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Notícia

No Ártico, o segundo buraco de ozônio

 

No Ártico como também no Polo Sul: culpa de um inverno muito rígido na estratosfera e dos compostos de cloro e flúor.

A reportagem é de Elena Dusi, publicada no jornal La Repubblica, 03-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Uma “destruição sem precedentes”, que na última primavera “atingiu níveis semelhantes aos da Antártida”. Pela primeira vez, “podemos falar oficialmente de um buraco de ozônio também na região do Ártico”.

A revista Nature batizou assim o novo “rasgo” na coberta que nos protege das radiações ultravioletas: um buraco cinco vezes maior do que a Alemanha. Na primavera de 2011, por quase um mês, no Polo Norte, abriu-se um buraco de ozônio gêmeo do outro no Polo Sul. Com a diferença de que o excesso de radiação ultravioleta em torno ao Ártico atingiu os seres humanos que vivem nas regiões setentrionais da Europa, Ásia e América.

No dia 5 de abril de 2011, a Organização Meteorológica Mundial havia lançado efetivamente o alerta para um excesso de raios ultravioletas nos países escandinavos. “Em caso de valores muito altos de UV – lia-se no comunicado – poderiam bastar poucos minutos de exposição ao Sol, mesmo em abril, para se ficar queimado”. E um leeve excesso de ultravioletas (mesmo longe de serem perigosos) também foi medido naqueles dias pelos aparelhos do Instituto de Ciências Atmosféricas e do Clima do CNR em Bolonha.

“Os valores em Bolonha permaneceram insolitamente altos por alguns dias. Na nossa estação de Lampedusa, as medições, ao contrário, eram normais”, explica Vito Vitale, pesquisador do Instituto.

As suspeitas desta primavera foram confirmaram agora, com o estudo da Nature coordenado pelo Instituto Alfred Wegener para a Pesquisa Meteorológica e Polar, de Potsdam, que reúne os dados dos satélites e de 30 estações situadas acima do Círculo Polar Ártico. O que provocou o ano horrível do ozônio no Polo Norte foram um inverno particularmente frio na estratosfera e os compostos de cloro e flúor que irão sobreviver por algumas décadas depois da proibição imposta pelo Protocolo de Montreal, assinado em 1987 e que entrou em vigor em 1989.

Na faixa de atmosfera compreendida entre 18 e 20 quilômetros, o desaparecimento do ozônio atingiu até 80%: só uma em cada cinco moléculas sobreviveu à primavera, a estação em que se concentra o processo químico da destruição desse gás. “O fenômeno começou em janeiro, depois se acelerou a tal ponto que as concentrações de ozônio atingiram níveis muito mais baixos do que no ano anterior”, explica Gloria Manney, do Jet Propulsion Laboratory da Nasa, primeira autora do estudo. “O pico mínimo foi registrado durante 27 dias entre março e o início de abril em uma superfície de cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados”.

Um empobrecimento semelhante, observam os pesquisadores, era típico do céu acima da Antártida antes do Protocolo de Montreal. Mas a quantidade de clorofluorcarbonetos na atmosfera é só um dos fatores em jogo. O outro ingrediente é o frio. A cerca de 77 graus abaixo de zero, de fato, desencadeiam-se as reações químicas que levam os compostos de cloro e de flúor a agredir o ozônio. Enquanto na Antártida essas condições se prologam por 4-5 meses por ano, no Polo Norte, mais suave, o frio extremo dura 2-3 meses.

Não foi isso que aconteceu no início de 2011, quando a temperatura permaneceu abaixo do limite perigoso durante quatro meses (de dezembro até o fim de março), criando aquela que os pesquisadores hoje definem como “uma condição sem precedentes” e “paralela à que é medida na Antártida”. Outras estações cinzas para a “coberta” do Polo Norte haviam sido registradas em 2005, em 2000 e em 1996. “Mas nesses anos a destruição do ozônio havia sido incomparavelmente inferior do que em 2011”. Neste ano, a perda de gás foi quase o triplo com relação a 1997 e comparável à registada na Antártida em 1985, ano em que a existência de um buraco de ozônio foi denunciada pela primeira vez no mundo.

‘As mudanças climáticas vão aumentar ainda mais o buraco de ozônio na Antártida’

Para Michael Colacino, que coordenou as medições na Antártida, com o Protocolo de Montreal, só foi enfrentado até agora o lado químico do problema.

A reportagem é de Elena Dusi, publicada no jornal La Repubblica, 03-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“O Protocolo de Montreal interveio no lado químico do problema. Mas o climático ainda está em aberto”, explica Michael Colacino, que foi diretor do Instituto de Física Atmosférica do CNR e coordenou até o ano passado as medições feitas na Antártida.

Eis a entrevista.

Por quanto tempo permanecerão ativos os gases que destroem o ozônio?

A ação de destruição do cloro na atmosfera pode durar 30 ou 40 anos. Por isso, na época de Montreal, previa-se que a quantidade de ozônio na Antártida voltariam ao normal em torno de 2020-2025. Hoje, porém, esse prazo foi postergado para não antes de 2050. E aqui intervém o discurso sobre as mudanças climáticas.

Os autores da Nature evitam entrar nesse assunto.

Mas a temperatura é um fator determinante, porque a destruição do ozônio é possibilitada pelo frio intenso que é registrado nas nuvens estratosféricas polares. E sabemos muito bem que, quando a temperatura aumenta nas camadas baixas da atmosfera, por razões de equilíbrio radioativo, deve diminuir nas camadas altas.

(Ecodebate, 06/10/2011) publicado pela IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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