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Artigo

Uma ética da responsabilidade ambiental para toda a terra, artigo de Enzo Bianchi

 

Uma ética da responsabilidade ambiental para toda a terra

É necessária uma ética da responsabilidade que se preocupe com o futuro da espécie humana e da Terra. Se, tempos atrás, a responsabilidade significava responder pelos próprios atos passados e presentes, agora ela também o é para com o futuro do planeta e do universo.

A opinião é do monge e teólogo italiano Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, publicado na revista italiana Jesus, 10-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o artigo.

Depois de séculos em que a natureza era mais forte do que a humanidade, e o homem tinha que se defender dela, hoje é justamente o ambiente que se tornou frágil, muitas vezes vítima do homem, a tal ponto que o homem agora, com o seu poder nuclear, é capaz de destruir a Terra. Então, nos tornamos, no maior grau, responsáveis pela Terra e pelo nosso poder: sob essa ótica, o mais difícil é não ceder ao excesso e à desmesura. O desafio ético nos pede que adquiramos o domínio do nosso poder técnico-científico, pondo um limite às nossas ações e aos nossos projetos e reconhecendo que existem direitos da natureza, do ambiente, de todos os nossos coinquilinos sobre o planeta.

É preciso dar esse passo no nível da consciência social, até expressar esses direitos mediante instituições e legislações jurídicas. E, se o ambiente é titular de direitos, nós, humanos, temos deveres, uma responsabilidade específica que, se não for assumida ou violada, nos torna transgressores da lei necessária para o habitar a Terra, para o construir um mundo mais sinfônico e mais bonito.

Portanto, é necessária uma ética da responsabilidade que se preocupe com o futuro da espécie humana e da Terra. Hans Jonas assim a formulou: “Age de modo que as consequências da tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma autêntica vida humana sobre a Terra”. Se, tempos atrás, a responsabilidade significava responder pelos próprios atos passados e presentes, agora ela também o é para com o futuro do planeta e do universo. É o futuro em que os habitantes da Terra serão as novas gerações, os nossos filhos, os nossos netos, que requer a minha responsabilidade hoje, porque hoje o homem pode destruir a Terra: desse poder, nascem obrigações e deveres.

Assim como chegamos a elaborar um “contrato social”, assim também hoje devemos ir além do social e do político para elaborar um “contrato natural”, um contrato com o ambiente! Isso sem nunca se esquecer de que questão ecológica e questão social são dois aspectos da mesma desordem provocada por nós, dois frutos da mesma vontade de poder, da mesma exploração que não conhece deveres nem limites, do mesmo hedonismo que pensa só em si mesmo, sem os outros e contra os outros.

Quando se chega a tratar as pessoas só em função da sua capacidade de produzir e de possuir, também se acaba tratando a natureza e os seres vivos só em função de sua possível exploração, do seu valor de mercado…

Mas, ao lado da responsabilidade, há uma outra necessidade para uma ética respeitosa da Terra: a sobriedade. Palavra detestada, muitas vezes ridicularizada, mas hoje estamos mais conscientes do que nunca do fato de que os recursos da Terra não são infinitos, que o desenvolvimento não está em constante crescimento, que a produção não é ilimitada, que o consumo não pode ser desenfreado. Por isso, é preciso retornar a essa palavra atestada com grande frequência na Regra de Bento: mensura, medida. Medida dos alimentos, do consumo, do tempo livre, do trabalho… Medida, isto é, sobriedade, moderação, atitudes por meio das quais nós, humanos, reconheçamos o nosso limite de terrestres. Medida, em sentido ecológico, significa abandonar as pretensões não relacionadas às necessidades fundamentais, mas induzidas ou até impostas como exigências alienantes da sociedade do consumo.

É preciso que nos libertemos dos desejos supérfluos para adquirir também uma capacidade crítica, uma liberdade, e não nos deixarmos curvar às demandas prepotentes do mercado. Às vezes também é preciso uma renúncia ou, para usar outro termo banido da nossa linguagem, um sacrifício, isto é, a disponibilidade de nos privarmos de alguma coisa, no caso de que a nossa satisfação passageira provoque dano ao ambiente e às criaturas com as quais somos coinquilinos, a outras pessoas ou a outros povos.

