EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

Os benefícios dos agrotóxicos no ‘Mundo de Veja’, artigo de Flavia Londres

 

“A revista Veja afirma que chamar os venenos da agricultura de “agrotóxicos” seria uma imprecisão ultrapassada.”

[Radioagência NP] A revista Veja publicou uma matéria buscando “esclarecer” os brasileiros sobre os alegados “mitos” que vêm sendo difundidos sobre os agrotóxicos desde a divulgação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), dos dados Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos referentes ao ano 2010. A revista se propõe a tranquilizar a população, certamente alarmada pelo conhecimento dos níveis de contaminação da comida que põe à mesa.

Os entrevistados na matéria são conhecidos defensores dos venenos agrícolas, alguns dos quais com atuação direta junto a indústrias do ramo – como é o caso do Prof. José Otávio Menten, que já foi diretor executivo da ANDEF (Associação Nacional de Defesa Vegetal), que reúne as empresas fabricantes de veneno.

A revista afirma que chamar os venenos da agricultura de “agrotóxicos” seria uma imprecisão ultrapassada e injustamente pejorativa, alertando os leitores que “o certo” seria adotar o termo “defensivos agrícolas”. Não menciona que a própria legislação sobre a matéria refere-se aos produtos como agrotóxicos mesmo.

A Veja passa então para a relativização dos resultados apresentados pelo relatório do Programa de Análise, elaborado pela Anvisa, fundamentalmente minimizando a gravidade da presença de resíduos de agrotóxicos acima dos limites permitidos. Para isso, cita especialistas alegando que os limites seriam “altíssimos”, e que, portanto, quando “um pouco ultrapassados”, não representariam qualquer risco para a saúde dos consumidores.

A verdade é que a ciência que embasa a determinação desses limites é imprecisa e fortemente criticada. Evidência disso é o fato de os limites comumente variarem ao longo do tempo – à medida que novas descobertas sobre riscos relacionados aos produtos são divulgadas, os limites tendem a ser diminuídos. Os limites “aceitáveis” no Brasil são em geral superiores àqueles permitidos na Europa – isso pra não dizer que aqui ainda se usa produtos já proibidos em quase todo o mundo.

A revista também relativiza os riscos de longo prazo para a saúde dos consumidores, bem como os riscos para os trabalhadores expostos aos agrotóxicos nas lavouras. Mesmo diante de tantas provas, a Veja alega que, não haveria comprovações científicas nesse sentido.

A reportagem termina tentando colocar em cheque as reais vantagens do consumo de alimentos orgânicos, a eficácia dos sistemas de certificação e mencionando supostos “riscos” do consumo de orgânicos. A revista alega que esses alimentos “podem ser contaminadas por fungos ou por bactérias como a salmonela e a Escherichia coli.” Só não esclarece que, ao contrário dos resíduos de agrotóxicos, esses patógenos – que também ocorrem nos alimentos produzidos com agrotóxicos – podem ser eliminados com a velha e boa lavagem ou com o simples cozimento.

Da revista Veja, sabemos, não se poderia esperar nada diferente. Trata-se do principal veículo de comunicação da direita conservadora e dos grandes conglomerados multinacionais no País. Mas podemos destacar que a publicação desse suposto “guia de esclarecimento” revela que o alerta sobre os impactos do modelo da agricultura industrial está se alastrando e informações mais independentes estão alcançando mais setores da população – ao ponto de merecerem tentativa de desmentido pela Veja e pela indústria.

Flavia Londres é engenheira agrônoma e consultora da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.

Artigo socializado pela Radioagência NP e publicado pelo EcoDebate, 20/01/2012

[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Alexa

7 thoughts on “Os benefícios dos agrotóxicos no ‘Mundo de Veja’, artigo de Flavia Londres

  • Não duvidaria que uma dessas empresas de agrotóxicos e trangênicos tivesse colocado a escherichia coli mutante e letal nos brotos, ano passado.

