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Mercúrio: Cientistas recomendam uso da tecnologia mercury-free no Amazonas

 

Garimpo abandonado. Foto de arquivo MMA
Garimpo abandonado. Foto de arquivo MMA

Em uma tentativa de mitigar o impacto do mercúrio na poluição dos rios, na contaminação de peixes e seres humanos na Amazônia, especialistas em garimpos recomendam a prática da mineração responsável com o uso da tecnologia mercury-free, que envolve o processo de gravimetria e o uso do cianeto no lugar do mercúrio. Tal procedimento deve ser acompanhado com a implementação de políticas educacionais nos garimpos. Consultado, o governo do Amazonas avisa que essa tecnologia requer “investimentos acima do que os pequenos garimpeiros podem arcar”.

O procedimento mercury-free vem sendo praticado pelas médias e grandes mineradoras brasileiras e internacionais, pela chamada mineração responsável, segundo o pesquisador Giorgio de Tomi, professor-associado do Laboratório de Planejamento e Gestão de Sistemas Georreferenciados, do Departamento de Engenharia de Minas e de Petróleo da Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo (USP).

Na prática, a tecnologia mercury-free é a combinação de dois procedimentos. O primeiro é o processo de gravimetria – concentração de minérios utilizando a densidade dos materiais na separação dos minerais de interesse com o uso de água e mesas vibratórias, espirais e centrífugas. O segundo é a cianetação, utilizada para dissolver o ouro e extrair o mineral a partir do minério bruto, normalmente após a recuperação do ouro livre por métodos gravíticos.

Custo-benefício – Na observação de Tomi, a tecnologia mercury-free é totalmente viável economicamente, pois seu custo-benefício é “exponencialmente” maior do que o proporcionado pelo mercúrio. Ele explica que, pelo método convencional dos garimpeiros, é possível extrair 20%, no máximo, de uma barra de ouro de 1 kg na jazida, por exemplo. Enquanto que pela tecnologia mercury-free, calcula Tomi, é possível extrair até 90% da mesma barra de ouro. Ou seja, os benefícios da tecnologia são tanto econômico como socioambiental, por ser limpa, sem risco ao meio ambiente e ao ser humano. Tomi ressalva, porém, que a tecnologia precisa ser aplicada de forma responsável. Isto é, após o processo de gravimetria, o cianeto deve ser utilizado em um contêiner fechado e depois neutralizado. Dessa forma, assegura o pesquisador, o cianeto oferece “perigo zero” na separação do ouro.

Conforme Tomi, o mercúrio é um método obsoleto na extração do ouro. Ele considera fundamental desmistificar as argumentações segundo as quais o mercúrio é a melhor opção utilizada na separação de ouro.

Outro lado – O secretário do Estado de Mineração do Amazonas, Daniel Nava, afirma que no estado existem fixadas algumas estruturas para separação gravitacional do ouro, mas essa é uma prática que requer “investimentos acima do que os pequenos garimpeiros podem arcar”.

A pesquisadora Neuma Solange de Resende, do Programa de Engenharia da Química do Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia), concorda com a viabilidade econômica da tecnologia mercury-free na separação do ouro. “É fácil e proporciona uma boa recuperação do ouro”, afirma.

Neuma lembra que a tecnologia mercury-free já é utilizada por empresas no Amazonas. “Em algumas regiões do Amazonas existem protótipos que a usam com certo grau de segurança e redução acentuada da poluição”, disse. Por outro lado, Neuma destaca que algumas mineradoras da Amazônia ainda acham que o cianeto é mais prejudicial do que o mercúrio, exatamente “por ignorância”. A pesquisadora acrescenta que o processo mercury-free é “indiscutivelmente mais limpo e seguro para o ambiente do que o mercúrio”.

“Com uso controlado, a toxidade do cianeto pode ser muito mais reduzida e localizada do que a do mercúrio. E com tecnologia e manuseio adequado, se consegue trabalhar com cianeto sem os efeitos tão danosos do mercúrio, que são incontroláveis”, aconselha Neuma.

Para facilitar a aplicação da tecnologia mercury-free nos garimpos, os especialistas, por unanimidade, consideram fundamental levar conhecimento sobre a existência de tecnologias disponíveis mais eficientes e economicamente viáveis do que o mercúrio na extração do ouro e que os garimpeiros passem por um processo educacional.

Matéria de Viviane Monteiro, no Jornal da Ciência / SBPC, JC e-mail 4532, publicada pelo EcoDebate, 05/07/2012

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