Integrar a nossa situação no mundo é fundamental para conhecer a nossa identidade terrestre e para saber viver a nossa relação com a terra, este “terceiro satélite de um sol destronado da sua sede central, que se tornou astro-anão errante entre bilhões de estrelas em uma galáxia periférica de um universo em expansão” (Edgar Morin). A Terra é o único planeta sobre o qual, pelo menos por enquanto, sabemos que existe essa espécie de animais biológicos, mas também seres culturais, os animais humanos: humanos no sentido de que o homem não é plenamente realizado se não pela cultura e na cultura; humanos no sentido de que eles sabem se sentir responsáveis pelos outros coinquilinos animais, vegetais e minerais, responsáveis por todos; humanos porque são capazes de com-paixão, de sofrer com esta Terra, capazes de sim-patia com todas as criaturas; humanos porque adaptados para habitar a Terra, procurando e buscando a paz: uma paz não só entre homens, mas cósmica, isto é, a “shalom”, a vida plena para toda a Terra.

(Ecodebate, 21/10/2011) publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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2 thoughts on “Uma ética da responsabilidade ambiental para toda a terra, artigo de Enzo Bianchi

  • Na temática: Uma éttica da responsabilidade ambiental para toda a terra (ENZO BIANCHI). Postado em 21/10/2011, por HC, no site EcoDebate: Cidadania & Meio Ambiente. Todas as palavras expressadas neste artigo pelo seu autor, o Senhor Monge ENZO; já não são mais termos novos; são como uma oração de súplica que se tem arrastado por décadas e décadas no mundo todo. E o que se vê não é nada agradável – até parece que “algumas comunidades” globais perderam o juízo e o bom senso. E nem mesmo diante de tantas evidências catastróficas têm sensibilizado esses povos que não abrem mão de seus prazeres em sempre querer mais e mais poderes e confortos a qualquer preço. Com referência ao conhecimento teórico dos riscos em que se encontra o PLANETA TERRA; é sabido que esforços didáticos têm sido efetuados – mas na prática se observa que só a educação não vai resolver mudanças significativas nem a longo prazo. Só há uma maneira de se REVERTER esse quadro dramático : se é por causa do dinheiro que a humanidade enlouquece e ganha status e poder; então, deverá ser pelo próprio dinheiro que os obrigará a se acalmar (sensibilizar) de fato pelas cobranças legais pelos estragos já realizados. Só um exemplo “milimetrar”: as famílias, no Brasil, que são beneficiadas com BOLSA-FAMÍLIA, usam o próprio dinheiro doado pelo governo (…), adquirem mais produtos industrializados (resíduos) e simplesmente os atiram pela porta a fora (…). Fácil de resolver: basta incluir nas cláusulas da contrapartida, ou seja, além dos deveres que já lhes são imputados, acrescentar mais este para as famílias “reciclarem os seus resíduos sólidos” e destiná-los ao órgão público que os recebam como forma de responsabilidade ambiental. Caso contrário, perderão o direito à Bolsa-família. Rapidinho, o prolema se reduziria em milhares de toneladas de lixo a céu aberto. E por aí, quem sabe esse povo aprende a lição de casa. Este comentário será colocado na sua íntegra no meu endereço anabiorosatoosecbr.blogspot.com Ana Lourenço da Rosa / Porto Nacional/Tocantins/Brasil.

  • SAIBA como garantir uma substituição à CARNE VERVELHA – postado por HC no ECODEBATE -Cidadania & Meio Ambiente, em 15/08/2011. Segundo HC, a carne vermelha é rica em colesterol e gorduras saturadas. E, portanto, está associada a doenças cardiovasculares, diabetes e até cânceres. Apesar de todos esses riscos ela não pode ser eliminada erroneamente; pois é uma fonte inestimável de FERRO e PROTEÍNAS para todos os organismos – funcionarem dentro do seu padrão necessário (vital).Para substituí-la é preciso consumir alimentos ricos em ferro, proteínas e a vitamina B12. Alguns alimentos que podem substituir a carne vermelha: o FEIJÃO SOJA e seus derivados, é um dos principais vegetal que fornece o ferro, os aminoácidos (proteína) e vitaminas. Outros: frango, peixe, ovo, leite e seus derivados. Os vegetais verdes-bem-escuros são os mais indicados.Para enriquecer esse cardápio, nas minhas pesquisas da NUTRACÊUTICA, acrescento o MILHO (in-natura e/ou seus derivados); e todas as espécies de BANANAS e seus produtos derivados. E o açúcar MASCAVO, como SOBREMESA com frutas, exceto aos diabéticos. Esta dieta, sem exagero nas porções (…), o resultado é na certa a longevidade almejada por todo ser humano de juízo!Já tenho 67 anos! Faço uso dessa dieta desde 1973! Está valendo a pena! Tenho uma FICHA-LIMPA na Carteira de Saúde do IDOSO do SUS! Ana Lourenço do Rosa/ Porto Nacional/ Tocantins- BRASIL.

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