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Artigo

Occupy Wall Street e manisfestações de 15/10: V de ‘vamos ver’, artigo de Montserrat Martins

 

[EcoDebate] Banco é um lugar que te empresta dinheiro se você provar que não precisa dele, já dizia o Barão de Itararé. Os manifestantes do “Occupy Wall Street” resolveram fazer algo a respeito e estão sendo seguidos em mais de 100 cidades dos Estados Unidos, o que é um fato novo para uma população habitualmente consumista, conservadora e alienada das questões políticas. Um padrão de comportamento do qual os americanos se desviaram em poucos momentos de sua história, tais como as manifestações contra a guerra do Vietnam ou pelos direitos civis, que culminaram com o célebre discurso de Martin Luther King, “I have a dream”.

O que querem, agora, movimentos que usam máscaras do “V de Vingança”? Vamos começar pelo cenário no qual eles surgiram. A surpreendente eleição de Obama vem sendo obscurecida pelas pressões dos conservadores que “embretaram” as possibilidades de reformas sociais autênticas naquele país. Um exemplo absurdo disso ocorreu ainda em 2008, após o aporte de dinheiro público a vários bancos para evitar a falência, quando alguns meses depois tais instituições financeiras deram bônus generosos para os mesmos executivos que os levaram à insolvência. Se o dinheiro vem do Estado, os executivos deveriam estar focados no interesse dos contribuintes, não nos próprios. Mas a intervenção do Estado na economia é “vendida” para o americano comum como um sinal de “socialismo”, uma ameaça à liberdade dos americanos, o medo mais instigado tanto lá como aqui.

“Ocupe Wall Street ainda não mostrou objetivo claro”, título de matéria de página da Folha de S.Paulo, parece reproduzir esse medo, ilustrado com uma foto dos líderes mascarados, iguais ao anarquista do filme. Dizer que manifestantes “não tem objetivos claros” também poderia ser a manchete de um jornal pró-governo sírio (apoiado por cubanos e venezuelanos) questionando seus opositores, como fizeram todos os governos acossados pela “primavera árabe”.

Os conservadores – quer se digam de “direita” ou “esquerda” – só gostam de mobilizações populares quando elas ocorrem em outros países, ou contra os seus desafetos políticos. Pregam o medo da “anarquia” que no imaginário popular é o caos, a desorganização social ou o mero terrorismo político – aliás, o “V de Vingança” é um belo esteriótipo do tipo, tão infantil quanto os “Piratas do Caribe”, personagens de filmes com propósitos meramente comerciais.

Enquanto teoria política, o autonomismo tem vultos como Proudhon, cientista político minucioso que propunha uma democracia radical através da autogestão, que alguns poucos países “ensaiaram” toscamente (Iouguslávia, Polônia), sem êxito até hoje. Ao mesmo tempo, questionamentos autonomistas contra todas as formas de autoritarismo já influenciaram várias transformações sociais, com a criação de práticas participativas e de descentralização administrativa. Isso inclui as idéias municipalistas, sempre no sentido de valorizar o poder local, mais próximo dos contribuintes. Frutos da justificada desconfiança na burocracia estatal, impulsionam mudanças que conferem algum grau de autogestão em várias esferas da sociedade e que estão se impregnando também na nossa cultura.

Pois se alguns tem medo de mobilizações, outros tem medo é dos burocratas. Desafiando o “status quo” que não quer mudar e instiga o medo do caos na população, o V dos rebeldes é o V de “vamos ver” no que isso vai dar.

Montserrat Martins, colunista da EcoDebate, é Psiquiatra.

EcoDebate, 17/10/2011

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