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Rio+20: Cientista defende órgão voltado a pesquisas sobre sustentabilidade. Entrevista com Gisbert Glaser

 

Rio+20

‘Rio+20 deveria propor IPCC da sustentabilidade’ – Cientista sugere criação de mecanismo de incentivo e revisão semelhante ao dos estudos de clima

As evidências científicas ainda não estão sendo incorporadas de forma efetiva nas ações em busca do desenvolvimento sustentável, e a Rio+20 deveria trazer, em seu documento final, um incentivo claro para isso. Essa é a opinião que será defendida por um grupo internacional de cientistas na conferência, de acordo com o pesquisador alemão Gisbert Glaser, do Conselho Internacional para a Ciência (ICSU).

O órgão, juntamente com a Academia Brasileira de Ciências e o Ministério da Ciência e Tecnologia, realiza entre os dias 11 e 15 de junho, na PUC do Rio, o Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável. Na entrevista a seguir, Glaser sugere que, para acelerar a transição para um futuro mais sustentável, a conferência deveria apoiar um novo mecanismo de pesquisas sobre o assunto.

Do ponto de vista da ciência, qual é o principal problema do rascunho zero da Rio+20?

Ele ainda não é muito ambicioso. Não da forma que precisaria ser para que nos próximos dez anos avancemos para um desenvolvimento sustentável. Ainda não vemos compromissos mais fortes no documento, apesar de haver uma boa quantidade de boas propostas, relacionadas à urgência de ações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, reverter a perda de biodiversidade, parar a degradação das florestas, reduzir o desperdício e a poluição de água, assim como ações mais concretas para reduzir o número de pessoas vivendo em extrema pobreza, acesso à energia e à água limpa para todos.

Muitos pesquisadores têm declarado que falta ambiente ao documento. O senhor concorda?

De fato, muitos países em desenvolvimento, mas também alguns países ricos, têm dado uma ênfase maior ao desenvolvimento econômico e social no documento final. As questões ambientais não estão fortemente refletidas. Por outro lado, o impacto das atividades humanas sobre a natureza alcançou o nível em que atingimos alguns dos limites do planeta. Estamos realmente em risco de seriamente perturbar o funcionamento de alguns sistemas naturais. Na primeira conferência no Rio, não sabíamos que isso era tão sério. Mas, 20 anos depois, sabemos que estamos atingindo os limites do planeta e isso deveria estar claro no documento como uma preocupação para governos, sociedade civil, empresas, indústrias, todos.

O ICSU diz que a Rio+20 deveria ser um marco no desenvolvimento de um novo contrato entre ciência e sociedade. O sr. acha que a ciência ainda não está sendo considerada nas discussões?

Acho que ainda não o suficiente, tantos nas discussões quanto no documento que deve resultar da conferência. Mas temos de reconhecer que, nas últimas duas décadas, os cientistas evoluíram muito em analisar os problemas. Precisamos agora que a ciência pense mais em soluções. Essa seria a chave para um novo contrato entre ciência e sociedade. A comunidade científica precisa reorientar seu trabalho. Claro que temos de continuar analisando os problemas e as consequências que devemos ter se não agirmos urgentemente e na direção correta. Mas precisamos de um novo esforço de pesquisas que busquem por soluções e implementação. Já existem várias, mas não são aplicadas ou esse conhecimento nem sequer está acessível. Acredito que um incentivo a essa busca pela comunidade científica e tecnológica deveria estar no documento. É o que vamos propor nesta pesquisa que vamos lançar no fórum, a Future Earth.

O sr. pode adiantar algo sobre o conteúdo dessa pesquisa?

Precisamos começar a olhar para os problemas de modo mais integrado. Por exemplo, para realmente transformar as grandes metrópoles. Em vez de apenas olhar para os problemas futuros das mudanças climáticas, é hora de lidar com as situações que essas cidades já enfrentam e que contribuem com as emissões de gases-estufa, com consumo dos recursos naturais, com a perda da biodiversidade. A ciência precisa ajudar a encontrar uma atuação mais integrada para os governantes e para quem está planejando as cidades. É o tipo de pesquisa para o qual deveríamos nos voltar daqui pra frente.

De que modo o sr. acha que isso deveria aparecer no documento final da Rio+20?

Nossa proposta é que o documento deveria apoiar o estabelecimento de um mecanismo global de facilitação para a ciência e a tecnologia para o desenvolvimento sustentável e a economia verde, com foco em cooperações entre Norte e Sul e entre Sul-Sul. Esse mecanismo deveria encorajar mais pesquisas e principalmente um melhor acesso e melhor aproveitamento desse conhecimento. Outra dimensão é em relação ao domínio da ciência para as políticas. Algo como o painel que existe para avaliar as pesquisas de mudanças climáticas, o IPCC. Precisamos de algo assim, que faça relatórios regulares da perspectiva do desenvolvimento sustentável.

Entrevista realizada por Giovana Girardi, em O Estado de S. Paulo, socializada pelo ClippingMP.

EcoDebate, 19/04/2012

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Alexa

One thought on “Rio+20: Cientista defende órgão voltado a pesquisas sobre sustentabilidade. Entrevista com Gisbert Glaser

  • É curioso. Os problemas planetários são tratados, sempre, ou como sendo gerados pela sociedade ou como sendo algo muito natural, não havendo, portanto, a quem responsabilizar. Este é o caso do artigo agora comentado.

    A situação de degradação socioambiental atual é, muitas vezes, minuciosamente, apresentada. Previsões futuras tambem são realizadas. Mas, apresentar o sistema capitalista como responsável por toda essa devastação, isso quase ninguem faz.

    Por que será?

    Os políticos, sabemos, são comprometidos com o sistema. Mas, e os cientistas? Bem, alguns são “comprados” pelo Estado. E os outros? Ah! Se existem esses outros, estão, tambem, fugindo das suas responsabilidades.

    Alem de diagnosticar um mal, é necessário propor um tratamento, e, para isso, é indispensável descobrir a causa do mal a ser tratado. [Pôxa, tou falando feito médico. Mas é verdade].

    Sou Arquiteto e Urbanista. De Medicina, não entendo nada.

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