  • Se eles propuserem que cada pessoa ingira, deliberadamente, uma dose diária de “defensivo agrícola”, não se surpreenda. Eles não estão nem aí para a saúde dos seres humanos, nem das outras espécies, nem do Planeta.

  • O que me espanta, diante das informações e da postura tão defensiva dos agrotóxicos – compreensível pelos liames sistêmicos da economia e da intelectualidade pseudo-científica, é que mesmo sob as notícias dos males causados pelos “defensivos agrícolas” (pesticidas, herbicidas, inseticidas, biocidas, e tantos “cidas” mais) nosso país continue infestado desses pulgões humanos que não se importam com as conseqüências sobre a vida do povo e apenas com seu esquema de fluxo de riqueza na “exploração” (literalmente) dos povos em benefício de um segmento de ciência sem ética em que os resultados desejados (nem sempre éticos e bons) justificam as mentiras e a enganação. São muitas as falácias da tecnologia de ponta na área de produção de alimentos. Tudo o que é veneno ou causa de doença degenerativa, ou de morte, principalmente quando sujeito ao processo acumulativo e fatal, na verdade, não deveria mesmo nem ser permitido usar ou até de existir (os inventados, criados pelos laboratórios das “multi e bigs” da agricultura, alimentos e remédios). É de espantar que os representantes do povo, na gestão dos interesses públicos do pais se calem, não reajam, não façam nada, deixem de tomar providências, como deveriam. Vejamos sim, com certeza que, por ser facciosa, a VEJA não merece tanto crédito assim em suas matérias. Ruim para o povo, pior para o país. Bom para eles, os interessados na irresponsabilidade social e nos desmandos de mercado e de práticas agrícolas. Também, com Belo Monte prosseguindo ao poder do abuso do direito, e do descaso da razão, com uma Angra III na pauta, na contramão da consciência mundial, vamos esperar o que senão que venha a COPA e que cheguemos até as OLIMPÍADAS, vivendo um eterno Carnaval para esquecer as mágoas e viver falsas alegrias e “realizações”. Já disse aqui e repito: Cada vez mais me convenço de que Deus não é brasileiro!

  • Defensivo não, “ofensivo agrícola”. O Brasil é o maior produtor de picaretas naturalmente industrial.

  • Joâo dos Santos

    Na minha opinião, tanto o texto, quanto os comentários estão cheios de opiniões levianas, resultado de reflexão preguiçosa e superficial. Isso não contribui, de fato, com o debate sobre as necessidades de produção de alimentos no Brasil e no mundo. Informo que trabalho no campo há 26 anos. Conheço e apoio projetos tanto convencionais, quanto agroecológicos.

  • marcos lucas Ranier

    O suposto Prof. José Otávio Menten, que já foi diretor executivo da ANDEF (Associação Nacional de Defesa Vegetal) não deve ser tratado como professor mas como criminoso. Vale-se da ciência para propagar falsidades. Certamente deve comer muito na mão da Monsanto, da Bungle e demais “empresas da miséria e da morte”. Esses crimes devem ser configurados como piores que os crimes de guerra porque matam mais e silenciosamente. Que o sangue de tantos que já morreram e que ainda morrerão por culpa dessas ações insidiosas de propagação de benefícios de venenos RECAI NA CABEÇA DE TODOS ESSSES ARAUTOS DOS AGROTÓXICOS. Os legisladores devem atentar para isso e aplicar sanções rigorosas a esses crimes de lesa-humanidade. Quanto à VEJA, já se sabe de suas relações incestuosas co grupos eonômicos poderesos como neste caso. Boicote na VEJA!!!
    Será que eles comem com metamidofós e outros congêneres? Será que comem organismos transgênicos da MONSANTO? gOSTARIA DE SABER!!!

    Lucas Ranier

  • wagner terra silveira

    Excelente artigo e uma conclusão absolutamente perfeita, em minha opinião:

    “[…]a publicação desse suposto “guia de esclarecimento” revela que o alerta sobre os impactos do modelo da agricultura industrial está se alastrando e informações mais independentes estão alcançando mais setores da população[…]”

    Gostei muito do site!

Fechado para comentários.