extinguir-se na borda porque só conseguem manter-se ali talvez por seu tamanho, mas não conseguem reproduzir-se. Então quando morrem mais que morrem, extinguem-se.

No caso destas bordas o aumento de habitat restabeleceria a reprodução de muitas espécies evitando sua extinção iminente, e isto é mais provável de ocorrer na Amazônia que nos locais onde o custo da terra é alto e já instalou-se uma agroindústria com uso intensivo de capital

Ainda é tempo de evitar na Amazônia os erros que cometemos no Sul/Sudeste, onde extinguimos antes mesmo de conhecer. Será necessário mais que artigos científicos e termos complicados para chegarmos lá.

Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br), Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Também ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva. É professor visitante da UFPR, PUC-PR, UNEB – Paulo Afonso e Duke – EUA.  http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com/

EcoDebate, 24/07/2012

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