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Preconceito pode matar mais do que imaginamos, por Paulo Sanda

 

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[EcoDebate] Pelo título, talvez você tenha pensado que eu vou falar da passeata gay na Paulista no penúltimo final de semana.

Lamento decepcionar você meu amigo, vamos falar sim sobre preconceito, mas a proposta é ir mais fundo na reflexão.

Hummm, desculpem o trocadilho, juro que não foi proposital.

Sim com certeza, nada justifica a homofobia que ainda reina em nossa hipócrita sociedade, só esta hipocrisia é muito mais profunda do que podemos imaginar.

No caso do assassinato de Marcos Matsunaga, de certa forma, podemos plagiar a fala do personagem capitão Nascimento, em Tropa de Elite II, quando ele diz, que o policial não aperta o gatilho sozinho.

Veja, não estou justificando de forma alguma o assassinato do empresário por sua esposa, foi um crime, e deve ser encarado com toda lucidez como tal.

Porém, quando ouvi a defesa que ela pretende apresentar, ou seja, que ela fez tudo aquilo, pois temia que o marido tirasse dela a filha, minha primeira reação, foi que seria um argumento fraco. Ou seja, não acreditei que uma mãe teria este medo, afinal de contas a justiça ainda fica do lado da mãe geralmente. E ela não era nenhuma pobre ignorante, não acreditei que seria afetada realmente por uma ameaça tão esdrúxula.

Só que ao ouvir mais um pouco sobre o caso, repensei minha posição.

Afinal de contas, o passado dela a condenava. Ela tinha sido prostituta.

Pronto! Isto aliado ao poder financeiro do marido, realmente podem ter gerado medo nela, medo o suficiente para em um momento de fúria ou pânico, tenha disparado o tiro fatal. O que se seguiu, foram fatos cada vez mais complicantes, e não vamos discutir isto, afinal de contas, a proposta aqui, não é inocentar a Elizete Matsunaga.

Porque eu digo que ela não apertou o gatilho sozinha? Simples, caso a afirmação dela seja verdadeira, a pergunta é:

Porque raios, o fato dela ser uma ex-prostituta, faria com que tivesse medo de perder a filha? Simples, porque o preconceito desta nossa sociedade hipócrita poderia sim, levar a isto.

Levar a que? Ela perder a guarda da filha?

Isto eu não sei, não tenho conhecimento jurídico para tanto. Mas acredito que é possível uma mulher ter este medo.

O mesmo preconceito que vencemos como sociedade, ao reconhecer a união homoafetiva, mas ainda temos, em bancadas evangélicas e outras coisinhas retrógradas como a bancada ruralista, que se alia muito bem a esta outra, visto serem ambas legitimas representantes do retrocesso espúrio, que ainda carregamos.

Ufa! Depois deste rápido desabafo, deixa eu voltar ao assunto.

Volto a afirmar, não estou em hipótese alguma defendendo Elizete. A proposta aqui é somente tomarmos este triste acontecimento, a morte de um homem, duas crianças órfãs, enfim foi e continua sendo um crime. Mas podemos ir mais fundo, saber que em tudo que se passa, temos nossa parcela de responsabilidade, e mais do que condenar ou recriminar o outro, temos que nos olhar no espelho para ver o quanto está respingando em nós.

Em última análise, o mesmo pensamento puritano ou machista, seja lá o que for, que condena os homossexuais, também condena as prostitutas, sejam ainda ou ex.

Quem sabe, se conseguirmos vencer estes preconceitos, poderemos ter menos violência.

Querem uma prova que preconceito é perda para todos?

Pre = anterior, prévio

Então preconceito é conceito prévio, ou anterior, pré formado.

Prejuízo = Pre da mesma forma como, anterior ou prévio, Juizo = conceito.

Como podemos ver, preconceito será sempre um prejuízo para toda sociedade.

Paulo Sanda é Teólogo, chefe escoteiro, palestrante, idealista, associado da ONG RUAH e tem sido ativo participante das manifestações Belo Monte NÃO, em São Paulo.

EcoDebate, 18/06/2012

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