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Artigo

A ‘economia verde’ na Rio+20, artigo de Mário Ramos Ribeiro

 

[Jornal da Ciência] Em junho, no Rio de Janeiro, ocorrerá a Conferencia das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20. Um dos eixos temáticos da Conferência- seguramente o mais importante – será a “economia verde”. Trata-se da primeira tentativa concreta de se discutir uma agenda econômica positiva para o planeta de modo a evitar a mudança climática e de pôr os olhos em cima do mais importante estrangulamento das ações das políticas públicas que rondam o assunto: a questão da diminuição dos elevados custos de adaptação e de transição, que economias emergentes como a nossa exigem, com o fim de evitar o “desemprego verde”.

Os dados sobre os “custos da mudança climática” – a agenda negativa – existem para qualquer tipo de imaginação; já os dados sobre os “custos de se evitar” a mudança climática – a agenda positiva – ainda carecem de bom juízo. Assim, é bem recebido o esforço do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) de lançar o “Relatório Economia Verde” (REV) com o objetivo de suprir exatamente esta inaceitável deficiência.

Ora, será que o REV consegue dar conta da missão e finalmente nos dizer quão turbulenta pode ser a nossa viagem? Aparentemente, não. Digo “aparentemente” porque o alentado REV tem mais de 400 páginas (pode ser baixada a versão completa em inglês do sítio da UNEP) e, embora bem organizado, às vezes confunde alhos com bugalhos. Sugiro quatro reflexões:

O REV é extremamente otimista quanto à possibilidade de conciliar crescimento + sustentabilidade + inclusão social. Aliás, o Relatório – infelizmente – é mais apologético do que analítico. Boa parte dessa deficiência decorre dos reducionismos metodológicos adotados pela equipe técnica que divide o mundo em países “desenvolvidos”, “em desenvolvimento” e “menos desenvolvidos”. Neste tipo de corte, algumas barbaridades, como colocar na mesma frigideira a Região Amazônica e o Estado de São Paulo, aparecem por inferência uma vez que o Brasil está entre os países “em desenvolvimento”. Tudo é muito homogêneo. Parece que para o PNUMA a capital do Brasil continua sendo Buenos Aires;

O REV não apresenta nenhuma estimativa para os custos de inclusão social embora a expressão se apresente diversas vezes ao longo do Relatório. Aliás – aqui é necessário fazer justiça ao PNUMA – o REV defende, desde o seu início, que a “Green Economy” será puxada pelo desenvolvimento. Mas não dá a receita do pudim;

O Relatório começa a ficar assustador quando se debruça sobre a agricultura e defende a retirada imediata de todos os subsídios fiscais concedidos a energia de combustível fóssil, do setor pesqueiro e diversos sub-setores da agricultura. Um período de transição e adaptação, nem pensar;

O REV confunde fluxo e estoque no esforço de persuadir que a “economia verde” opera com mais eficiência do que a economia atual (“business as usual” – BAU, no jargão da ONU). Um erro primário em teoria econômica. Afirma que “a escala de financiamento requerido para a transição rumo à economia verde é substancial, mas em ordem e magnitude bem menor do que o investimento global” (sic), e prossegue “… neste sentido é importante notar que os 2% de investimento em relação ao Produto Interno Bruto (outra linearização!) global é uma fração da formação de capital bruta total, cerca de 22% do PIB mundial em 2009” (sic). É simplesmente inacreditável! A formação de capital bruta é saldo final de investimentos acumulados (estoque). É elementar que o investimento inicial (os 2%) seja uma fração do saldo que ele ajudará a formar ao longo do tempo. Trata-se de um truísmo. Não tem como ser diferente;

Em economia não existe almoço grátis. Alguém sempre está pagando. É um equívoco cruel pretender convencer os países emergentes de que não existem elevados custos de transição, para sairmos da “economia marrom” e tingirmos a condição de “economia verde”. Sem transferência de recursos financeiros e tecnologia para o lado de baixo do equador o “desemprego verde” virá. Infelizmente.

