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Multinacional é acusada de extrair ouro entre Argentina e Chile sem controle público

 

Fontes oficiais indicam que as jazidas de ouro se encontram no lado chileno, basicamente desértico, enquanto a água necessária para lavar a terra está 90% no lado argentino

Nos cumes dos Andes, entre a província argentina de San Juan e a 3ª Região do Chile, há um “terceiro país virtual” de 340.835 hectares regido pelo Tratado Binacional de Integração e Complementação Mineira, que permitiu entre outras coisas a instalação do grande centro mineiro a céu aberto chamado Pascua Lama, da multinacional Barrick Gold, dedicado à extração de ouro. Segundo o deputado Miguel Bonasso, que preside a Comissão de Recursos Nacionais e Conservação do Ambiente Humano do Congresso argentino, existe um acordo fiscal secreto entre os dois países que beneficia a Barrick, permitindo que a mineradora utilize quantidades cada vez maiores de água das bacias argentinas a um preço irrisório e sem controle sobre as quantidades de ouro extraídas nem a quantidade de cianeto – substância imprescindível para a lavagem do ouro – que fica acumulada. Reportagem de Soledad Gallego-Díaz, em El País.

As acusações de Bonasso foram rejeitadas pelos dois governos, mas contam, na parte relativa ao uso da água, com o apoio de importantes organizações ambientalistas.

Bonasso apresentou em Buenos Aires um livro intitulado “El mal. El modelo K y la Barrick Gold” [O mal. O modelo K e a Barrick Gold], no qual afirma que o acordo assinado em 2009 por autoridades dos dois países é um “traje sob medida” para a multinacional presidida por Peter Munk, o magnata canadense de 84 anos nascido na Hungria que fundou e preside a maior mineradora do mundo. “Nesse acordo tributário, assinado pelo secretário da Fazenda Juan Carlos Pezoa, a Argentina aceita receber só 25% dos impostos porque no Chile a pressão fiscal sobre as mineradoras é a metade da existente na Argentina”, explicou em uma entrevista coletiva realizada em Buenos Aires.

Fontes oficiais indicam que as jazidas de ouro se encontram no lado chileno, basicamente desértico, enquanto a água necessária para lavar a terra está 90% no lado argentino. Por isso existe um tratado binacional. A terra é extraída do setor chileno, explica Bonasso, e enviada para a Argentina através de um túnel, onde é lavada com milhões de litros de água e diversos produtos, entre eles o cianeto. Uma vez separado o ouro, volta a ser enviado para o Chile. “A água contaminada pelo cianeto fica na Argentina, em um fosso de mais de 300 hectares e 400 metros de profundidade”, afirma o deputado, que garante que além disso o preço de venda é inferior ao que um cidadão de San Juan paga por seu suprimento familiar.

A mina de Pascua Lama deu origem a protestos e denúncias de organizações ecológicas, especialmente o Greenpeace, que acusa a companhia de impedir a aplicação da nova Lei de Glaciares. A multinacional nega de forma taxativa que suas atividades prejudiquem as geleiras da região, mas segundo explicou Bonasso depois da aprovação da nova lei apresentou um recurso de amparo nos tribunais de San Juan para impedir a aplicação das novas normas e a vigilância estrita de suas atividades. O recurso foi aceito e a lei não se aplica por enquanto nessa província, caracterizada pelo grande apoio que suas autoridades dão às atividades mineiras. O deputado denunciou nos tribunais o governador de San Juan, José Luis Gioja; seu irmão, o senador César Gioja, e o secretário argentino das Minas, Jorge Mayoral, por tráfico de influência.

Segundo o deputado argentino, a Barrick Gold poderia ganhar em Pascua Lama não menos de US$ 30 bilhões, dada a atual cotação nos mercados internacionais. “No ano passado a Barrick registrou o ano mais rentável de sua história, com um lucro próximo de US$ 3,3 bilhões”, escreve.

A multinacional, um de cujos diretores é o venezuelano Gustavo Cisneros, e que contratou recentemente o ex-primeiro-ministro espanhol José María Aznar como membro do conselho assessor, tem 26 minas em exploração em diferentes países e as maiores reservas de ouro do mundo. Segundo seus dados, para 2011 prevê produzir entre 7,6 e 8 milhões de onças, a um custo líquido de US$ 340 a 380 a onça. A cotação do ouro subiu recentemente para US$ 1.652 a onça.

Em seu livro, Bonasso afirma que a Barrick, estreitamente vinculada ao ex-presidente americano George Bush pai e a toda a família, esteve envolvida com o conhecido homem de negócios e traficante de armas saudita Adnan Khashoggi e no escândalo da venda de armas para o Irã em troca de ajuda para os Contras da Nicarágua em 1987.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Reportagem de El País, no UOL Notícias.

EcoDebate, 10/10/2011

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