Mário Ramos Ribeiro é doutor em economia pela USP, docente da UFPA e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa).

Artigo publicado e socializado pelo Jornal da Ciência/SBPC, JC e-mail 4432

EcoDebate, 08/02/2012

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2 thoughts on “A ‘economia verde’ na Rio+20, artigo de Mário Ramos Ribeiro

  • Vicente Lassandro Neto

    Prezado Mário Ramos Ribeiro e Demais Leitores.

    Há um enorme equivoco permeando a consciência das pessoas quando o assunto é Meio Ambiente e Energia e este engano é resultante do fato das pessoas examinarem o meio ambiente com olhos benevolentes e contemplativos. Quando se examina o meio ambiente com olhos não benevolentes e não contemplativos as conclusões são, diametralmente, opostas a tudo aquilo que se diz e escreve. Senão vejamos:

    1 – A vida na Terra, na sua forma atual, vai acabar por falta de gás carbônico e não há solução. Florestas e Plantas antecipam este final.

    2 – Petróleo não acaba. É impossível aos seres humanos, independente do número deles, consumir todo o petróleo existente no interior da crosta terrestre e a queima de seus derivados, além de gerar trabalho, envia gás carbônico para a atmosfera o que contribui para postergar o fim da vida.

    3 – AQUECIMENTO GLOBAL EXISTE. É um fenômeno natural e, por ser natural, nada se pode fazer, nem contra e nem a favor.

    4 – “EFEITO ESTUFA” NÃO EXISTE. É uma falsa e conveniente invenção dos humanos dos países, industrializados, desenvolvidos e ricos. E por ser falso, a única coisa que se pode fazer é, a bem da humanidade, esquecê-lo.

    5 – Assim sendo, é SUICÍDIO COLETIVO medidas propondo a preservação das florestas, dos animais e a prática das economias de BAIXO CARBONO.

    A melhor maneira de proteger as florestas é ignorá-las e derrubá-las, sem temor, quando for necessário, construir estradas, fazer pastos, plantações, usinas hidrelétricas e outras atividades que gerem trabalho, lembrando que o interesse de poucos não pode se sobrepor aos interesses da coletividade.

    Quanto aos animais é deixar valer a maior lei da natureza que é a Lei da Sobrevivência dos mais aptos. O grande come o pequeno, o ligeiro como o vagaroso e o mais criativo como o de menor criatividade. Se há uma espécie que precisa de proteção ela é, extamente, a espécie humana, a mais deteriorada e prostituída de todas elas e ela quer, incompetentemente, proteger as demais. É UM ABSURDO.

    Atenciosamente

    Vicente Lassandro Neto
    GEÓLOGO, ECOLOGISTA, Engenheiro em Petróleo, Engenheiro em Segurança no Trabalho, Naturista e Enófilo

    Telefones no horário de Trabalho – 08:00 até 18:00 horas
    Sistema Nacional – 0XX71 3348-4252

    À LUZ DOS ATUAIS PARADIGMAS, SE TENTAR MELHORAR, COM CERTEZA, ESTRAGA – Vicente L. Neto.

    À LUZ DE NOVOS PARADIGMAS, SEM TENTAR MELHORAR, COM CERTEZA, MELHORA – Vicente L. Neto.

    E, PARA OS CONVICTOS, A UTOPIA É VIÁVEL – Vicente L. Neto

    “A BELEZA E A VITALIDADE SÃO PRESENTES DA NATUREZA PARA AQUELES QUE VIVEM AS SUAS LEIS” Leonardo da Vinci.

    “SE, A PRINCÍPIO, A IDEIA NÃO É ABSURDA, NÃO HÁ A MENOR CHANCE PARA ELA” Albert Einstein.

  • Marcio A. A. Braga

    Caro Sr.Vicente,

    Na sua visão a Terra é plana e sua superfície é infinita.

    Informo ao Sr. que nós humanos já detectamos evidências de que a Terra é redonda e sua superfície é FINITA.

    Abraços vigorosos.

Fechado para comentários.